Música

Jovem Dionísio fala sério enquanto brinca em segundo álbum

Disco Ontem eu tinha certeza (hoje eu tenho mais), lançado em 10 de maio, tem a essência ousada da banda

Jovem Dionísio continua sem buscar a fórmula do sucesso -  (crédito: Fernando Mendes/Divulgação)
Jovem Dionísio continua sem buscar a fórmula do sucesso - (crédito: Fernando Mendes/Divulgação)

A responsabilidade vem com o sucesso. Jovem Dionísio aprendeu isso no trajeto que começou após o lançamento de Acorda Pedrinho, em 2022. A banda já tinha alguns singles que agradaram ao público, mas se viu, da noite para o dia, como um dos grupos mais escutados do país. Agora, em novo momento lançou, em 10 de maio, Ontem eu tinha certeza (hoje eu tenho mais), o segundo disco da carreira, revelador da capacidade dos integrantes serem maduros sem necessariamente levar tudo a sério.

A banda formada por Bernardo “Belni” Pasquali (vocal), Gustavo “Gugo” Karam (vocal e baixo), Ber Hey (teclados) e os irmãos Gabriel “Mendão” Mendes (bateria) e Rafael “Fufa” Mendes (guitarra) soma mais de 2,4 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Os maiores hits até o momento são Acorda Pedrinho, que acumula quase 200 milhões de reproduções somando todas as plataformas, e o single Pontos de Exclamação que já ultrapassa os 100 milhões nos streamings. Juntos fizeram shows pelo Brasil e pelo mundo. Fizeram apresentações em festivais como o Rock in Rio, tanto a edição carioca quanto a portuguesa; Primavera Sound e Rock The Mountain.

Tudo que os jovens artistas conseguiram não ocorreu só no primeiro disco. “Um dia a gente estava fazendo o primeiro show da tour; no dia seguinte a gente estava no Domingo Legal, pois o convite veio algumas horas antes do show. Dali alguns dias, a gente estava no Rio de Janeiro, indo gravar o Luciano Huck e ainda conhecemos o Gilberto Gil”, lembra Belni. “A gente só está vivendo a parada, às vezes parece que as coisas acontecem diante dos nossos olhos”, comenta em entrevista ao Correio.

Portanto, o período que encontraram a fama também foi um tempo de aprendizado. Afinal, o grupo de amigos navegava junto em uma jornada desconhecida e intimidadora. “A gente não teve diretriz nenhuma para fazer a primeira tour, era só a gente descobrindo o que era legal de fazer, o que a gente se sentia confortável e sempre buscando estar curtindo a parada”, explica o vocalista. “É como se você tivesse apanhando, mas olhando para o lado para rir do seu parceiro que está apanhando junto”, brinca.

Nessa caminhada, chega o momento de Ontem eu tinha certeza (hoje eu tenho mais), um álbum que não tem uma coesão pensada previamente, mas que virou um corpo de obra orgânica pelo afinco desses músicos que trabalharam em cima de cada canção. “Fomos mais criteriosos nesse disco, enquanto no outro a gente fechou tudo em praticamente dois retiros, nessa a gente trabalhou por dias em cada música até chegar no que queríamos”, recorda Fufa, que acredita que por este motivo o álbum soou diferente. “A gente foi criterioso, mas a gente continuou na essência de não seguir um caminho. Não é porque alguma coisa deu certo no primeiro que a gente vai seguir isso e fazer disso o nosso norte”, explica.

“Querendo ou não, a gente sempre está em busca de evoluir. Nesse quesito, eu acho que a gente evoluiu, pelo menos tecnicamente”, destaca o baterista Mendão. O disco tem o apelo indie e pop, que fez da banda um fenômeno, mas as possibilidades que as portas abertas do mundo da música deram tornaram as novas músicas mais experimentais. “A gente usou a nosso favor os recursos que a gente tem à mão, tudo que tínhamos à disposição para fazer as coisas que gostamos, nunca tínhamos trazido e sempre tivemos vontade”, conta.

A ideia surgiu do fato de que o segundo disco de uma banda após um grande sucesso na estreia pode ser assustador. “Sempre pensávamos: ‘O primeiro álbum deu bom, ainda mais com Acorda Pedrinho e tudo mais, o que a gente faz agora?’”, confidencia Mendão. Contudo, a leveza que carregam os fez fugir dessa armadilha. “A gente sempre bota nossas conversas na mesa como uma grande terapia. E se fosse como na terapia, o segundo álbum seria o nosso monstro. Porém é melhor você abraçar o monstro do que lutar contra ele”, completa o baterista.

