Música

Samuel Rosa lança primeiro álbum solo após anunciar fim do Skank

Conhecido do público brasileiro há mais de 30 anos, Samuel Rosa se reapresenta ao mundo musical com a estreia de Rosa, primeiro álbum da carreira solo

Samuel Rosa 
CANTOR
58 ANOS -  (crédito: Lorena Dini/Divulgação)
Samuel Rosa CANTOR 58 ANOS - (crédito: Lorena Dini/Divulgação)

País responsável por artistas renomados mundialmente, o Brasil acompanhou de perto o nascimento de bandas que venceram a prova do tempo e perduraram por décadas. Há cerca de 30 anos, mais precisamente em 1992, Samuel Rosa, ao lado dos demais companheiros de banda, criava o Skank, que se tornaria um dos principais grupos nacionais do rock. Os inúmeros prêmios conquistados pelo conjunto mineiro, os sucessos emplacados nas rádios e os shows lotados, porém, tiveram um fim em 2023, com o encerramento da turnê de despedida do então quarteto. Agora, pronto para um novo começo, o autor e voz de sucessos como Vou deixar e Saideira se reapresenta ao universo musical com a estreia de Rosa, primeiro álbum solo. 

Assinatura por trás de composições que fazem parte do imaginário nacional, Samuel pretende dar seguimento ao legado que carrega há tanto tempo — o novo passo da carreira não é uma ruptura. "Esse álbum tem uma cara tanto de continuidade, quanto de recomeço, por mais paradoxal que possa parecer. Ele marca o início de uma nova fase, de um novo projeto na minha vida, mas também é a continuidade de algo. São pessoas que me acompanham há muitos anos, de várias partes do Brasil e que, agora, até em um efeito inercial por acompanhar o Skank, vão cair no meu disco", afirma o cantor. "Começar do zero não dá mais. Depois que você tem uma história, você não começa do zero", complementa.

Uma das principais novidades do trabalho é a aparição de estilos musicais não tão utilizados por Samuel em projetos passados. Apesar de inserido na prateleira do pop rock, devido à sonoridade do Skank, o mineiro afirma que Rosa é um álbum brasileiro. "São ritmos que eu tinha explorado um pouco menos na minha carreira, essa bossa nova pop, por exemplo, que tem um parentesco com Marcos Valle, Sergio Mendes, Azymuth. Eu pensei: 'Isso aqui eu fiz pouco. Vou fazer mais'", relata o vocalista.

A influência da cultura nacional, no entanto, não é novidade na vida do artista, autodeclarado fã da música brasileira. "Agora, a nossa música está na moda. Tem gente descobrindo o Clube da Esquina, o Transa [álbum de Caetano Veloso], a A tábua de esmeralda [álbum de Jorge Ben Jor], discos que foram lançados no início da década de 1970", cita. "Eu espero que não seja um modismo. Na minha época, isso não era moda, era obrigação. Eu vejo muita gente que migrou do indie rock para a MPB, então aqueles mesmos que conheciam todas as bandas alternativas da Islândia e do Canadá, agora estão apaixonados por esses álbuns. Ótimo", celebra o mineiro. 

"Por mais que eu esteja longe dessa prateleira que esses caras estão, eu tenho muito orgulho de ser um artista popular em um país onde a música é um dos melhores produtos de exportação. Eu colocaria o Brasil entre as três maiores potências de música do mundo", avalia. 

Comparações

"Igual, mas diferente", é assim que Samuel Rosa define a diferença entre as músicas do Skank e as da carreira solo — afinal, além de vocalista, Samuel era o compositor majoritário da banda. "Não vejo nenhum problema com as semelhanças. É inevitável que pareça com o Skank em alguns momentos, mas eu acho que guardas diferenças, sim. Mas essas diferenças são sutis, do próprio processo. Não foi meu objetivo, não foi isso que eu busquei fazendo o disco. Eu não tentei ser diferente de tudo que eu fiz, eu só quis exercer eu mesmo", garante o cantor. "As diferenças, as nuances, as sutilezas vem aparecendo no processo. Eu não persegui uma disruptura, 'vou fazer jazz, vou montar uma banda de pagode'. Não foi isso", explica. 

