Um grupo de pagode que carrega no nome o aforismo do arquiteto alemão Mies van der Rohe sobre a simplicidade da modernidade encontrou no samba a fórmula para conquistar os brasilienses e dominar o Brasil. Assim como a arquitetura única de Brasília, Menos é Mais trouxe os olhos dos quatro cantos do país para o quadradinho e se tornou um dos principais representantes musicais da cidade, também conhecida como a capital do rock.
Consolidados como um dos principais nomes do ritmo, Menos é Mais mostrou a grandiosidade da música brasiliense, mais uma vez, com o DVD Virado no pagode. O mais recente trabalho do grupo conta com a participação de artistas nacionais com projeção mundial, como Anitta e Luisa Sonza, e leva o grupo para um novo patamar na carreira. Desbravando novos territórios, tanto geograficamente, quanto musicalmente, a banda se mantém fiel à grande musa inspiradora da carreira — a cidade de Brasília.
Tal qual a grande maioria dos artistas do segmento, a história do quarteto formado por Duzão, Gustavo Goes, Paulinho Félix e Ramon Alvarenga começou nos pequenos estabelecimentos da capital. "A importância que os bares da cidade e o público que frequenta esses lugares têm na trajetória de qualquer grupo ou artista de pagode que está começando é gigantesca", avalia Goes.
Entre 2016, ano em que o grupo foi criado, e 2020, um dos principais points do quarteto foi o Buteco da Boa. Localizado na 201 Sul, o bar era uma espécie de segunda casa para os quatro amigos que sonhavam com o sucesso nacional. "Nós fizemos dos pequenos bares, grandes festas. Começamos a colocar um público considerável ali, e entender que realmente seria de lá que sairiam as pessoas que iam torcer por nós e iam escutar a nossa música em casa", conta o instrumentista.
O sucesso, no entanto, não demorou a chegar. Foi em meio à incerteza da pandemia, apenas quatro anos após a criação do grupo, que os integrantes do Menos é Mais tiveram a confirmação de que estavam no caminho certo. Com a ajuda da internet e das típicas lives da época, a banda se tornou destaque entre a nova geração do pagode e, rapidamente, transformou os pequenos bares brasilienses em grandes palcos para fora do Brasil.
Apesar da trajetória ainda não tão extensa, o Menos é Mais já coleciona conquistas dignas dos grandes representantes do pagode, ritmo originalmente carioca. No ano passado, por exemplo, o grupo se consagrou como o artista do segmento mais ouvido no Brasil no Spotify, maior plataforma de streaming do mundo. "A gente entende que hoje temos um pioneirismo em muita coisa, e que conseguimos levar o nosso pagode e o nosso som para o Brasil inteiro. No entanto, isso é graças a quem veio antes, a quem construiu essa história que hoje damos continuidade", reconhece Goes.
Antes mesmo de sonharem com tal sucesso, a realidade dos músicos acontecia do outro lado dos palcos, no meio do público, prestigiando os grupos da cidade. "A gente começou a gostar de pagode vendo Coisa Nossa, Adora Roda, Amor Maior e muitos outros grupos que passaram por aqui", conta. Por isso, até hoje, o grupo considera os barzinhos locais como um dos principais propagadores da música do quarteto. "É nesses lugares menores que os grupos daqui, que também sonham em alcançar tudo isso, tocam nossas músicas. São nos barzinhos que o samba e o pagode resistem e residem", afirma o instrumentista.
Cidade multifacetada
"Brasília não é só política, é também muita cultura e muita música", define Goes sobre a cidade em que foi criado desde os seis anos de idade. O carioca, que se considera brasiliense, destaca que a capital federal é "rica de talentos musicais", e que a música do quadradinho vai muito além da história do rock local.
"Eu acho que resumir Brasília só a rock é muito pouco perto do tamanho da cidade e da quantidade de talentos que temos aqui. A gente tem o Natiruts no reggae, o Hungria e a Tribo da Periferia no rap, o Alok na música eletrônica", lista. "Brasília é um ponto de encontro de culturas dentro do Brasil e isso também se reflete na música. É uma cidade que consome tudo", opina o músico.
A admiração pela capital e a gratidão pelo público da cidade ficam evidentes para os que acompanham os projetos do grupo. "A gente sempre fala de Brasília. Nós temos um álbum chamado Plano Piloto, nosso DVD foi gravado no Ginásio Nilson Nelson. A gente sempre faz questão de falar que somos um grupo com DNA brasiliense, porque eu acho que isso quebra um pouco o estereótipo do pagodeiro do eixo Rio-São Paulo", relata.
A quebra de estereótipos, porém, é resultado de uma série de obstáculos superada pelo grupo. "A gente transformou uma dificuldade do início, de não ter acesso à rádio, a artistas grandes do nosso segmento e empresários do pagode na capital, em um orgulho de ser fora desse eixo, de ser empurrado pelo público brasiliense", detalha. "É muito difícil um grupo de fora do Rio e de São Paulo acontecer, mas eu acho que o Menos é Mais, se fosse de qualquer outro estado, não teria acontecido. O Menos é Mais aconteceu porque é de Brasília", sustenta o integrante.
Até os dias de hoje, Duzão, Goes, Paulinho e Ramon não se renderam às megalópoles Rio e São Paulo, e continuam morando em Brasília. "A gente não consegue largar esse quadradinho", ri o carioca radicado em Brasília. "Estrategicamente, para o grupo, seria muito mais fácil morar em outras capitais. Seria mais fácil morar em São Paulo ou no Rio, porque a maioria dos compromissos que nós temos, tanto de show quanto de televisão e rádio, são por lá. Mas a gente entende que, se a gente sair de Brasília, a gente fica sem Brasília", pontua.
"Não falamos isso somente no sentido de aproximação com o público. Para nós, Brasília não é só o berço das pessoas que começaram a acreditar no nosso trabalho. A gente tem uma sensação de pertencimento gigante pela cidade, uma relação de amor mesmo. Toda nossa família mora aqui, nossos amigos estão aqui, a gente foi criado aqui. Se hoje a gente tem condições de continuar morando aqui, por que não ficar? Por que sair de Brasília, a cidade que acolheu a gente?", finaliza Goes.