Crítica // Imaculada ★ ★ ★
Se preservar de maiores relações humanas, zelar pela castidade e renegar bens materiais: mesmo seguindo toda esta cartilha, imposta pela Igreja, a jovem Cecília (Sydney Sweeney, dos sucessos Todos menos você e The white lotus) não se livrará de um verdadeiro banho de sangue, quando se instala em mosteiro erguido no século 17. Sob direção de Michael Mohan (de Observadores, que repete a parceria com Sydney) e com roteiro do estreante Andrew Lobel, Imaculada trata do desgaste e da maldição da moça que, com hímen intacto, se vê grávida num ambiente inóspito e no qual murmuram: "Você nunca vai sair daqui".
O rebento "concebido sem pecado, e, um milagre", como dito pelo cardeal Merola, cresce cercado pela descontrolada Isabelle (Giulia H. Di Renzi), por idosas freiras aposentadas, pela progressista Gwen (Bernardetta Porcaroli) e ainda pelo dissimulado padre Tedeschi (Álvaro Morte). Com ironia, Deus é contestado por Gwen: "A vida é tão cruel, que, sim, só um homem poderia ser responsável por tudo".
Tratamentos médicos duvidosos, rituais macabros e até uma cena de corte de língua (que remete a Salò, de Pasolini) estão no curso do chamado futuro "Salvador", no ventre de Imaculada. Aliados às cenas de vingança irrefreável, incêndios e temores advindos de crucifixos e tesouradas, outros pesadelos em nada calcificarão a máxima (dita no filme): "Sofrimento é amor". Pena que Imaculada chegue depois do expressivo sucesso do assemelhado A primeira profecia.