MÚSICA

Paralamas comemoram ano especial na cidade do coração

Em entrevista ao Correio, Bi Ribeiro, baixista da banda, fala sobre os 40 anos de lançamento do álbum Os passos de Lui e da relação com Brasília

Os Paralamas do Sucesso estão em ano de comemoração. O segundo disco da banda O Passo de Lui completa 40 anos e o grupo está fazendo turnê pelo país para celebrar a data. Lançado em agosto de 1984 tem alguns dos maiores hits da banda, como Óculos, Meu Erro, Romance Ideal e Skar. Brasília foi uma das paradas da turnê comemorativa, no Funn Festival. A cidade tem história para o grupo, que se conheceu em Brasília e manteve contato com as bandas da época na década de 1970, como Capital Inicial, Legião Urbana e Aborto Elétrico. “Era nosso sonho, concretizar a nossa banda e tocar em Brasília, que a gente sabia que tinha os amigos para assistir, público, porque no Os Paralamas do Sucesso estão em ano de comemoração. O segundo disco da banda O Passo de Lui completa 40 anos e o grupo está fazendo turnê pelo país para celebrar a data. O disco lançado em agosto de 1984 tem alguns dos maiores hits da banda, como Óculos, Meu Erro, Romance Ideal e Skar. Brasília foi uma das paradas da turnê comemorativa, no Funn Festival. A cidade tem história Rio a gente não conhecia ninguém. Então, Brasília é a cidade do nosso coração mesmo”, destaca Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas do Sucesso. O músico conversou com o Correio sobre o marco dos 40 anos do Passo de Lui, o início da banda e a ligação com Brasília e sobre a nova geração da música brasileira.

O álbum O Passo do Lui está completando 40 anos e foi um marco na carreira da banda. Vocês estiveram no Lollapalooza e estarão no palco principal do Rock in Rio. Como é conseguir atravessar gerações e ainda lotar lugares por onde passam? Como se manter relevante e alcançar esses novos públicos?

É uma coisa que, obviamente, você não consegue planejar e acho que muita gente gostaria de estar nesse mesmo papel. Mas foi uma coisa que a gente conquistou aos poucos e, sem parar de trabalhar, a gente gosta muito de tocar. Toca o ano inteiro, o tempo todo. Então a gente mantém aceso. A gente vê muito o pai levando o filho, depois esse filho já leva o filho dele, que já está na terceira geração. E acho que assim vai contaminando. Temos essa vontade de estar junto, de tocar junto, então acho que isso é contagiante. É por isso que a gente está nesses grandes festivais, está ativo, e pretendemos continuar por algum tempo. Não vai acabar por aqui.

O que esses 40 anos do álbum simbolizam para você?

Foi um marco na nossa carreira. Muita gente acha que esse foi nosso primeiro disco. O Passo de Lui é de 1984, mas lançamos em 1983 o Cinema Mudo, que tem Vital, Patrulha Noturna, a própria música Cinema Mudo. Mas foi O Passo de Lui que transformou a nossa carreira, ele saiu um ano antes do Rock in Rio. Meu erro, Skar e Óculos começaram a fazer sucesso, já estavam tocando pelo rádio. Isso fez com que nossa participação no festival fosse tão legal, as pessoas já sabiam as músicas, para algumas pessoas nós éramos conhecidos. O público conhecia os Paralamas. Isso surpreendeu muita gente. A partir do Rock in Rio, com esse disco, a gente rodou o Brasil inteiro pela primeira vez. E, a partir disso, a gente conheceu o resto do Brasil, as músicas, diferentes regiões. Isso influenciou muito para gente gravar o terceiro, que é o Selvagem, é como coisas mais brasileiras, assim. Então, esse disco é fundamental na nossa carreira. Foi o que realmente catapultou a gente do palco do barzinho para grande público.

O rock era um gênero de contestação, da realidade do país, uma juventude ativa. O que você acha da juventude atual, onde esse espírito de crítica e contestação se encontram atualmente?

Eu acho que, evidentemente, esse tipo de coisa está no rap, não é? No rap que está sendo feito agora, é realmente muito baseado na contestação, nas reivindicações de minorias que era muito o papel do rock. E não deixa de ser ainda, mas, a partir de um momento, o rock também se diversificou um pouco e foi cada um para um lado. E as coisas que eram, ainda são vigentes, muitas coisas ainda tem que ser reclamadas. A gente vinha da ditadura ali. E pegamos o fim dela. Então, tínhamos muito para contestar. Esse era um dos principais focos na falta de liberdade, a censura.

Essa contestação faz com que as músicas também se tornem atemporais? Por uma questão de os movimentos serem às vezes de certa forma cíclicos?

É atemporal mesmo porque as coisas são difíceis de mudar. Essas coisas que o rap reivindica, por exemplo, fim do racismo e da desigualdade social. Isso está difícil de mudar aqui no Brasil. Então, poxa, o que se falava há um tempo atrás ainda vale totalmente hoje em dia e infelizmente acho que vai continuar valendo há um tempinho. Um bom tempo, né?

Brasília é a cidade inicial de boa parte do rock do Brasil. O que Brasília representa para Paralamas?

A gente começou a tocar no Rio de Janeiro, mas eu conheci o Herbert em Brasília. E foi fundamental na nossa vontade de tocar. Até antes dessas bandas que estouraram nos anos 1980, a gente cresceu lá nos anos 1970. Crescemos aí. A gente conheceu a nossa cidade do coração, porque a gente aprendeu a ver o mundo a partir de Brasília. E, Brasília, nessa época, era uma ilha, ainda é, mas de cultura, porque as embaixadas estavam aí. A ditadura era muito forte, não havia coisas importadas no resto do Brasil, mas aí tinha. O meu pai é diplomata, por exemplo. Muitos diplomatas que chegavam no exterior, traziam informações, discos que aqui não saíam, instrumentos bons, revistas interessantes. Então, era uma cidade pequena. Com pouca gente e muita informação. Por isso, acho que gerou essa geração tão contestatória e com muita ciência no que falava. E a gente cresceu lá, assistindo outras bandas, que já existiam em Brasília nos anos 1970. E a gente cresceu vendo aquilo ali de perto. A gente gostava de comprar os discos de rock estrangeiro, mas via que era possível o cara ter uma bateria em casa, por exemplo, e poder tocar, fazer uma banda. Era possível, era assim, tava ali do lado, né? Isso inspirou muito a gente. A gente ficou doido pra tocar também. A nossa vontade de tocar vem daí.

E o que ocorreu quando vocês se mudaram para o Rio de Janeiro?

Depois a gente se mudou para o Rio, e quando voltamos essas bandas por exemplo, Capital, Plebe Rude, Legião Urbana, Aborto, estavam começando a se formar, a gente conhecia todo mundo porque o movimento era pequeno, tinha pouquíssima gente que tocava. A gente conhecia todos e essas bandas também levaram a gente formar a banda. Pensávamos: vamos tocar, vamos fazer uma banda também. Vamos fazer uma banda, sair tocando.

 

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