No Brasil, uma das figuras religiosas mais amadas é Jorge da Capadócia, o soldado que mais tarde foi santificado e teve sua data de culto transformada em feriado em muitas cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro. Um dos devotos dessa divindade é o ator, produtor e diretor fluminense Alexandre Machafer, 40 anos, cuja fé traçou um caminho sem volta: a concepção, produção e realização do filme Jorge da Capadócia — uma jornada de honra e fé que teve início há 16 anos e chega ao ápice nesta quinta-feira (18/4), com a exibição em cartaz nos cinemas de todo o país.
É o primeiro longa focado na história do guerreiro São Jorge, um dos mais populares santos do cristianismo e símbolo de diferentes culturas ao redor do mundo. "Esse projeto nasceu da devoção, da busca pelo entendimento dessa fé. Minha avó era muito devota e passou isso para mim. Eu fui tentando entender essa crença que nasceu lá na infância, da curiosidade de uma criança olhar para um cara em um dragão. Identifiquei que havia muitos relatos históricos, mas nenhuma obra de ficção sobre a vida de Jorge", explicou ao Correio o inquieto Alê, que assumiu essa vontade de contar uma história como missão. Ele reuniu historiadores e pesquisadores, um roteirista que também trabalhou na pesquisa e, juntos, viram até onde conseguiriam ir.
Enfrentando dragões
O que Alexandre encontrou nessa empreitada foi uma verdadeira metáfora da narrativa que seria contada: dragões diários que precisou enfrentar. "Estando no Brasil, há muito preconceito e muitas barreiras para se produzir no audiovisual. Mas o projeto simboliza o personagem-título, o Jorge que é humano, que sangra e perde a fé, mas se levanta e encara o dragão, que, nesse caso, foram os problemas financeiros e de falta de crédito", relatou o produtor executivo da obra audiovisual, que teve como grande incentivadora a Fundação Cesgranrio. "Com o que tínhamos na mão, fomos atrás de mais parcerias. Graças a Deus, encontramos muita gente querendo participar", celebrou o leonino.
Apesar de toda a produção — gravada entre o Rio de Janeiro e a Capadócia, na Turquia em 2019 —, com pompas de filme épico ao maior estilo Game of Thrones, com direito a muitas lutas, cavernas e até dragões, o longa custou aproximadamente R$ 3,5 milhões, valor considerado baixo para o gênero. "É fruto de muita fé, muito desejo e muita preparação. E não posso deixar de citar a colaboração de profissionais, que abriram mão do que poderia fazer apenas, para também engajar em tarefas ligadas à produção", agradeceu Alexandre.
Jorge da Capadócia reuniu uma equipe robusta, de cerca de 300 pessoas no set do Rio e outras 25 na Turquia. "Filmar na Capadócia foi como cereja do bolo. Só foi possível porque tivemos um apoio irrestrito do Ziah, o cara que manda lá na capadócia e chegou a ser retratado pela Glória Perez na novela Salve Jorge (2012). Ficamos gravando por cerca de duas semanas e enfrentamos alguns dragões por lá, como a forma peculiar de negociação dos turcos", descreveu Machafer.
Na mágica Capadócia, o custo foi mínimo. Uma companhia aérea, um empresário e o governo apoiaram com hospedagem, alimentação, transporte e locações gratuitas.
A metáfora do guerreiro
Mas nem tudo são flores. Após as filmagens, foram cinco anos de pós-produção, com direito a uma pandemia devastadora no meio do trajeto. Porém, Alexandre Machafer preservou e manteve firme a espada de Jorge para encarar mais esse dragão. "Jorge da Capadócia é sobre um sonho de uma pessoa, de uma vontade real que vem do fundo do coração, algo que tocou na vida do Alê e ele quis colocar para fora. Essa obra representa o povo brasileiro, porque vai além do entretenimento, é arte, é transformação.
Estamos falando de um cara que, em seu primeiro filme, conseguiu abrir portas internacionais na Turquia, com o seu inglês bem básico", acrescentou o ator Robson Maia, que completou 41 anos nessa quarta-feira (17/4).
Embarcado na aventura com o amigo de adolescência, Robson dá vida a um soldado, e é assim que ele se posiciona dentro do projeto. "É a metáfora do guerreiro, sim, que vai para a guerra porque acredita no ideal", completou.
Quem também se integrou com garra ao projeto foi a atriz Louise Clós, que faz uma participação no filme como Rita, a primeira mulher de Jorge, e também é produtora no projeto. "Foi meu maior desafio profissional. A demanda de trabalho, carga horária e responsabilidade eram muito maiores. Haviam obstáculos como a língua, a negociação, o translado, as locações e tudo que engloba o fazer cinematográfico com o plus de ser um país desconhecido e diferente do nosso. Dormíamos duas horas por dia, gravamos dentro das cavernas e comíamos a comida local”, contou a gaúcha, de 32 anos, ao Próximo capítulo.
Filme que virou livro
Detalhes dessa jornada podem ser vistos no livro Jorge da Capadócia: os bastidores do primeiro filme sobre o Santo Guerreiro, lançado por Alexandre Machafer e disponível nas livrarias e nas plataformas virtuais. "Ao longo do caminho, foram muitos nãos, e eu sou grato a todos eles porque me fizeram querer continuar. Eu sabia que ia vir porrada de todo lado, estávamos fazendo um filme sobre um guerreiro, então natural que nada viesse de mão beijada. Era preciso provar que estávamos dispostos", concluiu o idealizador do projeto.
Graças ao interesse da distribuidora Paris Filmes, o sonho se tornou real e, agora, o resultado do trabalho chega às salas de cinema de todo o país. Não à toa, a data de estreia de Jorge da Capadócia é próxima do Dia de São Jorge, comemorado sempre em 23 de abril.
O elenco traz ainda nomes como Roberto Bomtempo, Cyria Coentro, Adriano Garib, Miriam Freeland, Charles Paraventi, Roney Villela, Ricardo Soares e Augusto Garcia. O roteiro é assinado pelo brasiliense Matheus Souza, de Ana e Vitória (2017) e Tá escrito (2023).
Veja o trailler.
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