A literatura de cordel ganha uma homenagem em um sarau gratuito promovido pelo CCBB. O Sarau cordéis cerratenses será o programa educativo do centro cultural neste domingo (19/5), com a presença dos cordelistas brasilienses da nova geração Sabiá Canuto e Davi Mello.
O cordel originou-se no trovadorismo medieval europeu, por volta do século 12. Os versos rimados eram impressos em folhetos e pendurados em cordas ou cordéis, como são chamadas em Portugal. Chegou ao Brasil por meio dos colonizadores e se difundiu, principalmente, no Norte e no Nordeste. Muitos escritores brasileiros foram influenciados pelo estilo, entre eles Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Inspirados pela tradição literária nordestina, Sabiá e Davi recitam as obras para o público no palco do CCBB. Davi ressalta que seus contos seguem a linha de histórias fantasiosas dos encantos do Cerrado, com direto a um conto de Lampião enfrentando os desafios da pandemia do covid-19.
O artista diz que Brasília foi construída, principalmente, por migrantes do Nordeste, que trouxeram várias manifestações para a cultura da cidade, entre elas o cordel. “Ele faz parte do enredo da capital, que é essa mistura de tantas histórias e culturas tradicionais do Brasil”, diz.
“O cordel conta histórias não oficiais, muitas vezes. É a narrativa do povo, contada pelo povo e para o povo. Muitas pessoas dos interiores do Brasil foram alfabetizadas a partir do cordel, por ser um assunto popular e uma leitura cantada, permitindo uma interpretação fácil das palavras e do assunto”, defende Davi.
O cordelista argumenta que, frequentemente, o cordel não é conhecido ou é confundido, por ser um gênero que mescla muitas linguagens artísticas, já que abrange a ilustração, a xilogravura, a música e a literatura.
O fim da literatura de cordel com a popularização dos meios digitais é um assunto que vale a pena ser discutido na opinião dos cordelistas. A imprensa, rádio e televisão não acabaram com o gênero por ele ser adaptável e poder ser cantado em áudio.
Sabiá Canuto compartilha do sentimento da importância de continuar a difundir a arte do cordel e ressalta o registro do gênero literário como Patrimônio cultural imaterial em 2018: “Envolve uma rede de trabalhadores da cultura, desde poetas, declamadores, editores, ilustradores, xilogravuristas e folheteiros. O cordel é expressão viva e genuína do povo, é expressão poética popular, é tradição, é artesanato, e é também resiliência, sobrevivente a tantas revoluções tecnológicas”, lembra.
Descendente de nordestinos, Sabiá traz em sua arte tem influências da região. Ao lado de Davi, o artista aprendeu a tocar pífano e instrumentos tradicionais do baião e do forró pé de serra com o mestre pernambucano Zé do Pife: “Tudo aquilo me impressionava muito e, como já cursava Letras e escrevia versos, quis também me expressar por meio das sextilhas, setilhas e décimas do cordel.”
Serviço
Sarau cordéis cerratenses
No domingo (19/5), às 17h. Faixa etária livre. Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos a partir das 9h, no dia do evento, presencialmente ou no site www.ccbb.com.br/brasilia/ccbb-educativo/
*Estagiária sob supervisão de Nahima Maciel
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br