O mercado de videogames tem ultrapassado barreiras nos últimos anos e tornou-se o principal setor do entretenimento e mídia do século 21. Esse protagonismo se deve pela grande quantidade no número de jogadores, que segundo pesquisa da Newzoo, supera o número de 3,3 bilhões de pessoas em todo o mundo
Essa indústria passou por diversas adaptações e com o desenvolvimentos dos smartphones, o mercado mobile passou a integrar a vida de milhões de usuários. A mudança de perfil trouxe novos jogadores que passaram a baixar jogos nos próprios celulares e ter uma experiência imersiva que só era possível em consoles ou em computadores.
A democratização do acesso aos games por meio dos jogos mobile tem se expandido nos últimos anos e ganhado a preferência dos jogadores em relação às plataformas. Os smartphones apresentaram um crescimento de 3,4%, no ano passado, chegando a 51,7% dos jogadores. Os consoles ocupam a segunda posição, com 20,5% de preferência do público, ultrapassando os PCs (desktops e notebooks) que passaram a terceira posição, com 19,4%, segundo a Pesquisa Games Brasil 2023.
Em entrevista ao Correio, o empresário e fundador da Brasil Game Show (BGS), Marcelo Tavares, falou sobre esse novo perfil de jogadores, sobre o cenário dos jogos no Brasil e também o impacto desse novo mercado dentro da maior feira de games da América Latina.
A BGS que chega a 15ª edição, será realizada em outubro, na cidade de São Paulo e essa mudança do console para o mobile foi um dos pontos enxergados desde a primeira edição por Tavares. “No passado a gente até viu isso. Em 2009 era basicamente uma feira de console, o público jogando no console. Era o jogador do aparelho de videogame que marcava presença na feira massivamente, com o passar do tempo, a gente começou a enxergar uma mudança pro PC ganhando cada vez mais espaço e, por fim, havia um outro movimento, que já vai de uns bons anos, pegando o mobile”, conta.
O Brasil é considerado o 5° país em população on-line, sendo o maior mercado Latino-Americano, com uma estimativa de 103 milhões de jogadores. Além disso, o estudo lançado pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), desenvolvido junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex), mostrou que o mercado Mobile em 2022 representou 49% do faturamento, sendo que o PC atingiu 26% e os consoles 25%.
De 2017 até 2024 Tavares conta que começou a ser perceptível a força que o mobile ganhou. “A gente viu um movimento muito forte de mobile ganhando presença e a preferência de muito jogadores, então acho que isso é bem marcante, 2017, 2018 e 2019 foi aumentando e a gente viu agora no pós pandemia uma explosão em 2022 e 2023 e não à toa o Brasil tá aí como um dos três países que mais tem volume de downloads de jogos para mobile”, diz o empresário.
Um dos grandes responsáveis pelo aumento massivo no número de jogadores foi o Free Fire, um jogo eletrônico mobile de ação-aventura do gênero battle royale, criado pela desenvolvedora vietnamita 111dots Studio e publicado pela Garena, o jogo foi um fenômeno no Brasil e se espalhou por outras regiões em 2023 com 210 milhões de downloads mundialmente.
“Hoje para você ter uma ideia, na Brasil Game Show 70% do público relata que joga em mobile. A gente tem um público menor no PC e no console, mas no mobile para alguns é a plataforma única, enquanto para outros é a segunda plataforma, mas de fato está mais presente e mais acessível para todo mundo” diz Tavares.
Mercado dos jogos e os novos jogadores do mundo mobile
O Brasil tem buscado despontar e sair do papel de coadjuvante para se tornar uma das principais estrelas nesse meio. Com o aumento no número de estúdios, jogos e de jogadores, o país se firmou como o principal mercado da América Latina.
Em 2023 os jogos mobile geraram uma receita de mais de 90 bilhões de dólares em todo o mundo, segundo a Sensor Tower via Games Industry. Apesar do lucro, os jogadores brasileiros ainda enfrentam dificuldades para ter acesso a aparelhos com a tecnologia mais recente ou o hardware mais potente, Tavares fala sobre essa percepção dentro do mercado brasileiro.
“Quando se fala do mercado dos jogos, até quando se fala do mercado de games como um todo, não só mobile, mas também console e computador. O Brasil está figurando no top 3, top 4 em número de jogadores, mas quando a gente vai para faturamento está no top 10 ou top 13, e oscilando dependendo do estudo, a gente percebe uma dificuldade em relação ao poder aquisitivo que nem sempre podem estar consumindo nos jogos aquilo que eles gostariam”, diz.
E completa: “Quando você fala de países que estão em desenvolvimento, países que têm um poder econômico, a população acaba tendo menos acesso a determinadas coisas como um todo. Acho que no fato de democratizar o acesso aos games, o lugar mais fácil é o celular, o jogo para mobile, eu acho que esse aspecto aí foi fantástico."
