Artes visuais

Coreografia brasiliense: 35ª Bienal de São Paulo chega ao Museu Nacional

A exposição reúne obras de 13 artistas considerados emblemáticos da mostra realizada em São Paulo entre setembro e dezembro de 2023

Com um tema que propôs trabalhar a tensão
Com um tema que propôs trabalhar a tensão "nos espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário", a 35ª Bienal reuniu 1.100 obras de 121 artistas - (crédito: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.)

Quem passar pelo Eixo Monumental a partir de hoje, a depender da altura, pode se deparar com uma plantação de milho. É, na verdade, uma instalação, quase um site specific, concebida por  Denilson Baniwa. De origem indígena, nascido no interior do Amazonas, o artista foi um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo, que desembarca no Museu Nacional da República como o braço de uma itinerância que já passou por seis cidades como parte de um esforço de ampliação de público da Fundação Bienal. 

A exposição reúne obras de 13 artistas considerados emblemáticos da mostra realizada em São Paulo entre setembro e dezembro de 2023. A 35ª Bienal, aliás, é uma das mais emblemáticas das últimas décadas: duas mulheres negras, Diane Lima e Grada Kilomba, fazem parte da curadoria ao lado de Hélio Menezes, também negro, e Manuel Borja-Villel. 

Diane Lima retoma o próprio título dado à 35ª edição — coreografias do impossível — para refletir sobre a relevância da escolha da equipe curatorial. "Acredito que este fato fez da própria curadoria da 35ª Bienal uma coreografia do impossível. Os modos como nos relacionamos desde o início com esse fato e com tudo o que ele significa em termos de uma dívida histórica nos ajudou a compreender os limites da ideia de justiça social que a exposição, de certo modo, mobiliza, mas, também, de abrir caminhos de liberação para escapar das armadilhas da representação de modo a desenvolver uma Bienal que fosse tão poética quanto política. Certamente, essa junção poderá ser vista na itinerância de Brasília", explica a curadora. 

Para a versão brasiliense da mostra, os curadores escolheram artistas que reencenam conceitos de coletividade, caso das obras de MAHKU e Zumví Arquivo Afro Fotográfico, outros que trabalham a relação com o tempo e com a natureza, como Denilson Baniwa e Deborah Anzinger, ou ainda nomes que trazem um elemento histórico importante atrelado às coreografias do impossível, como Katherine Dunham e Melchor María Mercado. Na obra Kaá, de Baniwa, concebida especialmente para Brasília, ideias de compartilhamento e memória por meio do cultivo funcionam como críticas ao desenvolvimento. "É uma plantação de milho crioulo em pleno Eixo Monumental, trabalho que pode abrir tanto um debate sobre atos de partilha e produção de memória através da cultura do alimento, quanto como uma crítica mais contundente sobre os modos de produção atuais", explica Diane. 

Com um tema que propôs trabalhar a tensão "nos espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário", a 35ª Bienal reuniu 1.100 obras de 121 artistas. A versão que chega a Brasília retoma a temática desenvolvida  pelos curadores na mostra principal. "Negociar os limites entre o possível e o impossível, mobilizando estratégias de imaginação radical e práticas de autodefesa e recusa, são elementos que atravessam um expressivo conjunto de obras da exposição", avisa Diane Lima. 

Presidente da Fundação Bienal, Andrea Pinheiro aponta a passagem da itinerância por Brasília como uma tentativa de  levar as artes visuais para públicos cada vez mais amplos. "Vemos as itinerâncias como um potencializador do diálogo entre vários campos de pensamento. Foi essa visão que levou a instituição a implementar as itinerâncias", explica Andrea. "Ao superar barreiras geográficas, como a da própria cidade de São Paulo, criamos oportunidades para que mais pessoas experimentem e participem do cenário artístico contemporâneo, fortalecendo a sociedade e as instituições culturais no Brasil e no mundo." Esta é a sétima edição do programa de itinerâncias, que teve início em 2011. Em 2019, Brasília recebeu a itinerância da 33ª Bienal. "A parceria com o Museu Nacional da República, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, não apenas facilita a troca de experiências entre públicos e instituições, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e plural", garante Andrea. 

Atividades de formação dos mediadores da exposição e de educadores, além do lançamento da publicação educativa da Bienal estão previstos para hoje e amanhã. Com isso, Andrea Pinheiro acredita que seja possível mobilizar professores, educadores e interessados em arte que não puderam visitar a exposição em São Paulo. 


35ª Bienal de São Paulo - coreografias do impossível

Curadoria: Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel. Abertura hoje, às 19h, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2). De terça a domingo,
das 9h às 18h30. Entrada gratuita.

 


  •  obras de Zumv.. Arquivo Afro Fotogr..fico durante a 35a Bienal de S..o Paulo. 11/10/2023 .. Levi Fanan / Funda....o Bienal de S..o Paulo
    obras de Zumv.. Arquivo Afro Fotogr..fico durante a 35a Bienal de S..o Paulo. 11/10/2023 .. Levi Fanan / Funda....o Bienal de S..o Paulo Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
  • Obra de 
Simone 
Leigh e 
Madeleine 
Hunt-Ehrlich
    Obra de Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
  • Obras de 
Nikau Hindin
    Obras de Nikau Hindin Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
  • Obra de Zumví
    Obra de Zumví Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
  • Obra de
 Zumví
    Obra de Zumví Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo.
  • Flagrante de montagem da 35a Bienal de São Paulo
    Flagrante de montagem da 35a Bienal de São Paulo Foto: Fotos: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
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postado em 13/06/2024 06:01 / atualizado em 13/06/2024 14:40
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