MÚSICA

Brasileiros brilham em festivais de Portugal, como o Mimo, totalmente gratuito

Até novembro, mais de 200 eventos espalhados de Norte a Sul do país vão embalar o verão e o início do outono português. Em Amarante, festança terá mais de 50 atividades, com artistas de nove países

Lisboa — O verão chegou com muita música em Portugal. Mais de 200 festivais estão programados para acontecer de Norte a Sul do país até novembro, muitos deles tendo como protagonistas artistas brasileiros e, melhor, vários, com entrada gratuita. É o caso, por exemplo, do Mimo Festival, que retorna às suas origens, na bela cidade de Amarante. “Este é o festival mais democrático de Portugal, com uma visão humanista e liderado por uma mulher”, diz a criadora e diretora do evento, a brasileira Lu Araújo.

O Mino Festival, que vai acontecer entre 19 e 21 de julho, terá mais de 50 atividades, entre shows, workshops, performances, fóruns de ideias, exposições, programações infantis e roteiros sustentáveis. Para aqueles que gostam de história e arquitetura, uma dica à parte: o Quinteto Nova Orquestra fará um concerto que marcará a abertura ao público, pela primeira vez, do recém restaurado edifício Solar dos Magalhães.

O espaço, um dos monumentos mais importantes de Amarante e destruído por um incêndio durante as Invasões Francesas, em 1809, foi recuperado por meio de um projeto assinado pelo arquiteto Siza Vieira, considerado o mais importante de Portugal. A construção, que abrigará o Museu da Identidade e Memória de Amarante (MIMAR) a partir de 2025, terá, durante o festival, um programa dedicado ao Tropicalismo, movimento que representou uma renovação no cenário musical brasileiro no fim dos anos de 1960.

“Estamos muito felizes com toda a programação, diversa e inclusiva”, afirma a diretora do Mimo. Entre os brasileiros mais esperados pelo público está a cantora Puta da Silva, com suas composições viscerais, que, recentemente, surpreendeu a plateia de seus shows ao interpretar canções imortalizadas na voz de Gal Costa. Como atriz, Puta é um dos sucessos da novela “Cacau”, da TVI. Logo no primeiro dia do festival, os presentes poderão saborear o maestro Jaques Morelenbaum acompanhado do carioca Fred Martins, que está radicado em Portugal, onde tem uma carreira de sucesso, e da portuguesa Joana Amendoeira, com sua linda voz.

Vicente Nunes/CB/DA Press - O cantor e compositor brasileiro Fred Martins ao lado da cantora portuguesa João Amendoeira

Segundo Lu Araújo, trata-se de um concerto inédito, que funde a Bossa Nova brasileira com o fado português e “canções que celebram o diálogo musical entre Brasil e Portugal, em que a lusofonia é a rainha da noite”. Essa fusão entre as músicas brasileira e portuguesa também se dará no palco com a apresentação da icônica banda A cor do som com a fadista Carminho. A primeira noite do Mimo se completará com o show de rapper Marcelo D2, que inicia, no festival, a turnê pela Europa com o elogiado álbum “IBORU”, em que procura fazer uma “revolução no rap, no rock, no samba”, sem abrir mão de um forte posicionamento político.

Viés democrático

Para Lu, o Mimo Festival não representa só a gratuidade, pois tem “um viés democrático, que dá espaço para mulheres, para trans e todas as pessoas que fazem da cultura a sua vida”. Ela lembra que, nos três dias de atividades, participarão artistas de nove países, reforçando o tripé Brasil-Portugal-África, trabalhado pelo evento há vários anos. “Essa diversidade cultural é uma das características do Mimo. O artista vem trabalhar e ganhar seu cachê, mas deixa um legado para a cidade, que é a experiência compartilhada por meio das aulas e oficinas”, ressalta.

Vicente Nunes/CB/DA Press - Lu Araújo, criadora e diretora do Mimo Festival, que acontece em Amarante, Portugal

A programação inclui, ainda, a cantora Flávia Bittencourt, vencedora do Festival Internacional de Sanremo Senior 2023. Ela se apresentará no Museu Amadeo de Souza-Cardoso com o concerto "Todo Domingos", uma jornada pelos clássicos de um dos maiores nomes da música brasileira, o cantor e compositor Dominguinhos. Nova cara da música baiana, o grupo Vitrolab fará a estreia de seu disco em Portugal. A obra é marcada por um forte trabalho autoral, letras poéticas e um discurso potente. O grupo foi criado em Salvador, em 2014, pelos irmãos Guga (voz e guitarra) e Marcelo Barbosa (voz, baixo e programações).

Outra apresentação muito esperada é a do grupo Ilê Ayiê, que está completando 50 anos. O bloco foi criado no bairro da Liberdade, em Salvador, exclusivamente para pessoas negras, numa clara resposta ao racismo que as afastava do circuito oficial do carnaval da Bahia. O grupo teve como inspirações os black powers e os Panteras Negras, movimentos pelos direitos civis e contra o racismo nos Estados Unidos. Além do show de 20 de julho, o bloco fará uma apresentação nas ruas de Amarante no último dia do festival, arrastando o público ao ritmo de seu batuque.

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