O empresário acredita que essa questão também passa pela esfera pública principalmente em relação a impostos e no incentivo à qualificação da mão de obra. “O governo tentar ajudar, proporcionar condições melhores para que todo mundo possa jogar mais gastar mais em jogos e por outro lado também a gente entender a indústria como fundamental também no entendimento de que a gente tem que ter um preço convertido, também incentivar com a redução de impostos, incentivar com a criação de um ambiente propício a negócios né, desburocratizar, qualificar a mão de obra local”, explica.
Aumento no número de estúdios, o desenvolvedor brasileiro e o fomento dos jogos nos estados
O estudo da Abragames também revelou um aumento de 3,2% na quantidade de estúdios de produção de jogos, que passaram de 1009, em 2021, para 1042. Ainda de acordo com os dados apresentados, entre os anos de 2020 e 2022, foram desenvolvidos 2.600 jogos próprios no território brasileiro. Desse montante, 1009 foram lançados apenas em 2022.
E dentro da BGS haverá novidades, como a ampliação da Avenida Indie. “A gente está ampliando esse ano a Área Indie, que a gente chama de Avenida Indie. O objetivo é justamente ter mais empresas brasileiras que apresentem games nacionais e na maioria jogos que rodam em mobile”, conta o CEO e fundador do evento, Marcelo Tavares.
Um dos focos do evento é trazer estúdios e publishers (publicadoras) para que possam entrar em acordo, conversar sobre projetos e se adaptar a esse novo mercado de jogos mobile.
“O estande que bombou, repleto de conteúdo, a própria Avenida Indie da BGS, tem no jogo para uma plataforma móvel uma oportunidade muito grande para o desenvolvedor brasileiro então quando ele pensa em desenvolver algo para mobile, é logicamente, né? Ele tem um público muito maior para atingir”, diz Tavares.
A 2ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games revela ainda que os estúdios nacionais de desenvolvimento de games estão distribuídos por praticamente todos os estados da federação, mas que a maior concentração continua nos estados do Sul e Sudeste.
Das 1.042 empresas mapeadas na pesquisa, 861 estão divididas regionalmente, sendo São Paulo (302), Rio de Janeiro (107) e Rio Grande do Sul (69) os estados com maior presença. Em termos regionais, 56% dos estúdios se concentram na região Sudeste, 20% na região Sul, 16% no Nordeste, 6% na região Centro-Oeste e 2% no Norte.
Sobre essa concentração dos estúdios em estados, Tavares é enfático: “Vários outros estados e cidades poderiam ter de fato, e ainda não tem hoje, pólos representativos na indústria nacional, isso pode ser feito por estados e municípios, deve ser feito. Quando a gente olha a atmosfera de eventos, de campeonatos, tudo isso acaba fomentando e agregando para esses locais. Isso muda completamente quando transforma uma região num pólo, num porto digital, porque você começa a atrair para aquela localização, empresas que vão ser referência para outras."
E complementa: “O próprio estado entender que pode ajudar a fomentar e ajudar na participação dessas empresas em eventos no Brasil. Eu acho que há uma série de iniciativas em que a gente pode crescer muito principalmente no faturamento e no desenvolvimento local.”
A projeção da Data.ai prevê crescimento de 4% na receita gerada por jogos mobile em 2024 e sobre o futuro Marcelo acredita que o país possa superar várias barreiras e adianta um pouco sobre a parte mobile na BGS desse ano.
“É claro que quando se olha pra Índia com mais de 6 bilhões de downloads em jogos mobile e o Brasil em terceiro lugar é uma diferença grande, mas vamos tentar nos aproximar dos Estados Unidos, com 3.2 bilhões (de downloads). Acho que superar os Estados Unidos é algo muito viável, muito possível e acho que parte dos eventos, dos campeonatos também a gente ter cada vez mais abertura e trazer o que tem de bom lá fora para que mais e mais pessoas aqui comecem a jogar e utilizem os celulares, os smartphones”, explica.
E finaliza contando como será a próxima edição da Brasil Game Show que acontece em outubro deste ano. “Estamos bem felizes assim, eu acho que em relação a mobile a gente está bem feliz com o resultado, e principalmente com o resultado da última edição da Brasil Game Show, e ansiosos para ter mais empresas, mais conteúdo mobile. Pelas conversas que estão acontecendo digo que os campeonatos vão dobrar, também vai ter um crescimento de expositores para mobile. Para realmente o player de mobile chegar lá na feira e se sentir acolhido porque vai ver o conteúdo que curte ali."
*Estagiário sob supervisão de Thays Martins
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br