TELEVISÃO

No ar em 'No Rancho Fundo' e em 'Justiça 2', Tulio Starling é formado no DF

Mocinho de No Rancho Fundo e com papel de destaque em Justiça 2, o mineiro Túlio Starling tem uma relação familiar forte com o Distrito Federal, que foi sua casa por muitos anos. Em conversa com o Correio, o ator conta detalhes dessa vivência brasiliense

Túlio Starling, ator -  (crédito: Phillip Lavra/Divulgação)
Túlio Starling, ator - (crédito: Phillip Lavra/Divulgação)

Quem ligar a tevê a partir desta segunda-feira (15/4) e deparar-se com a imagem de Túlio Starling dando vida ao mocinho Artur Ariosto da nova novela das 18h da Globo, No Rancho Fundo, pode até pensar que se trata de um rosto desconhecido. Mas o ator de 33 anos está longe de ser um novato. De palco e tela, são cerca de duas décadas. Agora, entretanto, tem sido o grande momento na carreira do mineiro que viveu grande parte da vida no Distrito Federal, de onde saiu em 2017 para se aventurar em São Paulo.

Depois de defender o papel de Chico — irmão de Juma Marruá (Alanis Güllen) que morre logo no início — do remake de Pantanal (2022), Tulio emendou vários trabalhos no cinema, na tevê e no streaming. Ele coprotagonizou o longa A porta ao lado (2023, com Letícia Colin, Barbara Paz e Dan Ferreira) e as séries Hit Parade (2021), do Canal Brasil, Vicky e a Musa (2023), do Globoplay, e Dois Tempos (2023), da Star . Além disso, o brasiliense de coração pode ser visto, desde a semana passada, em Justiça 2, também no Globoplay.

Artur Ariosto, da novela das 18h, será o primeiro protagonista do artista nascido em Belo Horizonte, dividindo o posto com a conterrânea Larissa Bochinno, essa, sim, uma estreante no gênero. "É minha segunda novela, mas a primeira novela de arco longo, porque fiz uma participação pequena em Pantanal. E tem sido gratificante por inúmeros motivos. Minha parceria com a Larissa, por exemplo, começou com uma generosidade que nunca tinha visto. Quando fui chamado para fazer o teste, ela, que já estava escalada, me mandou uma mensagem, chamando para ensaiarmos juntos. Não é toda hora que encontramos essa disponibilidade no colega", observou, enaltecendo a colaboração afetiva que está sendo construída. "São duas pessoas jovens que estão se conhecendo, e conhecendo até a sexualidade. Esse tempero do romantismo está dentro de todos os conflitos humanos", apostou. 

 Tulio Starling, ator formado no DF, no ar em No Rancho Fundo e Justiça 2
Tulio Starling, formado no DF, está no ar em No Rancho Fundo e Justiça 2 (foto: Globo/ Manoella Mello)

De volta ao lar

Se No Rancho Fundo traz uma atmosfera romântica e leve, assim como em Vicky e a Musa — uma série pautada na magia —, esse não é o caso de Justiça 2. Na segunda parte da antologia assinada por Manuela Dias, Tulio surgirá no segundo episódio da trama, todo focado na história de Jayme (Murilo Benício), em uma trama bem realista e densa. Ele é Gabriel, o marido de Carolina (Alice Wegmann), que se muda com ela para Brasília e os dois se deparam com o tio dela, que sai da cadeia após cumprir pena pelo estupro da moça na adolescência. "Justiça, em 2016, foi uma série que fez parte da minha formação e pesquisa sobre um jeito novo de imaginar a possibilidade de fazer televisão, com dramaturgias mais densas e uma estética mais próxima ao cinema. Fazer Justiça 2 foi encontrar essa imaginação por dentro, anos depois", avaliou o ator, formado em artes cênicas pela Universidade de Brasília (UnB).

Para gravar Justiça 2, Starling retornou a um lugar que lhe é muito caro. Assim como em No Rancho Fundo ele vive o filho adotivo do veterano Eduardo Moscovis, Brasília também maternou o rapaz vindo de BH com apenas 15 anos de idade. "Brasília é meu segundo lar, a minha raiz profissional está ali, na UnB e nos teatros da cidade. É sempre maravilhoso poder retornar para a capital que me abraça tanto", celebrou o rapaz, que trabalhou por 12 anos com diversos criadores teatrais e cineastas do Distrito Federal, onde cofundou a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), do lendário Hugo Rodas, antes de integrar, em São Paulo, o Teatro Oficina, dirigido pelo icônico José Celso Martinez, ambos falecidos.

Hugo Rodas

Túlio Starling contou à reportagem que já ouvia falar de Hugo Rodas desde que chegou em Brasília, nos seus primeiros trabalhos e oficinas. "O que é natural, porque o Hugo é um fundamento do teatro brasileiro. Trabalhou em Brasília, em Goiânia, Salvador, Rio, São Paulo, além de ter circulado em festivais por vários lugares do país. Mas, nesse início, eu tinha meus 15, 16 anos. Aí uns dois anos depois, a Mirella Façanha e a Klarah Lobato, duas grandes amigas e grandes atrizes, fizeram um curso dele no Espaço Mosaico, que era ali no final da Asa Norte. E me contavam empolgadas de como era. E nessa altura eu já tinha visto Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo, no Sesc Taguatinga. Essa peça circulou por muito tempo e é sem dúvida um marco para muita gente. O poder de comunicação que o espetáculo tinha com o público, através da interpretação dos atores e da encenação de cada quadro, suas transições precisas e muito brincadas, a eletricidade que aquele quarteto fantástico tinha: Rosanna Viegas, André Araújo, Juliano Cazarré e Pedro Martins. O Abaetê Queiroz coringou anos nessa peça também e só não fez o papel da Rosanna. Aí depois eu vi um Hamlet que o Hugo montou no Sesc Garagem, com a Klarah, minha amiga, deslumbrante de Ofélia, e Boleros, um monólogo com ele em cena no Espaço Ecco, que ficava ali perto do Hran", citou. 

