Uma das grandes demandas da classe artística que trabalha com Artes Cênicas no Distrito Federal é a democratização do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e a destinação de mais recursos públicos para projetos de teatro. Em reunião com o secretário de Cultura e Economia Criativa, Cláudio Abrantes, no último dia 30 de abril, o Coletivo do Teatro do DF — composto por profissionais das artes cênicas — solicitou, entre outras questões, o aumento do valor destinado anualmente pelo FAC para o teatro. O edital do FAC I, que já havia sido publicado, foi retificado. O valor inicial que era de R$ 4 milhões foi corrigido para R$ 5,4 milhões destinados a 44 vagas, das quais 34 são para projetos de até R$ 100 mil e outras 10 para propostas de até R$ 200 mil. O investimento é maior do que os valores destinados pelo FAC ao teatro em 2022 (R$ 4,8 milhões) e em 2023 (R$ 4,3 milhões).
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O coletivo produziu ainda um relatório com propostas de aprimoramento de políticas públicas voltadas ao teatro. O secretário Cláudio Abrantes e o subsecretário de Fomento e Incentivo Cultural, José Carlos Prestes, se comprometeram com o grupo em discutir cada item do relatório em reuniões futuras. "Fizemos ainda a apresentação de um panorama da situação do teatro no DF hoje e mostramos como o FAC não dialoga com esse cenário. O secretário sinalizou a importância de entender melhor a situação do teatro no DF", informou o diretor, dramaturgo e membro do coletivo, Sérgio Maggio.
Território de talentos e referências que inspiram artistas no Brasil inteiro, Brasília tem uma cena teatral diversa e espaços culturais potentes, como o Teatro Nacional Cláudio Santoro. No entanto, grande parte desses espaços está fechada. Entre as principais queixas de quem faz teatro no Distrito Federal está a carência de espaços culturais. "O fechamento do Teatro Nacional não só atrapalhou a produção local como impossibilitou a vinda de espetáculos de reconhecimento nacional e internacional que muito favoreciam o intercâmbio com artistas do DF", analisou o ator e produtor cultural Jones Schneider.
"É necessária a valorização dos artistas, grupos e coletivos que trabalham de maneira independente, além da manutenção dos espaços culturais. Não aguentamos mais ver nas matérias de jornal que mais um teatro em Brasília está sendo fechado", lamenta o ator, diretor e dramaturgo Vinicius Ávlis. "A maior perda para o teatro brasiliense são os espaços culturais. Contamos nos dedos quantos espaços existem. Entre os que existem, não são todos que têm estrutura para receber todos os tipos de projetos", acrescentou o ator e produtor cultural Rafael Salmona.
O artista cênico e doutor em Artes pela Universidade de Brasília (UnB) Denis Camargo reforçou a necessidade de espaços culturais melhor aparelhados e mais distribuídos por diferentes regiões administrativas. "Falta investimento na construção de novos espaços e no aparelhamento dos que já existem. Para realizar alguns espetáculos, ainda que pequenos, precisamos de suporte técnico e tecnológico", observou. "Teatro Nacional fechado desde 2014 (10 anos), Teatro Nacional Plínio Marcos (antiga Funarte) precisa de melhorias, Teatro Goldoni e Sala Adolfo Celi não existem mais, Espaço Cultural Renato Russo possui questões técnicas (falta de ar-condicionado, mesa de luz, refletores etc.). Isso é um olhar apenas sobre o Plano Piloto", elencou.
Fechado há mais de quatro anos, o Teatro da Praça em Taguatinga é outro tradicional espaço cultural que está fora de funcionamento. De acordo com a Secretaria de Governo do Distrito Federal (Segov), um projeto de reforma ampla e definitiva para a recuperação do local está em fase de conclusão. O orçamento será feito assim que o projeto estiver pronto, no entanto, a pasta não informou quando será. Ainda segundo a Segov, a execução do projeto será viabilizada por meio de emenda parlamentar do deputado federal Reginaldo Veras (PV), que fez a indicação para a secretaria de Educação, e também com recursos da fonte 100 do GDF.
Teatro Nacional
A relevância do Teatro Nacional Cláudio Santoro transcende as artes cênicas. Patrimônio tombado e cartão postal arquitetônico de Brasília, o espaço foi projetado por Oscar Niemeyer e os palcos do teatro já receberam nomes como Fernanda Montenegro e Paulo Autran. Fechado desde 2014, o teatro mais importante da cidade fora de funcionamento tem enfraquecido a cena teatral de Brasília e desmotivado artistas.
Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), a obra da Sala Martins Pena, do Teatro Nacional, está 60% concluída. "Até o momento foram investidos cerca de R$ 60 milhões, recursos exclusivamente oriundos do Governo do Distrito Federal. A Sala Martins Pena e seu Foyer serão entregues à população no fim do ano, a depender de autorizações que se encontram atualmente no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)", disse a pasta em nota.
Temporadas
Outra grande carência do teatro no DF é o apoio a temporadas, isto é, o financiamento de um período mais longo das apresentações teatrais financiadas pelo FAC. "Não há estímulo para formação de grupo de teatro ou de manutenção de grupo assegurado. Você até aprova um projeto para trabalhar por um ano, mas e depois? Os editais estão obrigando os artistas e produtores a produzir com baixo custo para se encaixar nas linhas de apoio", observa o artista cênico e doutor em Artes Denis Camargo.
Ator e produtor, Jonas Schneider aponta a necessidade de aprofundar mais as discussões e incentivos públicos para a cultura feita no DF. "Hoje, ganha pontos no FAC quem faz cultura nas regiões administrativas com maior índice de vulnerabilidade, porém os teatros e auditórios desses lugares estão sucateados e sem condições de acolhimento do público. Artistas e técnicos da cadeia de criação e produção lutam para a democratização do teatro como linguagem dentro do FAC", salienta.
"Os projetos ficaram muito no lugar da montagem com pouco dinheiro e sem necessidade de temporada. Tem projeto do FAC aprovado para três sessões. Não existe teatro sem temporada. Não existe uma política de formação de plateias. Não existe uma política de manutenção de grupos. Tudo foi desmoronando", complementa o diretor e dramaturgo Sérgio Maggio.
Camila Guerra, atriz e produtora da Agrupação Teatral Amacaca (Ata), destacou ainda a necessidade da profissionalização da cadeia produtiva do teatro para quem quer trabalhar na área técnica. "Não temos muitos profissionais cenotécnicos na cidade, aí acaba que ficam sempre os mesmos trabalhando sobrecarregados. Carecemos também de profissionais de produção", comentou.
Outro gargalo apontado pela classe é a carência de linhas do FAC que tenham teto suficiente para financiar projetos com grandes elencos. "O fundo tem tetos muito baixos para algumas realidades de grupo. Um projeto de R$ 100 mil para um elenco como o nosso não é suficiente. Acabamos precisando buscar outras fontes ou fazer com uma ajuda de custo mínima", ressalta Camila Guerra, da Ata, companhia que conta com um elenco de 10 pessoas. "São muitos gargalos, mas já foi bem pior. Seguimos resistindo na teimosia, porque a gente prefere viver assim do que viver de outra forma", conclui.
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