Um dos gêneros mais escutados em português não é popular no Brasil. O fado, uma valsa afinada e melancólica, é de origem portuguesa e faz sucesso em várias partes do mundo. Uma das responsáveis por essa difusão é Mariza, cantora que se tornou fenômeno em todo o planeta e se apresenta em Brasília no sábado. Desde 2000, lançando grandes sucessos, a cantora resume esses quase 25 anos de trajetória em uma turnê especial que passa por várias cidades do Brasil.
Apesar de ser uma das maiores artistas portuguesas da atualidade, Mariza não nasceu em Portugal. A cantora é natural de Lourenço Marques, atual Maputo, capital de Moçambique. Porém, o fato de ser africana nunca a impediu de espalhar a música que amava pelo mundo. Ela vendeu mais de 1 milhão de discos na carreira cantando fado e é reconhecida como um fenômeno do que chamam de world music, um gênero abrangente que engloba estilos musicais com traços de culturas distantes da língua inglesa.
No Brasil desde quinta-feira passada, a cantora passará por seis cidades, quatro estados e o Distrito Federal, com sete apresentações, que misturam os grandes sucessos da carreira com lançamentos mais recentes. A cantora promete uma experiência imersiva e intensa para os fãs que a acompanham do outro lado do Atlântico. "Estou preparando um repertório que não só abraça os clássicos amados por todos, mas também traz novas composições que refletem minha jornada musical atual", conta em entrevista ao Correio.
A intenção de Mariza é de se conectar com o público e emocionar os brasileiros. O entendimento sobre o país, que acompanha a arte desde criança, a própria carreira, os interesses e os planos futuros são destaques da entrevista que Mariza concedeu ao Correio.
Entrevista // Mariza
Você cantou em português em alguns dos maiores palcos do mundo. Qual a importância para você de tocar em outro país que entende a sua língua?
Para mim, cantar em português em palcos internacionais é uma experiência incrivelmente gratificante. É como levar um pedaço da minha essência e da minha cultura para o mundo. Quando me apresento em países que entendem a língua, sinto uma conexão ainda mais profunda com o público. Essa troca de energia é palpável. A música tem o poder de unir as pessoas. E, cantar na minha língua materna, sendo compreendida por aqueles que a falam, torna cada nota mais significativa. É uma honra poder compartilhar a riqueza da nossa língua e cultura, e ver o reconhecimento e apreciação nos olhos dos espectadores é uma das maiores recompensas.
Qual sua relação com a música brasileira? Qual a sua relação com o Brasil e com o público brasileiro?
Em minha casa desde pequena sempre se ouviu muita música, mas a música brasileira era a mais ouvida. Não sei se pelo fato de sermos africanos, se pelo fato do meu pai ter vivido uns anos no Rio de Janeiro ( por isso eu me chamar Mariza), se por ter um tio que vive há 60 anos no Brasil e que nos trazia discos de famosos cantores brasileiros como Elis Regina, Ney Matogrosso, Clara Nunes, Maria Bethânia, Alcione, Wando, Roberto Carlos, entre outros. Então, o Brasil faz parte do meu crescimento, da minha formação como artista, poder cantar para o público brasileiro é uma honra e uma enorme felicidade.
O fado é popular, mas em alguns locais ele ainda é de nicho. Como você percebe o seu papel em uma maior globalização do gênero?
Como artista, vejo meu papel na globalização do fado como essencialmente de embaixadora cultural. Por meio da minha música, tenho a oportunidade única de transcender barreiras geográficas e culturais, apresentando a alma e a essência de um povo, um país a um público global. Acredito que cada performance é uma chance de tocar corações e abrir mentes para a profundidade e beleza deste gênero, que, embora enraizado na tradição portuguesa, fala universalmente de emoções humanas fundamentais, que é a vida. Meu objetivo é levar cada vez mais a minha música a outras culturas mostrando que não é apenas uma canção de Portugal, mas um idioma emocional que todos podem entender e sentir. Ao fazer isso, espero contribuir para a valorização e a perpetuação do fado como patrimônio cultural imaterial da humanidade.
Sua carreira é muito categorizada como "world music". Como você entende essa nomenclatura? Você acredita que generaliza o seu trabalho?
Entender minha carreira sob a nomenclatura "world music" é algo que vejo com nuances. Por um lado, esse rótulo permite que a minha música alcance uma audiência global, situando-a dentro de um espectro diverso que celebra a riqueza cultural de diferentes partes do mundo. Isso pode ser enriquecedor e abrir portas para colaborações e diálogos musicais interculturais. Por outro lado, reconheço que a etiqueta "world music" pode, às vezes, simplificar excessivamente a complexidade e a profundidade dos estilos musicais que abraça, incluindo o meu. Cada gênero tem suas raízes, suas histórias e suas nuances, que podem ser diluídas quando agrupadas sob um termo tão amplo. Prefiro ver minha música como uma expressão de minha identidade e cultura, que, embora possa ser categorizada como "world music" para fins de mercado e distribuição, transcende essas fronteiras, oferecendo uma experiência única que é tanto pessoal quanto universal. Acredito que a música tem o poder de conectar pessoas além das etiquetas, e é nesse espaço de conexão que eu espero que meu trabalho seja verdadeiramente entendido e apreciado.
Como é o seu trabalho de se manter relevante e conversar com novas gerações?
Manter a relevância e dialogar com novas gerações é um desafio constante e estimulante. Para isso, procuro estar sempre atenta a novas tendências e inovações, sem perder a essência que define a minha música. Acredito na importância de entender as plataformas digitais e as redes sociais, pois elas são fundamentais para se conectar com o público mais jovem. Além disso, colaborar com artistas novos e emergentes é outra maneira de dinamizar. Essas parcerias podem trazer novas perspectivas e sonoridades para o meu trabalho, criando pontes entre diferentes estilos e gerações. Enquanto exploro novos territórios, mantenho-me fiel aos valores e à paixão que me levaram à música, garantindo que cada nova direção seja um reflexo verdadeiro de quem sou como artista.
Como você tem visto os próximos passos da sua carreira?
Olhando para o futuro, vejo os meus próximos passos como uma oportunidade de explorar ainda mais as possibilidades musicais e criativas. Estou animada para mergulhar em novos projetos que me desafiam e me permitem crescer como artista. Isso pode incluir colaborações com músicos de diferentes gêneros e culturas, expandindo assim meu repertório e trazendo novas dimensões à minha música. Além disso, estou focada em ampliar meu alcance global, levando minha música a novos públicos ao redor do mundo e participando de festivais internacionais. Acredito que compartilhar minha arte em diversas plataformas e contextos pode não só enriquecer minha experiência como musicista, mas também promover um diálogo intercultural valioso.
Serviço
Mariza em Brasília
Sábado (27/4), no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Às 21h, com abertura dos portões às 19h. Ingressos custam a partir de R$ 180 e estão disponíveis na plataforma Bilheteria Digital, além dos pontos de venda nas Barbearias Elvis do DF Plaza Águas Claras, do Taguatinga Shopping e do JK Shopping. As lojas do Koni da 209 sul 1 do Sudoeste também vendem as entradas.