TELEVISÃO

Gabriel Godoy atribui êxito de Chicão ao texto, à direção e às parcerias de cena

Intérprete do palmeirense Chicão em Família é tudo, o corintiano Gabriel Godoy enaltece parcerias com o autor Daniel Ortiz, o diretor Fred Mayrink, a atriz Ramille, que faz seu par, e os cães com quem a dupla contracena. "Interesse pelo outro", frisa

 Gabriel Godoy, ator. -  (crédito:  Caio Oviedo/Divulgação)
Gabriel Godoy, ator. - (crédito: Caio Oviedo/Divulgação)

Um dos grandes êxitos de Família é tudo, atual novela das 19h, está no par romântico cômico Andrômeda Mancini (Ramille), uma patricinha obrigada a viver na zona leste de São Paulo, e Chicão do Nascimento (Gabriel Godoy), um mestre de obras palmeirense e chucro. A trama bem-humorada é um dos maiores destaques nas redes sociais, especialmente porque envolve dois outros personagens agregados: a spitz alemã Britney e o vira-lata Maradona, fiéis companheiros, respectivamente, da aspirante a cantora e do faz-tudo que formam o divertido e apaixonado casal que vive à base do morde e assopra.

"A nossa profissão de ator acontece no jogo entre os dois. Então tem que ter uma escuta, uma generosidade e, mais do que isso, tem que ter um interesse pelo outro", afirma o intérprete de Chicão, Gabriel Godoy, que celebra o sucesso do personagem dedicando-o também à colega de cena, Ramille.

Família é tudo marca a chegada do ator paulistano aos 40 anos de idade e 20 de carreira, além da parceria bem-sucedida que se repete com o autor Daniel Ortiz e o diretor artístico Fred Mayrink, que vem desde 2014, uma década atrás, quando estreou na tevê aberta na novela Alto astral, também na Globo.

Em entrevista exclusiva ao Correio, Gabriel — que esteve em Mar do sertão (2022/23) e gravou recentemente a aguardada novela Dona Beja, da Max — comenta o fato de ser um corintiano defendendo um torcedor roxo do Palmeiras, enaltece a troca generosa que construiu com a estreante no gênero Ramille e explica como funciona a dinâmica de gravação com os cachorros em cena. O capricorniano revela, ainda, o seu maior desejo profissional: viver um personagem dramático na tevê aberta.

  •  Gabriel Godoy, ator.
    Gabriel Godoy, ator. Caio Oviedo/Divulgação
  •  Gabriel Godoy, ator.
    Gabriel Godoy, ator. Caio Oviedo/Divulgação
  •  Gabriel Godoy, ator.
    Gabriel Godoy, ator. Caio Oviedo/Divulgação

Entrevista / Gabriel Godoy

Esta é a sua terceira novela de sucesso com o autor Daniel Ortiz e com o diretor Fred Mayrink. Como você define essa parceria entre vocês?

É uma parceria que deu certo, né? Eu acho que quando o Daniel e o Fred resolvem me chamar para Família é tudo, quer dizer que funcionou, e eu sou muito grato. Principalmente ao Daniel, que me deu essa oportunidade, lá em Alto astral (2014), de entrar na tevê aberta, o que é muito difícil, né? Eu fiquei durante quase 10 anos fazendo teste na Globo, e não passava. Foi através de um convite que eu consegui mostrar para a casa que eu poderia fazer um bom trabalho em novela, então é uma gratidão imensa. Outra coisa que eu adoro também é acompanhar o crescimento dos meus parceiros dentro desse mundo artístico, que é muito difícil. Na primeira novela que fiz, o Fred era um dos diretores do núcleo do Jorge Fernando (1955-2019). Hoje, o Fred é um diretor artístico, então, assim como ele cresceu desde a nossa primeira novela, o Daniel também, já que ele se mantém como principal autor, hoje, desse gênero mais popular de novela. Então, é uma alegria imensa acompanhar o crescimento deles também e espero que essa parceria dure muito ainda.

Em Haja coração (2016), houve uma dobradinha maravilhosa com a Tatá Werneck em cena, que se repetiu com Suzy Lopes em Mar do sertão (2023) e, agora, com Ramille, em Família é tudo. Como você costuma se preparar com a parceira de cena para dar essa química tão gostosa que a gente vê na tela?