Por isso, o tom é de brincadeira, mas o trabalho é com a responsabilidade de adulto. “A gente sempre acredita no nosso trabalho. O princípio de tudo sempre foi o que a gente curtiu escutar, o que a gente deu risada e o que a gente acredita pode ser válido para outras pessoas também”, pontua Gugo. “No início, a gente experimentava menos, mas o tempo foi passando e fomos tendo mais artifícios para fazer diferente. Cada um foi se soltando para acreditar nas próprias pirações e decidimos comprar mais essas brigas. No final das contas, o critério é o mesmo, a gente escutou essas coisas, gostou e resolveu trazer para o resto da galera”, analisa o músico, que entende o porque nem sempre parece que tudo é feito com seriedade. “Eu me pegava pensando: ‘a gente está trabalhando sério em cima de um som que se chama Bagre’”, ri fazendo referência a uma música estranha que ocupava a faixa 6 do álbum.

Para eles, o processo foi importante para entender que ser adulto não significa ser sério o tempo todo. “Esse é um amadurecimento natural. A gente precisa respeitar isso que a gente está fazendo. A gente curte, se diverte e leva com a mesma leveza do início, mas sabemos as responsabilidades que temos para fazer a máquina rodar”, diz Belni. “A gente leva a sério tudo isso, mas sem perder a piada. A gente gosta de pegar uma piada e levar ela a sério”, acrescenta.

Amigos de bar

Durante a entrevista, feita por vídeo-chamada com os cinco integrantes da banda na mesma sala, um dos carros deles disparou o alarme e, em meio a uma resposta, começou uma discussão sobre de quem era o veículo, que levou ao tecladista Ber Hey. Ele de pronto respondeu: “O que é isso, Escortão não tem alarme” e todos riram. Esse clima é a melhor representação do que é a banda. Amigos que se encontravam no Bar de um senhor chamado Dionísio no Alto da Glória, em Curitiba, e, despretensiosamente, chamaram a atenção do Brasil.

Mesmo com a agenda cheia, com viagens pelo Brasil, programas de televisão e premiações, ainda é no Bar do Dionísio que eles se juntam para pensar na vida. “É uma sensação engraçada”, pontua Gugo. “Até por isso que a gente ainda mora em Curitiba, porque a gente gosta de voltar e olhar para todas essas nossas aventuras e jornadas. Voltar, sentar no bar do Dionísio e perceber que tudo mudou, mas continua igual”, complementa Mendão.

Para eles, o lugar onde tudo começou é também o ponto onde se lembram como é a vida para além do agito do show business. “Às vezes, a gente viaja, faz muita coisa, conhece muita gente e quando chega aqui, os minutos parecem ser contados na velocidade certa”, acredita o vocalista da banda.

É como um grande encontro de família nos buracos de agenda deixados pelas turnês. “É tudo bem família, fico pensando que a gente perdeu dois dos nossos grandes amigos do bar nos últimos tempos, um deles foi o Pedrinho”, lembra Ber Hey. “A gente gosta muito de todo mundo, se a gente fica duas semanas sem ir, mesmo que seja só para botar o papo em dia com o pessoal, já parece que está faltando alguma coisa”, comenta.

Brasília e nova turnê

Naturais do Paraná, os músicos foram abraçados por todo Brasil. A capital criou uma relação especial com os músicos que já se apresentaram duas vezes nos palcos de Brasília, conheceram a pizzaria Dom Bosco, da 107 Sul, e tomaram cerveja no bar dos Simpsons, na 307 Sul. A banda confirmou na última sexta um show no Toinha Brasil Show, no dia 17 de agosto. “Já vamos pedir para comprarem as passagens para um dia antes, para gente comer aquela Dom Bosco”, fala Belni.

O amor por Brasília está marcado para sempre também no disco com a faixa Sinto muito (demo), uma parceria com o grupo de pagode Menos é Mais. “ A gente já os conhecia pessoalmente, mas só de trombar em evento, ou no camarim deles, ou no aeroporto”, lembra o vocalista, que conta que foram várias guias enviadas até dar certo. “Porém a conexão sempre foi maneira e a gente falava: ‘temos que fazer uma música juntos’. Agora, deu certo”, completa.

Para esse reencontro com Brasília, a Jovem Dionísio promete um pouco de tudo para matar a saudade. “Vai ter dancinha de boyband de K-Pop, vai ter uniforme, sem uniforme, vai ter mortal do Fufa, se ele aprender a fazer a tempo, talvez tenha até semi-nudez do Ber Hey. É para chorar, para dancar, para cantar junto e para todo mundo”, crava Belni. 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 27/05/2024 06:00
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação