O Big Brother Brasil 24 chegou ao fim na terça-feira (16/4), e consagrou Davi como campeão com 60,52% dos votos. Além de receber o maior valor já pago no programa — R$ 2,9 milhões, o baiano de 21 anos se tornou o primeiro homem negro retinto a conquistar o primeiro lugar do reality show.
Desde o início do programa, o participante foi muito confrontado e excluído pelos demais, ações interpretadas por alguns telespectadores como racismo contra o baiano. Além disso, ataques também foram feitos pelas redes sociais do campeão. As ofensas foram denunciadas ao Ministério Público da Bahia para identificar os responsáveis.
Durante o programa, o brother comentou algumas situações de racismo que já passou durante a vida e o sonho de estudar em uma universidade. “Virar doutor vai ser um sonho de infância. Só de pensar que vou chegar na faculdade com o carro, parar meu carro no estacionamento e ir para faculdade estudar tranquilo, só focar em estudar e voltar para casa... Focar nos estudos assim e dar orgulho para minha mãe. Um jovem que nem a gente que é preto, pobre, a gente não tinha dinheiro… Andava com uma roupa meio assim e já ficavam olhando. Por mais que falem que o público gosta de você, a gente sabe que existe racismo! O racismo existe. Tem pessoas, sim, que ainda hoje têm essa forma de olhar diferente para as pessoas que são pretas, que não têm muitas condições. É complicado”, disse ele.
Ao ganhar o programa, Davi não só mostra o protagonismo de uma pessoa preta retinta em rede nacional, como também enche de representatividade uma sociedade ainda marcada pelo racismo. Em entrevista ao Correio, Susana Xavier, servidora da Universidade de Brasília (UnB), membra do Conselho de Direitos Humanos (CDHUnB), ativista, militante e feminista negra aborda mais sobre o assunto e a importância da vitória de Davi para a sociedade.
“A sociedade em que vivemos, foi estruturada a partir da violência e exploração de vidas negras e, desde então, é normalizado ver essas pessoas em locais de serviço. Com isso, representatividade se torna uma coisa extremamente relevante, para que se enxergue a sociedade como plural e aberta à todos. Quando a população preta não se vê em mídias de massa, em espaços de poder, em direções de empresa e em espaços políticos, mostra que as coisas não estão evoluindo”, disse.
Davi como campeão do BBB 24 mostra principalmente para a juventude o que é ter perspectiva, sonhos e visão de mudança. Essa representatividade mostra que é possível pessoas pretas serem milionárias, famosas, políticas, e estarem em grandes espaços.
“O estereótipo de maldoso, marginal e violento que tentaram colocar no Davi, foi descontruído por ele com muita competência, com muita disciplina, muita serenidade. Uma figura muito resiliente para a idade dele, uma maturidade que a gente não observa geralmente na juventude”, abordou Susana.
"Davi conseguiu tocar fogo na senzala e tomar posse da casa grande, uma coisa linda de se ver”, concluiu.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, esboçou felicidade nas redes sociais com a vitória do baiano. “O Brasil vai dormir com o sorriso de um jovem negro em rede nacional. Que a determinação e a felicidade do Davi possa ser inspiração para que sigamos buscando uma vida de direitos e oportunidades para nossa juventude negra”, escreveu.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori
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