Depois de teste via zoom, a atriz Carol Duarte se viu aprovada para o desafio internacional de filmar na Itália: o resultado da experiência junto à diretora Alice Rohrwacher está no longa La chimera (exibido na seleção competitiva de Cannes), atualmente em cartaz na capital. Dado o misto de poesia, beleza e política, a diretora reforçou a admiração da estrela paulista. "O cinema dela salta para um entendimento mais provocativo, imagético, surpreendente e cheio de beleza. É uma artista sensível, genial, e cria um realismo fantástico, ao convidar espectadores a entrarem em seu mundo", comenta a atriz, sempre lembrada pelo papel do homem trans Ivan, na novela A força do querer (2017).
"Sei da responsabilidade de tratar de temas de maneira séria, encadeando diálogo. É possível, ainda que timidamente, mudar ou questionar certos preconceitos com a arte, uma vez que a arte passa pela sensibilidade, nisso é ampliada a luta contra a LGBTQIA fobia", analisa a atriz de 32 anos que filmará, no Paraná, o longa No tempo da delicadeza e vai estrear o espetáculo, em temporada carioca, A visita, em julho.
Carol encara cada filme como "nova aventura". La chimera traz a curiosidade de ela atuar ao lado do astro de Rivais Josh O'Connor e da filha dos lendários Roberto Rossellini e Ingrid Bergman, a diva Isabella. "É uma atriz estupenda; e estar em cena com ela (com quem teve cenas de cumplicidade absoluta em um casarão) e Josh rendeu prazer imenso; aumentou a admiração profissional por ambos", diz. La chimera se une à experiência com o sucesso de Karim Aïnouz (formado pela UnB), A vida invisível, pela diretora de fotografia, em comum, a ambos: Helene Louvart.
Ironicamente, no filme, Carol dá vida à estrangeira Itália apaixonada por Arthur (O'Connor). "Funcionamos em contraponto: Arthur é um protagonista em busca da sua quimera, que está no passado, debaixo da terra; já Itália é conectada ao presente, ligada ao porvir e à beleza de um mundo a ser transformado. Ela está atenta e viva", avalia. Uma solidária decisão — de tomar ação em prol do coletivo — reforça traços de Itália. "Isso é a visão de uma diretora mulher, que tem seu feminismo, junto com uma fotógrafa mulher, dados que existem e precisam ser levados em conta — por que não se considerar o cinema feminista?", opina.
Na ponta da língua dela residem momentos históricos no cinema, a partir da contribuição italiana. "Além de Roma, cidade aberta, de Roberto Rossellini, e de Ladrões de bicicleta (Vittorio de Sica), filmes que me deixaram rastros, vejo grandiosidade em Noites de Cabíria (de Fellini) que tem, na última cena, uma das coisas mais lindas que o cinema já reproduziu", observa. Filmar no exterior reafirmou a visão, in loco, interesses do exterior pela música brasileira e ainda o futebol. "Maravilhoso ver que pessoas sabiam, de cor, músicas de Gil e Caetano. Lembro ainda que havia uma preocupação (com as eleições) na época das filmagens. Era muito ruim e desastrosa a impressão da política brasileira naquela época do antigo presidente Bolsonaro. As pessoas me perguntavam como havíamos elegido alguém tão ruim para conduzir o país; felizmente, estamos retomando uma visão mais positiva do nosso Brasil", conclui.
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