Cinema

Emoções à flor da pele no longa brasileiro Sem coração

Filme com a participação da brasiliense Maeve Jinkings aborda os ritos de amadurecimento de adolescentes

No aniversário da capital, as telas de cinema estampam um premiado filme que traz duas referências de Brasília: além de ser a cidade destino da personagem Tamara (Maya de Vicq), uma das figuras centrais da trama rodada em Alagoas, Sem coração tem a participação da atriz candanga Maeve Jinkings (conhecida por filmes como O som ao redor e novelas como A regra do jogo). Atração no Espaço Itaú de Cinema (CasaPark), às 19h20 (com preços reduzidos, a R$ 20 e R$ 10), o filme tem direção da dupla Nara Normande e Tião (o mesmo diretor do longa Animal político), e alcança quase 20 cidades nacionais, depois de percorrer circuito internacional com passagens por Suécia, França, Uruguai e África do Sul.

O filme trata dos ritos de amadurecimento de adolescentes extremamente cúmplices, num cotidiano de Alagoas, no ano de 1996. Um dos pontos altos no exterior foi a exibição no Festival de Veneza (Itália). "A recepção geral do público, lá fora, foi super bacana. Em Veneza, foi muito linda a sessão, tivemos muita acolhida, várias pessoas vieram falar conosco. Ainda estamos circulando com o filme por aí. Fizemos o lançamento na França, rodamos por algumas cidades e, no diálogo internacional, vimos que o público entendeu. Estamos com retorno bastante positivo", conta a diretora Nara Normande, em entrevista ao Correio.

Nara conta que, pela recepção no Brasil, percebe que as pessoas entendem camadas mais sutis do filme, uma vez que passa por questões sociais caras aos brasileiros capazes de entendimento mais profundo. Um curta-metragem de 2014, também chamado Sem Coração (da mesma dupla), esteve no Festival de Cannes, e já envolvia a comunidade pesqueira, agora habitada por tipos gaiatos como Binho, Galego e Vitinho. Uma piscina abandonada abriga parte importante dos episódios vividos por todos. "Desde o início, quando fizemos o curta — a história é baseada numa personagem que existia na praia de onde eu venho, no litoral norte de Alagoas, em Guaxuma — a piscina estava presente. Soube de Sem Coração (personagem de Eduarda Samara, vista em Bacurau) através dos meus amigos: era uma menina que tinha um marca-passo no coração, filha de pescador e, aos poucos, descobri que ela ia numa piscina abandonada, vazia, onde tinha os primeiros experimentos sexuais. Essa imagem é uma força no curta. E uma força no longa também. Não conheci essa piscina, mas imaginamos que fosse perto do mar. Na pesquisa de locação, tinha uma piscina muito perto da praia em que cresci: na beira do mar — daí a potência, por ser perto das ondas do mar", observa Nara Normande.

Produzido, entre outros, por Kleber Mendonça Filho (Aquarius) e Emile Lesclaux, o filme faturou o prêmio da Abraccine da Mostra de São Paulo, com seis prêmios no FestAruanda (Paraíba) e ainda do Félix de Melhor filme LGBTQIA (Festival do Rio), Sem Coração apresenta extratos de diversidade sexual. "Acho que as pessoas podem se identificar de diversas formas, a partir do filme, e de todas essas narrativas. É importante colocar a sexualidade dessa forma, sem julgamento; sem trazer uma moral, que é o que acontece, quando a gente é jovem, sem passar para a idade adulta: época de descobrirmos os corpos, vendo quem a gente é, e do que a gente gosta. A sexualidade, no filme, está muito nesse lugar da liberdade. Claro que existe uma moral na sociedade, muito forte; mas isso, com certeza, não impede que as pessoas vejam o filme e se identifiquem. Tivemos zero problema, até agora (de polêmica). Na verdade, percebo o contrário: as pessoas se sentem muito representadas", conclui a codiretora.

 


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