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Atriz Belize Pombal dá vida a mulheres viscerais e reais em Justiça 2 e Renascer

Revelada ao grande público na primeira fase do remake Renascer e na série Justiça 2, a veterana Belize Pombal dá vida, quase ao mesmo tempo, a duas mães com forte instinto de proteção às filhas. "Dores que me atravessam como mulher e cidadã", afirma

Este tem sido, definitivamente, o ano de Belize Pombal. A atriz paulistana de 38 anos estava morando no Canadá há três anos, em meio à pandemia de covid-19, mas abriu mão do intercâmbio para retornar ao Brasil após passar em um teste para o audiovisual que mudaria a sua vida. Veterana na arte de interpretar, por esses caminhos tortos da vida, somente agora seu nome chegou ao grande público brasileiro. Graças a essa decisão. 

Em janeiro, Belize Pombal causou impacto com sua força cênica na primeira fase de Renascer, da TV Globo, quando deu vida a Quitéria, mãe da mocinha Maria Santa (Duda Santos), uma mulher oprimida pela violência doméstica do marido, Venâncio (Fábio Lago). Agora, em abril, surgiu como uma das protagonistas de Justiça 2, série antológica em cartaz no Globoplay, em que interpreta a manicure Geíza, uma moradora de Ceilândia, mãe solo e batalhadora que faz de tudo para criar a filha, mas, por uma peripécia cruel do destino, acaba se envolvendo no assassinato de um jovem traficante que perturba seu emocional — o que a leva a passar sete anos na cadeia.

Embora não seja ainda reconhecida nas ruas, nas redes sociais, as menções para a interpretação visceral da atriz têm sido consideradas dignas de prêmio. Em comum, Quitéria e Geíza são duas mães intensas no instinto quase animal de proteção aos frutos do seu ventre. "Eu acredito que cada uma ali, dentro do seu contexto, se esforça para defender e proteger as filhas", afirmou Belize, que ainda não experimenta a maternidade na vida real, em conversa com o Correio.

Globoplay/Divylgação - Atriz gravou em Ceilândia as cenas como a sofrida Geíza, protagonista em Justiça 2

Nas duas produções, ela foi dirigida por Gustavo Hernández que declarou, em coletiva de imprensa, ter ficado "chocado" com o teste feito pela atriz. "Não é possível, essa mulher não é atriz, ela é a própria personagem", exclamou. Na mesma conversa on-line com jornalistas, a própria artista resumiu: "É uma personagem que fala tanto de mulheres com quem convivi!"

Criada na zona norte paulistana, a atriz, formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), também pode ser vista na quarta temporada de Sessão de terapia, série da GNT dirigida por Selton Mello, e na série do Space Irmãos Freitas, sobre a vida do lutador Acelino Popó de Freitas, dirigida por Walter Salles, Sérgio Machado e Aly Muritiba. Atualmente, ela está gravando o filme Vítimas do dia, produzido pelo novo Núcleo de Filmes dos Estúdios Globo, com direção de Bruno Safadi. Confira a entrevista!

Globo/Divulgação - Quitéria esteve na primeira fase de Renascer

ENTREVISTA | Belize Pombal

Além de serem mulheres pretas, periféricas e com fortes dramas familiares e de violência, o que a Quitéria de Renascer e a Geíza de Justiça 2 têm em comum?

Eu acho que a Quitéria e a Geíza têm em comum, talvez até mais coisas, mas acredito que cada uma ali, dentro do seu contexto, se esforça para defender e proteger as filhas, como elas podem ir com as particularidades, potencialidades e fragilidades no contexto de cada uma.

 

Ainda que dentro da bolha, a sua "revelação" em Renascer tenha sido festejada pelo público e pela crítica, à época do lançamento da novela, você declarou não ser reconhecida nas ruas. Mesmo sendo no streaming, isso mudou com Justiça 2?