Starling explica que, até esse momento, conhecia Hugo Rodas dos trabalhos que ele fazia. Mas, já dentro da UnB, abriu uma disciplina especial com ele e ele entrou. "Entrei um pouco depois que tinha começado, bicando mesmo. E nunca mais deixei de ir, porque qualquer um que treinava com o Hugo sentia que ele se comunicava numa dimensão técnica e humana muito avançada. Todo mundo que viveu isso sempre lembra com muito carinho da experiência. Várias gerações aprenderam muito com o Hugo, sobre o ofício e sobre a vida. Ele é um mestre sim", relatou, exalando saudosismo. De acordo com o ator, no final da disciplina, sobrou o que se tornou a Agrupação Teatral Amacaca (ATA), grupo que a turma fundou e, como ele mesmo declara, "está vivão e produzindo muito, até hoje e além".

"Nos sete anos que eu trabalhei com o Hugo, fomos formando uma relação de muito afeto. Hugo tinha no trabalho seus afetos e vice-versa. Grupo pra ele era essa relação de bando mesmo, de gente que se junta, e trabalha muito e se diverte junto. Incansavelmente. Ele tinha um quadrinho na parede da casa dele que eram três palavras numa grafia bonita: talento, trabalho e tesão. Isso sintetiza muita coisa. Sempre que falo dele, dá muita saudade. Muito amor envolvido. Mesmo depois que eu fui para São Paulo trabalhar no Teatro Oficina, a gente não deixava de se falar, e se ver, quando eu ia pra Brasília ou ele ia pra lá. Enfim, muita história, muita alegria", concluiu.

Alguns trabalhos de Tulio Starling no teatro desse período candango são as peças Wergba (2006, de Similião Aurélio), Cosme trepado (2010, de James Fensterseifer), Ensaio geral (2012, de Hugo Rodas e ATA) e Desbunde (2015, de Juliana Drummond e Abaetê Queiroz) — pela qual foi premiado na categoria de Melhor Ator do Prêmio Sesc do Teatro Candango. Nos cinemas, estreou em longas-metragens com Faroeste caboclo (2013, um sucesso de René Sampaio) e protagonizou o filme Campus Santo (2015, de Márcio Curi, que não chegou a circular).

"O coração até acalma"

"Brasília é onde eu me formei como artista, como homem, como cidadão politizado. Vai estar sempre no meu coração", concluiu Túlio, que também pode ser vista no longa O pastor e o guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte. No filme, lançado em 2023, ele vive — olha aí — um estudante da UnB.

Sobre a relação com Brasília, Tulio acrescenta que é de muito amor, muito pertencimento e muita ligação com várias pessoas e com o território em si. "Me sinto muito em casa, o coração até acalma", disse o ator, que deu uma oficina de atuação para o audiovisual no Distrito Federal no final do ano passado chamada Arroz, Feijão e Câmera. Foram três turmas, uma na Asa Sul; outra no Guará, no espaço A Pilastra; e outra em Samambaia, no Galpão do Riso. Ele contou que deu também uma residência no Espaço Cultural Renato Russo, junto com Emanuel Lavor, sobre atuação e roteiro no cinema para atores e atrizes que também escrevem. "Foi minha última aventura no DF. Vou querer sempre outras. Amo esse território e o jeito que os artistas que vivem no DF têm para o trabalho. E eu estava aí, dando esses cursos, enquanto esperava o resultado do teste da novela. Recebi a notícia depois de ter dado uma carona para o Yuri Fidelis, na volta de uma aula. Tipo meia noite na Asa Sul: silêncio e luz amarela", finalizou, aos risos, a nossa prata da casa.

  • Tulio Starling com Dan Ferreira, Leticia Colin e Barbara Paz no longa A porta ao lado
    Tulio Starling com Dan Ferreira, Leticia Colin e Barbara Paz no longa A porta ao lado Divulgação
  • Tulio Starling e Larissa Bocchino protagonizam No Rancho Fundo
    Tulio Starling e Larissa Bocchino protagonizam No Rancho Fundo Divulgação/Globo
  • Enrique Diaz e Tulio Starling eram pai e filho em Pantanal 2
    Enrique Diaz e Tulio Starling eram pai e filho em Pantanal 2 Divulgação/Globo
  • Tulio Starling em cena nos palcos de Brasília
    Tulio Starling em cena nos palcos de Brasília Divulgação
  • Túlio Starling, ator
    Túlio Starling, ator Phillip Lavra/Divulgação
  •  Euterpe (Bel Lima) e Dionísio (Tulio Starling), as divindades mitológicas de Vicky e a Musa,do Globoplay
    Euterpe (Bel Lima) e Dionísio (Tulio Starling), as divindades mitológicas de Vicky e a Musa,do Globoplay Divulgação Globo
  •  Atores de Brasilia. Mario Luz, Davi Maia, Tati Ramos, Tulio Starling e Jessica Cardoso, em pose de 2014
    Atores de Brasilia. Mario Luz, Davi Maia, Tati Ramos, Tulio Starling e Jessica Cardoso, em pose de 2014 Bruno Peres/CB/D.A Press
  • Crédito: Arquivo pessoal. O ator Tulio Starling que interpreta o personagem Dudu em Faroeste caboclo.
    Crédito: Arquivo pessoal. O ator Tulio Starling que interpreta o personagem Dudu em Faroeste caboclo. Arquivo pessoal

 


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postado em 15/04/2024 08:00 / atualizado em 15/04/2024 08:28
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