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Após 'Terra e paixão', Rafael Gualandi faz mergulho ancestral na Amazônia

No ar em Reis após sucesso de "Terra e paixão", Rafael Gualandi apresenta projeto paralelo que desenvolve após se reconectar à sua origem indígena em visita a aldeia amazônica. "O futuro é ancestral", afirma ator com ascendência nos povos originários

Após o sucesso nacional como o técnico de informática Enzo, que agitou o núcleo de Tatá Werneck na novela Terra e paixão, da Globo, Rafael Gualandi mal descansou. Ele é um dos nomes que vem reforçar a série bíblica Reis. Após ter feito algumas pequenas participações nas produções da Record no passado, ele celebra, agora, o fato de interpretar Samarias, filho do rei Roboão (Heitor Martinez Mello), descendente direto de Salomão e Davi, na 11ª e na 12ª temporada da produção. 

Entre a novela da Globo e a série bíblica da Record, Rafael Gualandi não ficou totalmente parado. Ainda gravando a novela de Walcyr Carrasco, o capixaba com ascendência indígena recebeu um convite transformador do Grupo de Amigos Representando Ideias (GARI) para conhecer um projeto realizado por eles em uma aldeia da comunidade Kambeba, localizada em uma comunidade ribeirinha a duas horas de Manaus — um local bem afastado da cidade, com acesso somente de barco. Ao longo de dois anos, o povo originário residente recebeu cursos voltados para o teatro, e o ator recém-saído da novela global foi conhecer o resultado.

"Fiquei uns sete dias, ajudando, ensaiando e passando um pouco do que aprendi. Foi a melhor experiência da minha vida, uma vivência muito diferente. Tive a chance de conhecer os costumes e a filosofia, o sistema de uma comunidade que cuida da natureza em união", celebra o intérprete de Enzo, que foi reconhecido pelos habitantes graças a um gerador de energia à base de diesel, enviado pelo município para manter uma escola, e que eles usavam para assistir a novela.

Rafael relata que os moradores da aldeia mudaram a rotina de utilização do gerador, desligando-o por uma hora, durante o dia, para assistir a novela, à noite. E nem era porque a trama retratava um núcleo indígena: eles amavam o casal Ramiro e Kelvin, vividos, respectivamente, por Amaury Lorenzo e Diego Martins. "E isso é legal porque uma gente tão apegada às tradições aprovar uma relação homoafetiva é a prova de que, de alguma forma, a arte pode transformar", avalia, referindo-se ao exitoso trabalho realizado em cena pelos colegas.

Arquivo pessoal -
Record/Divulgação -
Arquivo pessoal -
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Conexão com o passado

A bisavó de Rafael Gualandi era indígena e, do casamento com um homem branco, nasceu o avô paterno dele, que é caboclo. Vivenciando a cultura da aldeia, o rapaz de 29 anos — revelado para a televisão na novela Além da ilusão (2022) — pôde sentir com mais força a energia dessa ancestralidade. "Meu avô era caçador, e passou para o meu pai esse costume, assim como a pesca, os rituais de cura com folhas colhidas na natureza, as danças comemorativas", explica. 

O ator, natural de Vila Velha e criado em Bangu, na zona oeste carioca, cita como forte conexão com suas origens a percepção de que a prática esportiva é cultural entre os povos originários. "Eles jogam futebol, brincam de arco e flecha, nadam nos rios, fazem canoagem, e isso desde criança. Eu também vivenciei isso com eles e pude me conectar comigo mesmo, porque essa sempre foi a minha realidade", salienta o galã da televisão, que, quando questionado sobre vaidade, por causa da aparência física que apresenta nas fotos sem camisa, responde justamente isso. "Meu cuidado com o corpo é o mesmo desde a adolescência, e nunca foi por vaidade. A minha estética é naturalista, assim como a dos indígenas que já nascem com essa cultura", conclui.

Documentários no forno

De acordo com Rafael, o mergulho na aldeia indígena amazônica intensificou o seu pensamento de que o futuro se constrói a partir de uma ponte com o passado. "O futuro é ancestral, e eu trago esse pensamento para minha vida há um tempo. Mas lá, in loco, a minha mente se abriu para o desenvolvimento de projetos profissionais nesse sentido", avisa o canceriano, que completa 30 anos em julho.

Ao longo da estadia na aldeia, ele gravou um documentário, focado em dar voz à comunidade, com entrevistas a alguns indígenas, abordando várias questões relacionadas aos povos originários. "Gravei depoimentos diversos e muito ricos. Desde o primeiro casal LGBT de duas mulheres da aldeia ao dia a dia de atletas dentro da comunidade", descreve Gualandi, que desenvolveu, ainda, o roteiro para um outro doc envolvendo um projeto de um amigo, que mistura palhaçaria e teatro, levando-o para a Amazônia. "Existem talentos dentro dessa comunidade, e eles podem ser potencializados", finaliza.

 


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