Crítica // O homem dos sonhos ★ ★ ★ ★
A intranquilidade mental, muito da percepção de niilismo e ainda o registro da incapacidade de administrar o medo, presentes no dia a dia de jovens, ocupam o enredo do mais novo filme produzido por Ari Aster (Midsommar), com teve direção a cargo de Kristoffer Borgli. É na escala de pesadelo que o homem do título, na verdade um insosso professor universitário, transita. Com a regrada vida ao lado da esposa Janet (Julianne Nicholson, vista em Blonde) e das filhas Hanna e Sophie, Paul (Nicolas Cage, num crescente, se divertindo a pecha de "perdedor") mergulha na instabilidade, depois de, inadvertidamente, estar (sem explicação) nos sonhos de milhões de norte-americanos.
Depois de Plano de aposentadoria e do autorreferente (ao cubo) e hilário O peso do talento, o astro Cage (que, vale a lembrança, já venceu o Oscar por Despedida em Las Vegas) se afunda num universo em que, no passado, mergulharam tipos vividos pelas personas de John Malkovich (Quero ser John Malkovich) e Phillip Seymour Hoffman (morto há dez anos). Cage já estrelou o amalucado Adaptação, criado na mente inquieta de Charlie Kaufman, que parece ter embalado O homem dos sonhos. O peso de um sofrimento descomunal se instala na vida de Paul, que, impulsionado à condição de celebridade, observa a derrocada do posto, uma vez que os sonhos (espalhados nas mentes da coletividade) descarrilam.
No fundo, o filme investe nas reflexões sobre a projeção em torno da fama e a expectativa formulada pela comercialização desmedida de todo pretenso sucesso (a ser convertido em riqueza financeira e status). O estudantes monitorados por Paul trazem a sequela de um intenso despreparo para cotidiano social, daí, protagonizarem as cenas mais inesperadas. A invalidação da civilidade traça para o longa um caminho próximo ao de outros filmes do assemelhado roteirista Kaufman (O brilho eterno de uma mente sem lembranças e Sinédoque, Nova York).
Objeto para a criação de um futuro livro, para além de campanhas publicitárias e ainda a investida em inovador aparato de conforto mental, Paul se vê cada vez menos considerado (em sociedade) e rotulado de carente e perdedor. Um papel de risco e dentro da estranha versatilidade de Nicolas Cage que, no Globo de Ouro, disputou premiação, no mesmo segmento de tipos controversos assumidos por atores como Jeffrey Wright (Ficção americana), Joaquin Phoenix (Beau tem medo) e Paul Giamatti (Os rejeitados).