The tortured poets department, décimo primeiro álbum de estúdio de Taylor Swift, decepciona na primeira ouvida. Marcado por uma sonoridade synthpop comunal — para não dizer repetitiva — aos anteriores lançamentos da carreira, Taylor se debruça sobre a composição de faixas especialmente escritas para soarem emocionantes e poéticas. O que acontece durante a audição do disco, contudo, está longe de emocionar quem se atente às letras, quase sempre verborrágicas, e à produção reciclada de outros projetos da cantora.
Taylor é líder de vendas de mídias físicas (CDs, discos de vinil, cassetes, etc.) em tempos em que o sucesso de um artista é estipulado pela quantidade de reproduções e streams nas plataformas de música — TTPD foi o álbum mais escutado em um único dia na história do Spotify. Mas, para além de dominar as principais paradas de música, a cantora parece não dar trégua entre um lançamento e outro. Em um intervalo de menos de cinco anos, a cantora lançou oito álbuns, dos quais quatro são regravações de projetos passados. Isso denuncia a ausência de uma pausa significativa entre a produção de um registro e outro, naturalmente necessária para o amadurecimento artístico e criação de melodias que soem como novidade.
Ao dar sequência à campanha de lançamento de Tortured poets, a loirinha emendou a estreia do videoclipe de Fortnight, colaboração com o rapper norte-americano Post Malone. No vídeo, Swift aparece em cenários variados, como um quarto de hospital bizarro e um laboratório de cientistas, que realizam nela experimentos malucos. Na letra, ela reflete sobre a decepção causada pela quebra de expectativa com um relacionamento repentino. Esse e outros temas, como término e o início de um novo romance são recorrentes durante as 16 faixas que compõem a versão standard do disco.
Duas horas após o lançamento do álbum, Taylor Swift disponibilizou nas plataformas de música o registro estendido do projeto, intitulado The tortured poets department: The anthology. O disco duplo reúne, além das 16 faixas da edição padrão, mais 15 canções adicionais, marcadas por uma sonoridade clássica das baladas de piano da discografia da cantora. Surpreendentemente, a segunda metade da compilação de faixas parece explorar um pouco mais os recursos disponíveis em estúdio.
Para a conclusão do projeto, os produtores musicais Aaron Dessner e Jack Antonoff foram elencados para traduzir sonoramente os sentimentos que Swift descreve nas letras. Parceiros recorrentes de outros trabalhos da cantora, os produtores desenham uma sonoridade linear durante a execução do álbum, o que torna difícil identificar pontos de destaque durante a reprodução das 31 faixas que, juntas, somam pouco mais de duas horas de duração.
Mais do que um álbum de estúdio, The tortured poets department parece muito mais uma estratégia de lançamento que privilegia uma cantora que, definitivamente, não precisava dele para seguir com o sucesso estrondoso e aclamação crítica que possui — concedida à ela após os ótimos Folklore e Evermore. A verdade é que o disco decepciona ao expor a imagem de uma artista responsável por projetos muito mais arriscados musicalmente que ele, caso do nostálgico Red e do espirituoso 1989.
Entretanto, não só de faixas esquecíveis e melodias redundantes o Tortured poets pode ser resumido. Canções como Down bad e I can fix him (no really I can) são ótimos exemplos de músicas que, mesmo com referências em projetos passados, entregam a excelência de uma cantora capaz de entregar trabalhos melhor finalizados.
*Estagiário sob a supervisão de Isabela Berrogain