As dobras das esculturas de Amilcar de Castro se transformaram em molduras para a paisagem brasiliense. Na recém-inaugurada praça Burle Marx, em frente à Torre de TV, as enormes esculturas em ferro criadas a partir de dobraduras se encaixam perfeitamente à monumentalidade do espaço. Por isso, a curadora Marília Panitz achou que não havia lugar melhor para receber as peças. Quem passar hoje pelo Eixo Monumental vai se deparar com 30 esculturas, algumas com mais de 4 m de altura, dispostas pela praça.
As obras estiveram no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) durante os últimos dois anos e pertencem ao Instituto de Pesquisa e Promoção da Arte Contemporânea (Ipac), para o qual foram doadas pelo colecionador Márcio Teixeira. Vieram de Dom Silvério, cidade no interior de Minas Gerais, para compor uma exposição ao ar livre no CCBB. Quando o tempo da mostra esgotou, Marília e o Ipac sugeriram que ocupassem a Praça Burle Marx, onde ficarão durante os próximos dois anos. “Não são todas as esculturas, só as maiores”, avisa a curadora. “Na praça a gente dialoga mesmo com a paisagem daquele espaço imenso, porque as peças estão muito mais soltas no espaço.”
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Amilcar de Castro, que morreu em 2002, sempre quis ver as esculturas integradas à paisagem modernista de Brasília. As obras do artista mineiro nasceram do mesmo pensamento estético e artístico que norteou a construção da capital: economia de formas, linhas retas, leveza em contraste com o material pesado, ferro no caso de Amilcar, concreto no de Oscar Niemeyer. Eram dele as obras expostas na primeira exposição do CCBB de Brasília, inaugurado em outubro de 2000 com um conjunto de peças que teve participação do próprio artista no processo de seleção. Cinco anos depois, o curador Fernando Cocchiarale realizou, na mesma instituição, uma mostra sobre a relação da cidade com o construtivismo.
Na ocasião, ele questionou a ausência da arte concreta e neoconcreta na paisagem brasiliense. Esses movimentos artísticos marcaram as vanguardas brasileiras dos anos 1950, período em que as ideias que levaram à construção da capital começaram a ser gestadas. “Amilcar sempre falou muito que ele tinha essa coisa de como Brasília recebia bem as obras dele com o céu e o horizonte integrados à obra”, explica Marília. “E, agora, finalmente, temos no corpo do avião as obras de Amílcar. Para mim, é uma super emoção, fiquei muito tocada com isso.”
A inauguração da exposição ao ar livre será hoje, dia em que é lembrada a morte de Burle Marx, artista que dá nome à praça e que assinou alguns dos projetos de paisagismo da cidade, mas as obras já estão instaladas há alguns dias. Durante o processo de posicionamento das enormes esculturas, a curadora ficou surpresa com a facilidade de interação entre os visitantes da praça e as obras. “Fiquei impressionada, não sabia o quanto aquela praça era realmente usada, visitada”, conta a curadora, que passou muito tempo no local durante a montagem da exposição e foi parada diversas vezes para dar explicações sobre as obras. Marília também ficou agradavelmente surpresa com a interação dos passantes. A praça é um espaço muito amplo, com incidência direta do sol, pouca vegetação e, em certos momentos do dia, chega a ser inóspita. Mas as sombras das esculturas criaram áreas de respiro nesse conjunto. “É muito bonito quando as pessoas passam a tratar a escultura como objeto estético, mas, com certa aproximação do dia a dia, senta ao lado, as crianças brincam, isso faz parte também da fruição. E me parece que isso lá se torna até mais radical”, acredita Marília.
Serviço
Amilcar de Castro no Jardim Burle Marx
Visitação até junho de 2026, na Praça Burle Marx, ao lado da Torre de TV