Com intenso comprometimento, o ator e cineasta brasiliense João Campos, que, num primeiro momento, já foi jornalista, segue colado ao cotidiano, como indica o mais novo curta dele, Via sacra. "Todo o trabalho que tento fazer está ligado à nossa realidade. No Brasil, na cidade e no mundo. Não me imagino desprendido, historicamente, nos terrenos social, cultural e político", conta o artista, em entrevista ao Correio. Na persistência de coletivizar a experiência de criar para o cinema e de socializar conteúdos a serem debatidos, João emplacou o curta Via sacra na seleção do Festival de Gramado, organizado para agosto. "Representar o cinema do DF me deixa muito feliz. Cada filme que vai para outros Estados atrai os olhares para a gente, enquanto classe", diz.
Representar a diversidade e mapear caminhos construtivos está na meta de Via sacra, que debate a violência policial e o racismo. "O filme é sobre a agonia de uma espera decorrente de comunicado urgente. Uma personagem negra, pela tevê, observa um relato de sensacionalismo que trata de preconceito. Nisso, ela se deslocará, de ônibus, num grande plano-sequência, sem corte algum de imagem. Foram quase 13 minutos, com inclusão de 40 figurantes. A Gleide Firmino (atriz que protagoniza) é um furacão, uma atriz muito potente", observa o ator, popular em novelas como A lei do amor (2017) e Cara e coragem (2022).
Finalizado em março, Via sacra teve dois dias de ensaios, em setembro de 2023, e, para as filmagens, num fim de semana, o Detran fechou parte da L2 Norte. Noutra frente de esforços para o audiovisual, João Campos viu a produção da série Caraveli 114 (Canal Brasil) recuperar uma carcaça de aeronave setentista, no interior do Paraná, já que 90% das cenas da série de William Biagiolli são ancoradas na claustrofobia e na ação dos que preferiram "não se calar".
"A série vem para levantar questões. A resistência armada à ditadura militar foi um ponto extremo da luta pela democracia. Foi o terror contra o terror. Pessoas desesperadas e torturadas se viam em uma guerra absolutamente covarde. Reconheço o valor de atitudes", avalia João que, em cena, interpreta o guerrilheiro Claudio Galeno (primeiro marido de Dilma Rousseff) e mentor, em 1970, de arriscada ação da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR — Palmares).
Foi no começo da pandemia, com a experiência do curta Ele tem saudade (selecionado para a Mostra Brasília do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro), que João deu corpo à investigação acerca de direção e roteiro. Aos 39 anos, 20 dos quais dedicados ao audiovisual, o taguatinguense (atual morador do Núcleo Rural Córrego do Jerivá), entretanto, reforça que "o lado ator segue como o carro de frente". O entusiasmado lado de pai recente (com um filho de 5 meses) desponta, quando fala dos personagens de Três (de Lila Foster), que estará no Kinoforum — Mostra Internacional de Curtas de São Paulo. "No filme, estou no meu hábitat natural, de ator (risos). Com a atriz Gabriela Correa, tratamos de um núcleo familiar, de maternidade, com delicadeza, sutileza e intimidade", avalia. No teatro, seis anos de encenação da peça O encerramento do amor seguem correntes. O futuro desafio? O projeto do longa Divino, com premiado tratamento cercando a Folia do Divino, no interior goiano.
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