MÚSICA

Rede pública do DF vai receber projeto de ensino do choro

Iniciativa tem previsão de início para segunda semana de abril e engloba, inicialmente, o Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro e Instituto Federal de Brasília (IFB)

Em fevereiro, o choro passou a ser considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan, em razão da grande participação na formação da cultura e da história do país. Para transformar esse reconhecimento em iniciativa prática e palpável, a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello lança o projeto Música para todos, no qual professores da própria instituição vão ensinar — de forma on-line e presencial — alunos da rede pública a tocarem instrumentos do choro, como cavaquinho, violão, pandeiro e percussão. Além disso, para aproximar a população desse ritmo, rodas de choro vão ocupar pontos da cidade. 

Com previsão de início para a segunda semana de abril, o projeto será instalado, primeiramente, no Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro e no Instituto Federal de Brasília (IFB), e entrará em fase de testes e ajustes, para que no ano que vem, a iniciativa seja expandida para outras escolas. A metodologia consiste em ensinar o gênero do choro, a partir da visita a obras de grandes compositores do ritmo como Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim e Raphael Rabello.

ENTREVISTA// DIRETOR ESCOLA DE CHORO RAPHAEL RABELLO, HENRIQUE NETO

Como surgiu o projeto?
Foi uma coisa espontânea da escola. Com o reconhecimento do choro como patrimônio cultural, a nossa ideia é que a gente consiga auxiliar o próprio Estado a executar essa missão que está na lei de levar música para as pessoas. A nossa missão, há 25 anos, é democratizar o ensino do choro, essa metodologia que é pioneira da nossa escola. A gente entende que é importante ter esse retorno social, de divulgação do choro e agora a gente montou de fato um projeto piloto de ensino.

Como ele vai funcionar?
A escola que está fazendo a gestão, organização, parte estrutural e metodológica do projeto. Ele vai ter três partes principais: aulas presenciais, no qual a gente vai levar um núcleo de professores para as escolas públicas, para eles darem aulas de cavaquinho, violão, pandeiro e percussão; um curso sobre a música na era do rádio, chamado O tempo e o som; e a terceira parte é levar rodas de choro para locais da cidade, onde vamos oferecer algumas rodas itinerantes para que aproxime as pessoas da música. Outro braço do projeto serão as aulas on-line, disponibilizadas gratuitamente, com nove cursos de choro completos, onde as pessoas vão poder acessar e compreender a metodologia da escola. Então, nesse formato on-line, a gente vai condensar esses 25 anos de experiência da escola de choro, tornando mais acessível para as pessoas no Brasil e fora também. Todos esses cursos terão libras e serão traduzidos para o inglês também.

Qual será o método utilizado nas aulas?
Nossa metodologia consiste em ensinar música a partir da obra de compositores como Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim, Raphael Rabello, entre outros. Então, a gente ensina música com base no repertório da música brasileira. Vai ser um curso voltado para a prática, com alguns materiais didáticos de suporte, como os conteúdos das aulas em formato audiovisual. Então terão aulas de instrumento — com professores da nossa escola —, onde os alunos vão aprender a parte técnica e, depois, vão interagir e ter uma prática em conjunto, em cima do mesmo repertório. Eles vão ter noção de o que cada instrumento faz, para entendê-lo como uma engrenagem no todo.

Quais são os próximos passos?
A gente vai testar o formato e entender a dinâmica das escolas públicas. Então, vão ter vários formatos a partir do final dessa primeira experiência e, no ano que vem, vamos começar a disseminar esse ensino do choro de uma maneira mais em larga escala. A gente está em contato com a Secretaria de Educação, que tem dado todas as orientações sobre as escolas que estão mais disponíveis neste momento para acolher esse projeto. A gente entrou em contato com a direção dessas escolas e, a partir do ano que vem, a intenção é cumprir essa função de levar música para as escolas.

Qual a importância desse projeto?
O ensino do choro é indispensável para o nosso país. Ele foi o primeiro gênero urbano e deu origem a vários outros, uma construção feita com pessoas de todas as regiões do Brasil. Então, primeiramente, a questão do pertencimento que o jovem vai ter, pois vamos apresentar uma música que faz parte da nossa história. Segundo, a música atribui sentido na vida das pessoas. Mesmo que não seja para a profissionalização, ela pode desenvolver senso estético, senso crítico e artístico mais apurado. Pode ter certeza que vão surgir muitos talentos a partir dessa iniciativa, porque muitas pessoas que às vezes não têm um propósito maior na vida podem encontrar na arte uma forma de expressão, uma profissão inclusive. Esse projeto é realmente muito profundo, não é só para ensinar a tocar, mas também para formar um cidadão.

O projeto foi inspirado na experiência de Villa-Lobos, que levou o canto orfeônico para as escolas durante o governo de Getúlio Vargas?
Quando você pega esse projeto do Villa-Lobos, eles estavam garantindo que as pessoas tivessem acesso, de uma maneira mais aprofundada, a um conhecimento fundamental. Nosso país é muito rico e tem muito o que compartilhar através da arte. A inspiração é justamente pegar uma figura como o Villa-Lobos, que deu esse primeiro “start”, e retomar. E tomara que a gente consiga implementar de uma maneira definitiva o ensino de música — do choro especificamente — nas escolas brasileiras.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco. 

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