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Jorge Guerreiro, do Desfile Beleza Negra em Brasília, está no ar em Justiça 2

Foi quando esteve na cidade para gravar cenas da segunda parte da antologia Justiça, criada por Manuela Dias — disponível desde quinta-feira (11/4) no Globoplay —, em abril de 2023, que Jorge Guerreiro conheceu e se apaixonou por Brasília

 Jorge Guerreiro, ator -  (crédito:  Lucio Luna/Divulgação)
Jorge Guerreiro, ator - (crédito: Lucio Luna/Divulgação)

Em Justiça 2, ambientada no Distrito Federal, uma das quatro tramas principais envolve o motoboy Balthazar (vivido por Juan Paiva), que, após passar sete anos preso injustamente, é solto e induzido pelo advogado, Cassiano (Luciano Mallmann) a se vingar do seu algoz, o político corrupto Nestor (Marco Ricca). Em meio a esse núcleo, como o personagem João — que é casado com Cassiano —, está Jorge Guerreiro, um ator carioca que estreia na tevê, mas tem uma figura conhecida no cenário brasiliense.

Foi quando esteve na cidade para gravar cenas da segunda parte da antologia criada por Manuela Dias — disponível desde quinta-feira (11/4) no Globoplay —, em abril de 2023, que Jorge conheceu e se apaixonou por Brasília. Na ocasião, o ator, empresário e produtor cultural carioca encontrou a hoje sócia Dai Schmidt, que apresentou a ele o projeto Desfile Beleza Negra, idealizado por ela em 2012 como forma de protesto pela ausência de corpos pretos na moda local. Ele se encantou pela proposta, ajudou na divulgação e, a convite da nova amiga, tornou-se diretor da empreitada, que tem como parceiro o Correio Braziliense.

"Ali, eu percebi que existia algo profundo relacionado à Brasília", contou Jorge Guerreiro, nome artístico adotado por Jorge Ribeiro Júnior — e qualquer semelhança com São Jorge não seria mera coincidência. "Um tempo antes, eu abri as cartas e elas me falaram que viria algo grande para mim, mas que eu não ficaria nele, porque rolaria algo menor que iria me render mais, e que alguém com aspecto indígena iria me ajudar", explicou.

O ator de 41 anos tinha feito o teste para ser o protagonista de Amor perfeito, que acabou ficando com o amigo Dioggo Almeida, mas logo veio Justiça 2. Ele fez o teste para Balthazar, e recebeu o João, que é um papel menor, porém importante. "Quando encontrei e conversei com a Dai, durante as gravações aí no DF, veio o estalo. Ela disse que iria me ajudar e trouxe esse convite para o DBN. Ou seja, Brasília estava escrita no meu caminho", concluiu.

 Jorge Guerreiro, ator
Jorge Guerreiro, ator (foto: Lucio Luna/Divulgação)

Contraponto à vingança

Na produção, dirigida por Gustavo Fernández (o mesmo de Renascer), João, defendido por Jorge Guerreiro, tem como missão figurar como contraponto ao sentimento de "justiça" que dá o tom da narrativa. Na história, o fisioterapeuta conhece o atleta de alto rendimento Cassiano, os dois se casam e, no dia da lua de mel, quando eles estão indo para Buenos Aires e vão pegar o carro por aplicativo, dão um beijo e são vítimas de uma agressão homofóbica de Nestor. Impulsivo, João reage, a agressão se torna física e, como resultado desse momento, Cassiano fica paralítico.

"Ele é atleta, isso o frustra muito, então, ele vai estudar direito, intencionalmente, subentende-se na história que ele quer vingança a partir dessa decisão. E o Cassiano faz toda uma rede, muito bem articulada, para atingir seu objetivo. Ele ajuda condenados a saírem da prisão, mas está focado no Balthazar, que foi preso também por culpa do Nestor. É quando a trama de vingança se inicia", explica Guerreiro. "O João não compactua com esse propósito e sente muito medo quando Nestor entra na casa. Ele é protetor e age apaixonadamente para tentar dar essa luz a Cassiano para evitar o pior", completou ele, que também cruza com outros núcleos de Justiça 2, como os protagonizados por Murilo Benício e Alice Wegmann e Nanda Costa e Paolla Oliveira.

Embora a segunda parte da antologia seja quase totalmente ambientada em Ceilândia, com personagens que transitam pela periferia da capital do país, João e Cassiano moram em um apartamento na Asa Sul e formam um casal interracial. "É gratificante poder estrear na tevê em um contexto desse privilegio, que é resultado de muita luta, de muitos anos, de outros artistas negros que vieram antes de mim e lutaram para ocupar esse lugar que foge ao estereotipo do crime ou do servir", celebra Guerreiro, que vem do grupo Nós do Morro, um dos mais importantes projetos culturais, fundado na comunidade do Vidigal, e que já formou nomes como os de Juan Paiva, Thiago Martins, Marcello Melo Jr e Renan Monteiro, hoje em posições de protagonismo nas faixas nobres da Globo, por exemplo.

 22/11/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Entrevista com Dai Schmidt e Jorge guerreiro.
Desde 2012, a produtora de moda Dai Schmidt realiza o Desfile Beleza Negra. Agora, ela tem o ator e produtor Jorge Guerreiro como sócio (foto: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)

Corpo preto em cena

Jorge, porém, revela que, no perfil do personagem, não está explícito o fato de ser um homem negro. "O João pode ser qualquer coisa, mas ser um cara preto é bom. O texto não aborda a questão do racismo, mas, ao mesmo tempo, não dá para ser apenas lúdico, porque, quando um corpo negro se coloca em cena, o real se instala, as questões da negritude começam a eclodir. Todas as complicações ligadas ao racismo se dão em cena, mesmo sem estar no texto", afirmou o artista, que chegou a conversar com a autora sobre essas questões e recebeu o sinal verde dela para construir o personagem com essa sensibilidade.

"A Manuela (Dias) é sensível e entende a importância de se aprofundar, só não queria que isso precisasse entrar no texto, mas me deu liberdade para fazer essa construção politizada, porque a imagem do homem preto, morador do Plano Piloto, vivendo uma relação homoafetiva com um homem branco de olho azul não passa despercebida. Como a gente consegue encontrar caminhos para conversar, sem trazer essa contradição na ação? O problema se instala e a gente vai vendo como resolver, mas no cuidado", defendeu o intérprete de João, que poderá ser encontrado, em maio, na nova edição do Desfile Beleza Negra, aqui na capital.

Homem muito bonito, de corpo atlético e com uma ligação forte com a moda, que se estreitou com o Desfile Beleza Negra, Jorge Guerreiro também reflete sobre a estética da aparência de uma pessoa preta. "O corpo preto é estético e eu começo a analisar e enxergar esse corpo além da hiperssexualização. O Desfile Beleza Negra, por exemplo, não precisa citar o racismo. Ele coloca essas pessoas pretas na passarela e não precisa levantar a bandeira, porque o imaginário já organicamente começa a sair, a crítica e o revelar do que é a sociedade começa a se dar naturalmente", analisa ele.

Guerreiro não tem receios de se expor. "Quando se fala em objetificação do corpo masculino preto, eu não me defendo me reprimindo. Ao contrário, eu vou pra dentro, eu exploro a sexualidade, deixo à mostra, como quando eu posto um nu artístico. A foto de sunga está ali, o bumbum está ali, as pessoas vem me abordar, e é nessa hora que eu aproveito para dialogar. É tudo sobre medida", finalizou Jorge.

 



 

 


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postado em 14/04/2024 13:00
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