O cantor não procura se desvincular da imagem da banda. Segue o jogo, por exemplo,  primeiro lançamento solo do vocalista e single de estreia do álbum, é comparada por ele mesmo a um dos grandes hits do Skank. "As pessoas falam: 'Ah, ela parece com Balada do amor inabalável'. Ok, mas quantas Baladas do amor inabalável o Skank teve? Uma só", argumenta. "Na minha opinião, é um projeto diferente. É um outro grupo, são outros músicos. Eu também produzi o álbum, assim como eu produzia junto com os meninos os álbuns do Skank. Natural que guarde semelhanças", defende o mineiro.

Foi a necessidade de se reinventar e de sair da zona de conforto que moveu Samuel a tomar a difícil decisão de encerrar as atividades do Skank. "Lá, eu tinha um guarda-chuva de proteção, já tinham todas as cobertas de segurança — um entrosamento, um conhecimento recíproco de todo mundo, uma maneira de trabalhar", conta. "Em alguns momentos, na carreira solo, a sensação de frescor, de novas áreas, aquele entusiasmo de início de namoro bate. Vem aquela brisa de novidade, que é o que me rejuvenesce. É um sentimento de juventude, por mais que eu seja um artista veterano, com uma estrada e uma carreira já desenhadas. Mas é exatamente disso que eu buscava quando eu me propus a encerrar as atividades com o Skank", revela. 

"O conformismo e o costume são danosos. Às vezes, se você insiste muito neles, a coisa desanda. Ele tem tempo para durar. Uma banda é um negócio muito legal e interessante, mas, quando começa a durar tempo demais, como o Skank, ela te proíbe de viver muitas outras coisas, porque você sempre está naquele grupo, do mesmo jeito. Você começa a enxergar o mundo segundo a ótica do grupo, você pega os cacoetes do grupo e você fica uma pessoa do grupo. Isso, para um senhor de quase 60 anos, não cai muito bem", ri. 

Exemplo dado por Samuel é que o Skank, nos últimos 10 anos, lançou apenas um disco de músicas inéditas, enquanto, desde janeiro, ele fez, sozinho, dois álbuns. "Uma banda tem que existir enquanto ela tem um poderoso núcleo criativo em atividade, e isso vai se arrefecendo em todas as bandas. Não é que a gente desaprende, mas é algo que vai se perdendo. Tudo tem seu momento. Todo e qualquer processo tem seu ápice. Não adianta, uma banda que vai durar mais de 15 anos com certeza vai passar por seu ápice criativo e se tornar mero reprodutor de seus fonogramas. É isso que o Sting quis dizer quando ele fala que uma banda é um intérprete, um mero veículo da obra. A obra é mais importante. É ela que fica. É o que interessa", opina.

Ídolo do ídolo

Tal conclusão foi provada, para o mineiro, também no histórico show de Paul McCartney no Clube do Choro, em novembro. "Eu pude ver aquele monstro da música, o tamanho e o poder dele, — acima dele só Deus —, tocando Hey Jude e eu ali, a três metros de distância dele, enquanto ele se rende ao poder da obra com 80 anos, tocando e defendendo uma música que ele fez com 28 anos. A conclusão que eu tiro disso é que a obra é sempre maior. Eu tenho a expectativa de que essa mudança possa renovar meu poder criativo, ainda que eu tenha consciência dos meus limites e que, durante três décadas, eu experimentei várias vertentes com o Skank", confessa.

"Eu não estou tão seguro de que eu posso ser tão criativo e inventivo quanto fui em outros momentos, mas eu continuo sendo eu e, bem ou mal, tenho um certo conhecimento de como fazer música popular", finaliza.

 


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postado em 08/07/2024 12:16
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