Eu acho que essa química que deu muito certo com a Ramille e que também tive com a Tatá, em Haja coração, e com a Susi Lopes, em Mar do sertão, na minha visão, está muito ligada à disponibilidade do colega em jogar, em querer fazer dar certo. Porque eu acho que a nossa profissão de ator acontece no jogo entre os dois. Então, tem que ter uma escuta, uma generosidade e, mais do que isso, tem que ter um interesse pelo outro. Às vezes, a gente vê muito na nossa profissão pessoas que atuam sozinhas, que estão preocupadas com o dela, e eu acho lindo quando tem essa disponibilidade de dois parceiros de cena estarem ali construindo juntos, criando juntos, e realmente, nesta novela, está sendo um prazer imenso trabalhar com a Ramille. Ela é uma grande atriz e um grande ser humano, e isso também faz muita diferença. Eu acho que eu prezo muito pessoas do bem, pessoas bacanas neste mundo tão louco que a gente vive, neste mundo do entretenimento de tanta vaidade, tanto ego. Quando eu conheço uma parceira tão generosa como a Ramille, com vontade de fazer dar certo, fico muito feliz, e acho que a gente está colhendo esse fruto. Isso está ligado à disponibilidade de querer dar certo.

Uma curiosidade que o público tem é em relação às gravações com os cachorros...

Eu acho que é legal falar como é complexo gravar com cachorro, porque a gente sempre fala que fica tão legal na tevê, fica tão legal no ar, tão fofo, tão divertido, mas acho que a curiosidade quando você grava com os cachorros é que você tem que ir no tempo deles. Porque é um animal, então quando vai se fazer as cenas dos cachorros, todo time que grava uma novela dá uma pausa para aguardar a disponibilidade, o tempo dos cachorros. E eu acho isso bonito, porque a novela tem uma pressa, uma urgência, porque são muitos capítulos, um plano de filmagem que a gente tem que cumprir, e quando você grava com o cachorro, parece que o estúdio para, a gente tem uma suspensão e fala: "Tá bom, agora a gente está no tempo deles". E isso é muito bonito em meio ao furacão que é a gravação de uma novela.

Ramille e Gabriel Godoy com os cães que interpretam Britney e Maradona em Família é tudo
Ramille e Gabriel Godoy com os cães que interpretam Britney e Maradona em Família é tudo (foto: Manoela Mello/Globo)

E como tem sido viver um palmeirense roxo sendo um corintiano que já ficou até sem voz por causa do time?

Em 2012, quando o Corinthians foi campeão da Libertadores, eu fui em todos os jogos e criei um pólipo na corda vocal. Tive que operar. Eu praticamente estraguei minha voz no futebol. Foi bem difícil, mas estou zerado. Com relação a ser corintiano e fazer palmeirense, no começo eu falei: "Ai meu Deus do céu, Daniel Ortiz aprontando", mas tem dois pontos. Primeiro, que eu acho bem interessante a gente sair do eixo Flamengo e Corinthians e dar uma visibilidade para um time como o Palmeiras, que é um dos melhores do Brasil, senão o melhor time do Brasil na atualidade. E acho que também tem uma discussão que pode ser legal. O futebol que traz toda uma violência, uma brutalidade por trás, que a gente sabe, de torcidas, mundialmente falando, não só no Brasil, eu acho que traz também essa brincadeira de falar: Gente, está tudo bem, eu estou brincando de ser palmeirense. Eu não vou deixar de ser corintiano, né? Então, isso traz uma leveza que eu estou sempre falando nas entrevistas, também é para a gente poder brincar com isso. Meu sonho é poder ir no estádio com meu amigo palmeirense, a gente ver o jogo um do lado do outro. Então, acho que traz isso também de um ator corintiano estar fazendo um palmeirense.

 Sente falta de viver mais papéis dramáticos?

Sempre foi uma questão para mim por ter sido lançado na comédia na tevê aberta. Fiquei bastante preocupado durante um período, depois de Verão 90 (2019), porque eu estava vindo de uma sequência. Também fiz a série Homens, com o Fábio Porchat, no Comedy Center. Foram duas temporadas bem legais, que estão na Amazon. E aí, eu comecei a ficar mais atento a isso. Falei: "Gente, não vou querer ficar rotulado como comediante". Então, comecei a recusar algumas propostas de trabalho na comédia e direcionei mais para o drama. Isso foi um trabalho junto com a minha empresária, com o meu escritório e, a partir de 2021, começou a dar certo, porque fiz Rota 66 e A divisão, ambos no Globoplay. Também fiz a série Impuros e o Sequestro do voo, que é um filme que está na Starplus. E acho que, por ter feito essa sequência de projetos dramáticos, voltei para a comédia com tudo agora. Quando me convidaram para fazer Família é tudo, topei na hora, porque eu falei: "Está equilibrado". Vim de uma sequência de projetos dramáticos, mas o que eu almejo agora, hoje, é conseguir fazer um papel dramático na tevê aberta. Tenho feito muito nos streamings, no cinema, mas eu queria muito que a televisão me enxergasse também com uma possibilidade de fazer um papel dramático. Então, acho que esse é um trabalho que eu tenho feito, internamente, mas estou muito feliz com a minha carreira. Estou com 40 anos agora, estou completando 20 anos de carreira, e acho que venho administrando bem para estar fazendo trabalhos gostosos, mas trabalhos que dizem algo, trabalhos que que me fazem feliz também.

