O segundo dia do C6 Fest chegou junto com o clima de festival de música. O evento teve shows a partir das 15h30 e durou até a madrugada no Parque do Ibirapuera em São Paulo. Dividido em três palcos, o dia foi pensado para agradar idades e nichos diferentes de amantes de música. Isso, sempre mantendo o cerne de apostar em artistas fora do eixo mainstream.
A tarde começou com o músico cubano Cimafunk. O cantor aproveitou o calor de quase 30 ºC para esquentar o palco principal com um groove que remete ao funk norte-americano dos anos 1970 e 1980, mas com a levada dos ritmos afrolatinos. Com uma banda formada por metais, percussão, baixo, bateria e teclados, Cimafunk foi o responsável por juntar o público e transformar o C6 em uma pista de dança. O artista surpreendeu e saiu, literalmente, abraçado pelo público, uma vez que chamou mais de 25 pessoas para o palco no final da apresentação.
Representantes brasileiras da lineup, Jaloo e Gaby Amarantos fizeram um show que juntava o pop rebuscado e tecnobrega e trouxeram o que há de melhor na música do norte do Brasil, afinal: “Se não tem o Norte no palco, não dá para dizer que é um festival de música brasileira”, disse Gaby Amarantos logo que empunhou o microfone. No show mais cheio do início do segundo dia, as cantoras pareciam estar se divertindo como amigas e esse sentimento contagiou o público que começava a lotar o Ibirapuera.
O afrobeat é um dos gêneros que está em mais franca ascensão mundialmente, mas no Brasil permanece ainda como um estilo adjacente às possibilidades do pop e do hip-hop. Ayra Starr foi a artista que trouxe esta música para o festival. Em um ato bem completo, acompanhada por banda e corpo de dançarinas, a cantora que nasceu no Benin e foi radicada na Nigéria apresentou propriamente o motivo do afrobeat estar conquistando o mundo.
Ayra estava muito feliz de estar no Brasil. Esse ânimo foi revertido em interação com o público, no conjunto que vestia com as cores da bandeira do país ou na opção de apresentar músicas que ainda nem foram lançadas em primeira mão para o público. Porém, o mais inusitado foi o fato da cantora tirar o tempo de uma música inteira para dançar funk ao lado das dançarinas. Em um mashup que uniu faixas como Ah lelek lek e Bonde das maravilhas, a artista se mostrou por dentro da cultura do país. Um show de gente grande para promessa de 21 anos do pop.
Um dos nomes que mais visitou o Brasil nos últimos anos, Romy veio pela primeira vez com uma performance solo. Conhecida como guitarrista e vocalista da banda The XX, a artista apresentou o projeto dance capitaneado pelo disco Mid air, lançado em 2023. Em uma empreitada que flerta com eletrônico, Romy deixou de lado a melancolia melódica do XX e fez uma apresentação voltada para a pista de dança.
Quem sucedeu Romy foi a grande aposta acertada do festival. A britânica Raye entregou tudo que se esperava de uma recordista do prêmio Brit, o Oscar da música do Reino Unido. A artista apresentou o excelente álbum de estreia My 21st century blues com toda a potência vocal e gostosa mistura de R&B e hip-hop que a diferencia do pop que vem sendo feito no mainstream. Raye fez uma apresentação catártica e arrepiante, emocionou quem já a acompanhava e conquistou quem não a conhecia.
A artista que já fazia sucesso fazendo as partes vocais para Djs, agora teve a oportunidade de abrir o coração sobre si. Essa abertura com público chamou atenção. Muito carismática, Raye conversou em inglês com os brasileiros do C6 entre cada uma das música. Ela realmente confessou, desde uma intoxicação alimentar por conta de uma ostra, até vícios e abusos que sofreu na infância e juventude. “Obrigado por me deixar ser tão vulnerável com vocês”, disse emocionada após uma das canções. A impressão que ela deixou foi que o momento e a conexão com os brasileiros ficariam marcados na história não só do festival, como dos presentes. Raye fez um daqueles shows que serão comentados por anos como uma excelente estreia em terras nacionais.
Do futuro da música, C6 Fest passou para a nostalgia. A banda Soft Cell assumiu o palco com os hits das pistas de dança dos anos 1980. Foi possível perceber uma virada de público, os jovens que acompanharam Ayra Starr, Romy e Raye deram espaço para que os mais velhos curtissem o som marcante de uma geração das bandas de pop britânicas que lotavam as discotecas há décadas.
Apesar de terem um repertório com alguns sucessos de mais de 35 anos de idade, foi Tainted Love, sucesso absoluto da trajetória da banda, que colocou todo o público para cima. Em um dos momentos mais unânimes do festival, o público cantou em uníssono e se aproximou do palco em um primeiro encontro muito aguardado pelo público brasileiro.
A atração jovem mais consolidada fechou o palco principal. O duo Black Pumas juntou o maior público da noite para a segunda apresentação da carreira no Brasil. Os artistas norte-americanos trouxeram a mistura de blues, rock clássico e R&B em uma performance de cantar a plenos pulmões, principalmente sucessos como Colors e Black moon rising.
Quando vieram a primeira vez, no Lollapalooza 2022, eles já se apresentaram para muitas pessoas em uma tarde de domingo. Entretanto, nesta turnê do Chronicles of a diamond, segundo disco de estúdio da banda, pareciam mais seguros da posição de grandes artistas. A qualidade do show foi a altura de uma atração principal de grandes eventos, a sinergia da banda estava em dia e as canções carregadas de emoção, tanto na letra quanto na melodia, fizeram jus a todo barulho que o grupo faz com o público e crítica. A grande performance do vocalista Eric Burton foi um destaque da noite, o músico deixou a altura do palco e se juntou aos espectadores. Em meio a selfies e pedidos de abraços, o frontman sentiu literalmente o tão falado calor brasileiro.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br