O talento musical do jornalista paraibano Francisco César Gonçalves, nascido em Catolé do Rocha e radicado em São Paulo, aflorou e foi imediatamente assimilado em 1996,quando as rádios do país passaram a tocar com frequência Mama África, canção composta e interpretada por um certo Chico César.
Um ano depois, surgiu com destaque no cenário musical brasileiro José Ribamar Coelho, maranhense de Arari, que se popularizou com o pseudônimo de Zeca Baleiro. Até então, na pauliceia desvairada eles dividiam o caldo ralo do osso das vacas magras num apartamento em cima da Padaria Ceará, na Zona Oeste, pobre mas honesto e nem tão limpinho assim, mas muito bem frequentado por cantores, músicos e artistas diversos.
Artistas contemporâneos, eles lançaram vários discos solo e agora chegam às plataformas digitais com um álbum gravado em conjunto intitulado Ao Arrepio da Lei, que reúne músicas compostas em parceria inaugurada há 32 anos. Essa parceria entre os dois nordestinos foi retomada com uma nova safra de canções, criadas no período da pandemia, entre maio de 2020 e o início de 2021. Animados com a produção, eles decidiram juntá-las num CD. Anunciaram o lançamento em 2021, antecipando as canções Respira e Lovers, registradas em single duplo.
No ano seguinte, outras duas inéditas foram lançadas: Beije-me antes e Verão — a única registrada ao vivo. Com trabalhos paralelos, Chico e Zeca só retomaram as gravações em 2022, quando houve o lançamento das músicas, entre elas Verão — a única registrada ao vivo. No final de 2023, eles voltaram a se juntar para gravar as vozes e concluir o projeto.
Sawmi Jr., que já trabalhou com Chico e Zeca em shows e discos, foi convidado para produzir o álbum. Juntos, os três começaram a escolher as canções e a gravar em em seus estúdios caseiros, período em que o distanciamento social era importante para reduzir o avanço da covid-19.
Aberto pela faixa título, o repertório traz 11 composições com temáticas diversas, entre elas Bardo, Mocó, Narcisos, Neón, Dislike, Mocó e Aglomerar, além, claro, das já citadas. Chico e Zeca se revezam para interpretá-las acompanhados por Ricardo Prado (guitarra e teclados), Fabinho Sá (contrabaixo acústico), Luiz Brito (violino),Érico Theobaldo (bateria e programação),Guilherme Kastrup (bateria),Rubinho Arantes (flugelhorn), Tiago Costa (piano), Fábio Tagliaferro (viola), Adriana Holtz (cello), Paulinho Viveiro (trompete). Multi-instrumentista, Swami Jr. é o responsável pelos arranjos e acompanha os parceiros na turnê iniciada no dia 8 de março em Curitiba. A turnê passa por Brasília em 24 de maio, durante o Funn Festival.
Entrevista// Chico César
O que foi determinante para a conexão profissional entre você e Zeca Baleiro?
Creio que nossa conexão se dá porque somos nordestinos com os ouvidos e olhos no mundo. Somos pós-tropicalistas, ligados em Raul Seixas, Tim Maia, Hildon, na cultura popular, na poesia marginal.
Quando surgiu a possibilidade de criar o Ao arrepio da lei?
O fato determinante foi a pandemia, que acendeu em cada um de nós o desejo pelo essencial. A minha relação com Zeca Baleiro foi essencial, tanto para mim quanto para ele. Contribuiu também o fato de, um pouco antes, o Zeca ter mudado para perto da minha casa.Por ter família e cozinhar para muita gente, ele passou a deixar uma marmita para mim.
Isso contribuiu para uma maior aproximação?
De certa forma, sim. Mas, na medida em que havia a construção de um repertório robusto em quantidade e qualidade, bateu a vontade de realizar esse projeto, até para ocupar o tempo e escapar imune da pandemia e do pandemônio ao qual o Brasil estava submetido.
Aí surgiu a possibilidade de gravar o disco?
Levamos o projeto adiante e fizemos o registro das canções no álbum.O passo seguinte foi o lançamento durante uma turnê, com show por várias capitais brasileiras, Brasília entre elas. A estreia foi em Curitiba.