Segundo a mitologia grega, Afrodite é a deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Para além do amor puro, ela representa a loucura dos sentimentos e a paixão ardente que, por vezes, pode ser nociva. Esse é o conceito do álbum Afrodhit da cantora Iza, considerada um dos principais nomes da música pop e R&B brasileira. Ela trouxe a turnê desse disco para Brasília, na semana passada, no Sesc Guará, em show gratuito. A apresentação passou pelas faixas Fé nas maluca, Que se vá, Mega da virada, Nunca mais e Fiu fiu, mas também por canções de sucesso como Brisa, Pesadão, Meu talismã, Fé e Sem filtro.
Afrodhit é o segundo álbum de estúdio de Iza e foi lançado no ano passado, em agosto. A história da produção dele é inusitada e marcante, tendo em vista que foi construído intensamente durante cinco meses, após a cantora descartar um outro disco que estava completamente pronto, por não se identificar mais com ele. Segundo a cantora, ela passou por uma revolução interna para conseguir ser honesta consigo mesma e se sentir confortável para trazer nas canções o que e como ela realmente se sentia. "Esse álbum é 100% eu, totalmente como eu me sinto hoje, e isso está presente em todas as letras das músicas, as escolhas das melodias, de todos os parceiros e parceiras", explica ao Correio.
Apesar do outro álbum — lançado em 2018 — se chamar Dona de mim, é na fase atual que a artista, realmente, é dona de si mesma. Segundo ela, estava em um momento completamente diferente do atual, pois "a Iza que chega a Brasília é uma cantora que fala sobre as coisas com mais leveza e que se sente à vontade para falar sobre todos os assuntos". As letras ressaltam o poder da autonomia e feminilidade das mulheres, tratando de amor e empoderamento feminino. "Eu me sinto mais completa, mais certeira, desde a produção do meu álbum e agora mais do que nunca. Afrodhit foi o trabalho mais feminino que eu já fiz e isso só tem aflorado mais ainda com a gravidez", ela conta. Recentemente, a artista anunciou que está grávida do atual namorado, o jogador Yuri Lima.
Não era apenas um novo álbum que estava chegando às plataformas digitais de áudio, mas também uma nova Iza. O projeto marcou o início de uma fase de obras mais coesas, maduras e evoluídas, que evidenciam uma cantora mais sincera com a própria personalidade artística. É um disco sobre amor, que conta essa trajetória de término tenso seguido de batucada, dança, flerte e o despertar de uma nova paixão. Além das letras, ela também se expressou pela diversidade dos ritmos, com elementos da MPB, rap, trap, reggae, reggaeton e rock nacional.
Os feats do disco são com Djonga, L7nnon, MC Carol, Russo Passapusso, King Saints e a cantora nigeriana Tiwa Savage. "A conexão com o Douglas Moda, que produziu o álbum, e com as meninas, Lary, Carolzinha, a Jenny e a King, contribuiu muito para essa intensidade (da produção). Foi terapêutico compor com elas e foram momentos muito especiais", diz a cantora.
Para construir a estética e o conceito do álbum, Iza bebeu da fonte de comédias românticas e desenhos animados. Ela sempre quis contar a história de um ser que fosse diferente, "que não fosse nem humano e nem extraterrestre", explica. Para isso, ela se inspirou no filme Splash — Uma sereia em minha vida, que sempre acompanhava na Sessão da Tarde, mas também na personagem Garnet, uma heroína negra da animação Steven Universo, da qual ela também gostava muito. "Além disso, Afrodite é uma deusa que volta para a Terra de tempos em tempos. Ela vem para o mundo se sujar de vida e experimentar o amor", completa.
Por perceber na música um instrumento de mudança social, Iza também expressa a luta pela valorização da cultura negra contra o racismo na estética dos projetos. "Sempre disse que meu microfone é minha arma e ele precisa ser usado com sabedoria, não só para realizar meus sonhos e pagar as minhas contas, mas para falar sobre temas que precisam ser ditos", destaca a artista.
Afrodhit foi eleito o melhor álbum de 2023 pelas revistas Veja e Rolling Stones, além dos sites Papel Pop e Tracklist. O disco também se manteve no Top 3 da parada global do Spotify nos primeiros dias de lançamento. Nos últimos anos, ela conquistou relevância e popularidade no mundo artístico e foi a primeira brasileira negra a cantar no palco principal do Rock In Rio, em 2022. No ano passado, ela tocou na primeira edição do festival The Town, outro marco na carreira, e em 2024, estreou o primeiro bloco de carnaval, Bonde Pesadão, em São Paulo. "Eu senti muita falta de ser representada quando era mais nova. E ser instrumento de representatividade é um combustível muito forte e potente para mim", ressalta.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco
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