Isso é engraçado porque parece que eu reclamei que não estava sendo reconhecida, e não foi isso. Me perguntaram numa entrevista como estava essa relação com o público, se me reconheciam e tal, e aí eu respondi que não, que não era reconhecida. Naquele dia, inclusive, eu tinha ido ao shopping, fiz o que tinha que fazer e voltei para casa sem nenhuma interação com pessoas que eu não conhecia, por conta do meu trabalho. Mas aí, curiosamente, à tarde, eu saí com a minha cachorrinha, e uma senhora me parou e falou: "Você não fez a mãe da Santinha?". Então, aos poucos, essa interação vem ganhando algum volume, mas também não é algo frequente, cotidiano, nada disso. E tudo bem. Mas, de todo modo, por meio das redes sociais, eu tenho recebido bastante carinho das pessoas por conta do meu trabalho, obviamente meu trabalho de interação com outros parceiros e profissionais, e está sendo muito bacana ter essa recepção que continua calorosa, amorosa, respeitosa. Porém, também sou bem caseira, então, não estou o tempo inteiro entre multidões, mas, quando saio, não costuma acontecer isso não, de me pararem porque me reconheceram, me abordarem. É carinhosamente, quando acontece, mas não é frequente. E tudo certo.

Tanto em Renascer quanto em Justiça 2, suas personagens vivem traumas muito fortes envolvendo suas filhas. Pode comentar sobre a necessidade exigida pelo texto dessa entrega visceral envolvendo a maternidade nesse lugar tão dolorido para uma mãe? E como essas dores das personagens lhe atravessam?

Eu não sou mãe, até o momento pelo menos, mas realmente foi necessário uma entrega e um olhar empático e muito respeitoso para as questões abordadas no texto dos dois projetos, tanto em Renascer quanto em Justiça. Mas (essas dores) me atravessam como mulher, como cidadã, reconhecendo a importância de nós olharmos para as temáticas que foram colocadas ali em foco, que são muitas questões urgentes e sérias. Eu olhava para tudo que era proposto na história das personagens com muito respeito e com muita amorosidade, me sentindo, inclusive, em um lugar de me exercitar e fazer o melhor possível para honrar essas histórias que dialogam com as histórias de muitas pessoas.

Nas coletivas da série, você celebrou o fato de as produções da tevê e do streaming atuais estarem tocando em feridas sociais importantes. Acredita que o brasileiro médio esteja preparado para discutir essas questões urgentes com maior profundidade?

É difícil responder isso, porque isso abarca, ao mesmo tempo, perspectivas individuais e questões coletivas. Mas independentemente de cada indivíduo estar preparado ou não para lidar com esses temas, eles estão aí, clamando por resoluções, por atenção, por acolhimento. Então, eu acho que a história é viva, está acontecendo o tempo inteiro, estamos aprendendo o tempo inteiro, querendo ou não, e a gente também se prepara para lidar com as questões do todo, sociais e individuais, e para as questões da vida. A gente se prepara também ao longo do processo. Então, eu acho que o aprendizado é inerente à vida, independentemente do nosso desejo. É preciso aprender a crer que a gente está aqui para melhorar. E que ninguém sabe tudo que estamos todos aprendendo, mas eu acho que ajuda muito querer fazer esse exercício de aprendizado, e cada um faz como pode ou como quer, mas é inevitável em algum momento lidar com as questões que a vida propõe ou impõe um volume maior, para o coletivo.

Para você, onde se encontra a linha tênue que diferencia o desejo de justiça com o de vingança?

Nossa, difícil! Eu acho que é uma questão para a humanidade conseguir diferenciar e dosar os nossos impulsos de vingança ou irracionais, e realmente investir energia em algo que traga mais justiça para as dinâmicas da vida. Eu não sei te responder, porque eu também estou aprendendo.

Como foi a sua percepção de Brasília durante as gravações? Já conhecia a cidade? O que mais te impactou?

Eu ainda não conhecia Brasília e, na verdade, fiquei muito imersa no trabalho. Então, eu não consegui conhecer, de fato, mas tenho a sensação que cada lugar tem sua atmosfera própria, e Brasília não é diferente. Eu fui muito bem recebida, então, do pouco que tive de vivência além do trabalho, não tenho nenhuma lembrança ruim, mas não consegui conhecer de fato, porque eu fiquei a maior parte do tempo trabalhando, voltada ao trabalho.

 


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