FESTA

São João, pamonha e anarriê: conheça os séculos de tradição da festa junina

A festividade como é conhecida hoje foi criada na Idade Média, mas tem suas raízes na Antiguidade clássica

A quadrilha dançada na festa tem como base a quadrille, dança francesa do século 18 -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
A quadrilha dançada na festa tem como base a quadrille, dança francesa do século 18 - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O mês de maio mal acaba e os brasileiros só pensam em uma coisa: festa junina. Marcada pela música, dança e comidas típicas, a festividade é tradicionalmente conhecida como celebração das colheitas. Porém, o que nem todo mundo sabe é que o universo junino tem séculos de idade.

As festas juninas como conhecemos hoje surgiram no período medieval, época em que eram chamadas "festas joaninas", em referência a São João. No entanto, a inspiração da festa é muito mais antiga. ""Seus antecedentes remontam) à Antiguidade, quando ocorriam festividades rurais e pagãs celebradas no solstício de verão, no Hemisfério Norte, a partir de 20 de junho. Nelas se manifestavam os desejos de bons tempos para as próximas plantações. Seus ritos eram oferendas para os deuses relacionados à fecundidade e fertilidade do solo", explica Scarlett Dantas, professora de História do Centro Universitário de Brasília (UniCeub).

Mais tarde, após perpassarem o Império Romano e serem incorporadas na sociedade medieval, foram associadas ao nascimento de São João Batista e foram assim chamadas "joaninas". Outros santos também foram incorporados à festança: Santo Antônio, casamenteiro, e São Pedro, padroeiro das viúvas e dos pescadores.

Por sua vez, as comidas típicas da festa junina têm como base os alimentos agrícolas que temos no Brasil, como milho, grãos e raízes. "A cultura do milho, comum entre os indígenas e muito aperfeiçoada pelos escravizados, resultou na confecção de iguarias como a pamonha, a canjica, o milho cozido e o munguzá. O mesmo pode ser atribuído ao pé-de-moleque, doce produzido com amendoim torrado e rapadura, muito consumido entre árabes, que habitaram a Península Ibérica, e escravizados que vieram para o continente americano", elucida a professora.

No que se refere à dança, a que mais se difundiu no país foi a quadrilha (quadrille), dança de baile que surgiu na França no século 18 e foi incorporada à aristocracia brasileira no século 19. Vários termos que designam passos da dança foram aportuguesados, o que gerou expressões como "anarriê" (en arrière, para trás), "alavantú" (en avant tour, para a frente), "changê" (changer, trocar) e "balancê" (balancer, balançar).

Não é somente o Brasil que comemora a festa junina. Outros países como Noruega, Espanha, Dinamarca, França e Canadá têm suas tradições para celebrar a ocasião. Em Portugal, por exemplo, comem-se sardinhas assadas. Em Alicante, na Espanha, as pessoas dançam ao redor da fogueira queimando monumentos confeccionados em papel machê.

Na Dinamarca, costumava-se fazer uma bruxa de palha e pano para queimar na fogueira. Já em Quebec (Canadá) a festa tem um ar mais patriótico e politizado, com apresentação de músicos com instrumentos de sopro, acrobatas e bonecos gigantes que homenageiam figuras históricas da província.

"As festas tradicionais, em geral, transmitem costumes e crenças entre gerações, fortalecem laços sociais e políticos e remetem aos esforços coletivos para manutenção da comunidade. No caso da festa junina, elas celebram o trabalho dos camponeses e as relações produtivas [...] Além disso, como qualquer festejo tradicional, estão relacionadas com a história do país e dos povos que habitam e deram contribuições para a cultura regional e nacional", finaliza Dantas.

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postado em 13/06/2024 20:06
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