O que você pode adiantar sobre o papel no trabalho já gravado em Dona Beja e qual foi a preparação feita por você para viver esse personagem de época?

Dona Beja tem a questão de que eu não posso falar sobre o personagem, mas o meu personagem chama Honorato, no núcleo da Catarina Caiado, do Otávio Muller, da Kelzi Ecard. Um trabalho de época, né? Fiquei muito feliz justamente por isso. Nunca tinha feito um trabalho de época, então, para mim, foi muito especial nesse sentido, de poder visitar esse gênero, os figurinos, o visagismo, a prosódia. E tenho certeza que vai ficar um trabalho muito bonito. O elenco é espetacular, de grandes atores, que eu admiro demais. Acompanhei as cenas de gravação e falei: "Que potência é isso!" A primeira versão foi um sucesso, pelo que eu conversei, pelo que assisti também, então é um projeto que tenho muito carinho, muita expectativa agora, porém temos que esperar até 2025. Mas muito feliz de ter feito também uma novela em streaming, eu torço muito para que isso dê certo, porque ampliaria mais o nosso mercado. Espero que dê certo tanto no Max quanto na Netflix, enfim, nos outros players.

Como você enxerga essa nova fase do audiovisual, em que os streamings têm aberto esse espaço maior e mais livre para os artistas?

Neste exato momento, como eu tenho a minha produtora, estou sempre estudando o mercado audiovisual, mesmo sendo um mercado muito subjetivo aqui no Brasil, porque tudo muda toda hora. Eu acho que a gente está no momento, agora, bem de indefinição, porque aquele boom dos streamings que teve de 2020 até o ano passado, onde todos os estavam fazendo três, quatro, cinco séries ao mesmo tempo... Estou falando de Starplus, Netflix, Amazon, a Paramount.... Isso acabou, né? E isso me preocupa. É porque os players — meio que a gente até conversa internamente — estão indo embora. Temos poucas produções acontecendo agora; reduziu drasticamente. Talvez 70%, né? Ao mesmo tempo, o cinema voltou com mais força,. Os editais e os players também estão fazendo mais filmes. Porque é mais barato também. Mas é um momento que eu estou bem preocupado porque eu sou um ator que sempre trabalhei muito fora da Globo, sempre nesses players. E então, agora, com essa ausência deles neste momento, enquanto não tem a regulamentação dos streamings, que é uma luta, eu fico bem preocupado. Eu ainda sinto que talvez o melhor lugar é estar na Globo. Porque a Globo não vai parar. Acho que 2024 está sendo assim. Vamos ver para onde vai o que está acontecendo, para ver se 2025 tem essa regulamentação e se volta esse boom de trabalho. E aí eu acho que toda classe — atores, produtores, diretores, roteiristas fotógrafos — voltam a estar amparados por muitas possibilidades de emprego, que é o que eu mais desejo.

Você, aliás, despontou em um trabalho fora da TV aberta, que foi a ótima série O negócio, da HBO. Qual a importância dessa produção para você?

O negócio é a série que me coloca no áudio visual. Eu sou um ator de São Paulo que vem do teatro, estudei na Escola de Arte Dramática da USP, fiz muita peça de teatro cabeçuda em São Paulo. E aí eu tinha esse desejo de migrar para o audiovisual e tinha feito um filme, em 2009, chamado Os 3 e depois disso eu falava: "Gente, quero voltar a fazer audiovisual." Me apaixonei fazendo cinema. E aí quando eu tive a oportunidade de entrar em O negócio, foi incrível e eu não tinha ideia que a série ia durar tantos anos. Foram quase cinco anos de série, quatro temporadas, algo inédito naquele momento. O negócio, se eu não me engano, foi a primeira série achegar na quarta temporada naquele momento. Então eu tenho uma gratidão tremenda pelo projeto, pela HBO, pela Mixer, que é a produtora. Até hoje tem gente que me para falar do Oscar, de O negócio, então foi uma série realmente muito importante.

E como está essa faceta da sua carreira, que é voltada para a produção de roteiros de filmes e séries?

A Prelúdio Núcleo Criativo é a minha produtora ao lado do diretor e roteirista Vinícius Vasconcelos e do também ator Pablo Sanábio. A gente completou dois anos, e em constante movimento. A gente hoje colocou alguns projetos em produtoras maiores, porque a nossa é só de desenvolvimento, para ver caminhar os projetos de filme e séries. A gente muitas séries também para filme, agora tentando entender esse mercado, como eu te disse nas outras respostas, que está muito estável. Mas eu acho que é um projeto também muito longo prazo. Eu sou um apaixonado por cinema e quero muito poder contar as histórias que eu acredito, tanto como produtor quanto como ator. Eu acho que quando eu e o Pablo decidimos ter uma produtora, também é para a gente poder se colocar nos nossos projetos. E eu tenho certeza que a gente ainda vai colher muitos frutos, também nesse lado produtor.

 

 

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postado em 09/06/2024 08:00
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