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Rotina de Mudanças: Festival Mistura Geral tem apresentação de Elisa Lucinda neste domingo

Com mais de 20 anos de estrada, espetáculo 'Parem de falar mal da rotina' está em cartaz no Teatro dos Bancários

Tudo começou há mais de 22 anos, quando Elisa Lucinda apresentou uma espécie de stand up com poemas permeados por histórias reais em um festival na Espanha. Quando voltou ao Brasil, decidiu montar um espetáculo baseado na ideia de juntar cenas com temas do cotidiano. Nasceu Parem de falar mal da rotina, espetáculo em cartaz há mais de duas décadas e que costuma lotar teatros nas principais capitais brasileiras. É com ele que Elisa Lucinda participa do Festival Mistura Geral — Artes Cênicas, no Teatro dos Bancários. Parem de falar mal da rotina está em cartaz desde sexta-feira e tem hoje uma última apresentação. 

É a oitava vez que a atriz e escritora se apresenta na cidade com o espetáculo, que já chegou a ter três horas de duração, mas foi reduzido para uma uma hora e meia. "Nesses anos todos, vou criando cenas, inventando, a vida me inspira e dela tiro as cenas", conta Elisa, que fez da peça uma versão em livro com boa parte das histórias contadas no palco ao longo dos anos. "O livro é o acervo de quase tudo", avisa. O espetáculo também nasceu de um livro. Naquele início de século 20, Elisa havia publicado Eu te amo e outras estreias, do qual extraiu alguns dos poemas do Cabaré poético, apresentado em Barcelona em 1999. "Foi quando descobri que cada dia é um, cada pôr do sol é um, por isso a gente fotografava a lua  cheia  todo mês como se fosse novidade. Essas coisas não perdem o frescor da estreia", acredita.

A rotina do título pode ser uma maneira de se referir ao cotidiano, mas está longe de ser, na concepção da autora, uma repetição de ações e comportamentos. "Não é verdade que a vida se repete. Os dias são muito distintos, muito específicos, não há como os movimentos serem iguais. E se tudo tivesse a ousadia da exatidão, de ser igual, mesmo assim não seria, porque nós somos diferentes", diz. O que o texto da peça propõe é que se olhe para os detalhes do cotidiano como se fossem sempre estreias, novidades, porque, no fundo, eles são mesmo. "Amanhã, eu não sou mais aquela que está falando com você hoje, cada dia a gente é um pouco diferente. A cada dia você sabe mais do que sabia ontem. Eu sei mais sobre escrever, cozinhar, até sobre amar do que sabia ontem. Essa expertise muda seu olhar e seu cotidiano. Isso é um dado", aponta a poeta. 

O outro dado, ela sugere, é pensar que o caminho de cada um é  traçado rumo ao inédito. "E por mais que a gente tente controlar, não sabemos qual o próximo momento, tentamos organizar tudo, mas não sabemos, porque não estamos sozinhos no planeta e mil coisas podem acontecer", diz. Prova disso é a própria peça. Parem de falar mal da rotina cresceu  ao longo dos anos graças ao fermento da vida real, que fez o texto se expandir com histórias vividas e ouvidas por Elisa Lucinda. Coisas como a observação de uma criança sobre a cor rosa — "um vermelho devagarinho" —, ou as cenas nas quais se "ouve bolsa", essa arquivada porque já não é mais um gesto tão comum, ou as interações espontâneas com a plateia, que acabam por acrescentar situações depois transformadas em outras cenas. "Na peça, refletimos juntos. Ela é um olhar de dramaturgia sobre nossa vida. Essa peça nasceu no palco", conta a atriz, que está feliz em voltar a Brasília pela primeira vez depois da pandemia. "Todos somos sobreviventes porque fomos vilanizados no governo anterior. Estou considerando essa volta uma redemocratização da cultura", avisa. 

Parem de falar mal da Rotina Com Elisa Lucinda

Hoje, às 20h, no Teatro dos Bancários (EQS 314/315 BL A ).

Ingressos: R$ 30 no link

 


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