Música

Young Fathers: a banda escocesa que se encantou com o Brasil

Em entrevista ao Correio, a banda, atração do C6 Fest, destacou o fato de não acreditar em gêneros musicais e sobre as primeiras impressões do Brasil

Young Fathers durante performance no C6 Fest -  (crédito:  André Luiz Mello/Divulgação)
Young Fathers durante performance no C6 Fest - (crédito: André Luiz Mello/Divulgação)

Três músicos escoceses que simplesmente se encantaram com as brasilidades do país — como os numerosos apelos de “Come to Brasil”, feitos via redes sociais — mal pisaram em terras tupiniquins e disseram sentir uma aura “diferente”. A banda Young Fathers amou o Brasil mesmo antes de subir ao palco do C6 Fest, e os brasileiros retribuíram o carinho.

A banda formada por amigos em 2008 é muito conhecida no Reino Unido pela aclamação crítica. Com uma música inventiva e bebendo de várias fontes de inspiração, o trio conquistou pouco a pouco os ouvidos do mundo e chegou pela primeira vez ao Brasil com a potência que lhe é peculiar. Do frio da Escócia trouxeram a turnê do elogiado disco Heavy heavy para uma das últimas apresentações do derradeiro dia de festival em 19 de maio.

Porém não foi o calor do Brasil que interessou o grupo escocês. Chamou a atenção dos artistas a relação do país com a música. “A música no Brasil é incorporada à vida. Música no Brasil é tão necessária quanto comida, água ou ar. É possível perceber isso só andando na rua”, afirma Graham Hastings. “Os bares e restaurantes tem música ao vivo, para que você sinta toda delícia da vida em um só momento. Sua barriga está cheia e seus ouvidos satisfeitos, isso faz muito bem”, acrescenta Kayus Bankole.

O entendimento dessa relação do país com a música se deu em poucas horas após pisarem no Brasil. No momento da entrevista, os três não estavam nem há um dia completo no Brasil e ainda não tinham subido no palco para efetivamente encontrar o público brasileiro. Mesmo assim, entenderam que, por aqui, as coisas são diferentes. “O Brasil tem algo que eu senti antes em New Orleans. Algo que você não consegue tocar com os dedos, mas que assim que você chega no lugar você sente e entende o que é”, destaca Alloysious Massaquoi. “Há uma coisa espiritual, no momento em que você pisa no país você sente que nunca esteve em um lugar como este”, complementa.

Juntos desde 2008 eles demoraram muito para encontrar os fãs brasileiros, visto que desde o álbum de estreia, Dead, lançado em 2014, eles fazem sucesso no Reino Unido e construíram uma grande carreira internacional desde então. “Já tinha um tempo que conversávamos sobre a vontade de viajar para a América do Sul. As pessoas aqui tem o batimento cardíaco conectado com a música de uma forma muito diferente de outros lugares do mundo”, comenta Bakole.

Um pouco de tudo

Juntos desde os 14 anos de idade, os três vocalistas da banda pensaram que se tocassem pop seriam chamados de boyband. No entanto, o que faz deles distintos dentro da cena musical é o fato de misturarem tantas referências a ponto de não se encaixarem em gênero musical nenhum. “Nós não estamos nem aí para qual o nosso gênero musical. É uma noção romântica para deixar simples e as pessoas terem um ponto de referência para conectar artistas”, critica Bakole. “Para nós, todas essas discussões são tecnicalidades. Não importa muito de onde eu venho, que gênero eu toco, se eu sou legal ou se eu me visto de certa maneira”, adiciona Hastings.

Eles entendem que ao não se fecharem para uma só direção, encontram o caminho de todas que quiserem explorar. “É na diversidade que está nosso solo fértil para a experimentação. Nós nos permitimos testar, pensar diferente e agir diferente sobre as coisas”, acredita Massaquoi. “Nunca tentamos caber em uma caixa, mas não porque queríamos ser do contra. Gênero é uma ferramenta poderosa também, mas, para a gente, é sobre gostar do que estamos fazendo”, completa Hastings.

Dessa forma fizeram uma música que tem traços rap, R&B, rock, alternativo, soul e vertentes diferentes do pop, mas principalmente foca na emoção que as músicas passam tanto para quem executa quanto para quem assiste. “Para nós, o lado humano de tudo isso sempre chamou mais atenção do que um gênero ou de um jeito de fazer”, explica Hastings. “O sentimento que qualquer um pode compartilhar e identificar sem precisar de palavras. Existe uma língua que não precisa de palavras para comunicar com as pessoas”, continua Bakole. “Música é a língua do amor. Nós comunicamos algo que não dá para descrever, mas dá para ver e sentir”, conclui Massaquoi.

Para eles é muito mais sobre viver do que ouvir. É no contato com essa música que se entende o que ela é realmente. “Tem muitos questionamentos sobre qual tipo de música fazemos e eu digo que se você filmar ou tirar uma foto do que fazemos ao vivo, a música vai fazer sentido. É preciso assistir para entender o sentimento”, crava Massaquoi.

E a conversa acaba voltando para o Brasil. Um exemplo que deixa claro exatamente a energia que querem passar foi vivido pelos três enquanto se divertiam na noite antes do show que fizeram no dia de encerramento do C6 Fest. “Estávamos em um bar e um grupo de samba estava tocando, mesmo sem saber as palavras nós cantamos juntos, só os sons que entendíamos. Nós estamos sempre conectados pela arte, somos isso tudo. É profundo, simples e humano”, conta Hastings.

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postado em 14/06/2024 07:00
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