Prêmio

Glória feita de sangue? Oscar deste domingo tem escalada de 'Oppenheimer'

Há seis anos, desde o sucesso de 'A forma da água', o Oscar não tinha um filme com tantas indicações quanto 'Oppenheimer', que, com muitas chances de vitórias, disputa 13 categorias da premiação

É algo cíclico: coincidência ou não, momentos tensos favorecem a valorização de filmes com conteúdo belicista na festa do Oscar. No ano em que presenciamos o acirramento de ações no Oriente Médio e o marco dos dois anos da Guerra na Ucrânia, Oppenheimer, o filme sobre a criação da bomba atômica se afirma com ampla chance de vencer em muitas das 13 categorias às quais foi indicado. Em 2003, às vésperas da invasão ao Iraque, ator e diretor do pacifista O pianista despontaram, e pouco antes da conclusão da passagem das forças norte-americanas, em 2011, um ano antes, o Oscar para o melhor filme de guerra ao terror ainda se viu nas mãos da diretora Kathryn Bigelow. Com a Guerra de Kosovo às vias de ser encerrada, em 1999, Steven Spielberg foi o melhor diretor por O resgate do soldado Ryan, quando Além da linha vermelha competiu e A vida é bela tragou os prêmios Oscar de ator e melhor filme internacional.

A escalada de Oppenheimer tem previsão de agraciar o diretor Christopher Nolan — discípulo de Spielberg e James Cameron, nas polpudas bilheterias — com o primeiro Oscar, depois de capitanear os filmes de Batman, Interestelar e A origem. Com a fotografia trabalhada para rendimento máximo no formato Imax, o suíço Hoyte Van Hoytema (de Tenet e Dunkirk) deve levar o Oscar. Além de barbada na categoria de melhor filme, Oppenheimer dá fortes indícios de vitória para a trilha sonora do sueco Ludwig Goransson e ainda para a edição de Jennifer Lame (de Pantera Negra: Wakanda para sempre). Um ponto de insegura vitória é a do ator central, Cillian Murphy, que pode se ver derrotado pela performance de Paul Giamatti, como o pouco ortodoxo professor de Os rejeitados. Giamatti, que venceu o Critics Choice Awards e ainda o Globo de Ouro, com absoluta tranquilidade, verá a colega de elenco Da'Vine Joy Randolph como ganhadora de melhor atriz coadjuvante.

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Fotos: Searchlight Pictures/Divulgação; Divulgação/Warner Bros; Paramount/Divulgação; Universal Pictures/Divulgação; Divulgação e Diamond Filmes -
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A categoria mais incerta da noite, a de melhor atriz, alinha duas concorrentes de peso, Emma Stone (Pobres criaturas) e Lily Gladstone (Assassinos da lua das flores), a primeira (vencedora, no passado por La la land), destacada por vencer o Critics, o Bafta e o Globo de Ouro, e Lily, premiada no Globo de Ouro e pelo Sindicato de Atores. Mais de meio século depois da aparição da atriz Sacheen Littlefeathen, de origem indígena, para renegar o Oscar de Marlon Brando, o autêntico reconhecimento de etnia nativa pode sustentar o discurso de Lily Gladstone, que pode ser a primeira atriz a ostentar um Oscar. O longa de Martin Scorsese retrata Mollie Kyle, abusada por exploradores que esfacelam tradições e heranças da etnia osage.

Quando se pensa em Oscar, muito das atenções residem em valores e lucro. Nisso, o Oscar promete reconhecer Robert Downey Jr., que, depois da bilionária franquia dos Vingadores, ingressou no universo de Christopher Nolan, na pele de Lewis Strauss, oponente da severa ética de Oppenheimer, e que deve lhe valer o Oscar de melhor ator coadjuvante. O chamariz de Downey Jr. pode ter contribuído para bilheteria de Oppenheimer, três vezes maior do que a do clássico A lista de Schindler. Assim, alcança os US$ 960 milhões (nem meia arrecadação de Titanic), e muito atrás de exemplares das sagas Avatar, Star Wars, Jurrassic World e Homem-Aranha. Oscar e lucro formam, neste ano, um capítulo à parte com o US$ 1,4 bilhão ostentado por Barbie, filme selecionado entre os 10 melhores do ano.

Barbie, que marca uma afirmação das mulheres na cereja do bolo da indústria de cinema, pode ter sido minimizado, pela ausência da diretora Greta Gerwig entre os finalistas, mas deve faturar suas estatuetas. Billie Eilish (com o irmão Finneas O'Connell) tem enorme chances de prêmio, com a música What was I made for?. A representação do mundo irreal de bonecas (e aí entra a disputa com a concorrente direta Emma Stone, que estrela Pobres criaturas) deve converter em Oscar as indicações de melhor direção de produção e melhor figurino para Barbie. Já nos quesitos de maquiagem e penteados a estatueta deve ir para Pobres criaturas.

A presença feminina, à parte de unânime, no espetacular documentário concorrente As 4 filhas de Olfa, deve ser abrilhantada no palco com a virtual vitória da diretora francesa Justine Triet (indicada), que tem larga vantagem pelo roteiro original de Anatomia de uma queda, em disputa direta com outra roteirista, Celine Song, de Vidas passadas (concorrente ainda a melhor filme). A reboque de debates maduros sobre negritude — e talvez uma das obras contemporâneas mais seminais em torno do tema — o filme Ficção americana tem muito para dar a Cord Jefferson o Oscar de melhor roteiro adaptado (criado a partir de Erasure, escrito por Percival Everett).

O momento de reflexão e de sensibilidade em torno de guerras deve render palanque para o documentário concorrente 20 dias em Mariupol (de Mstyslav Chernov, e que revela a visão de jornalistas após a invasão russa), levantar impacto da animação de Hayao Miyazaki (O menino e a gaivota, que possivelmente perderá na categoria de animação para Homem-Aranha: através do aranhaverso) e claro, afetar os votantes que tem tudo para entregar para Zona de interesse o Oscar de melhor filme internacional (que pode acompanhar o melhor som). Em tempo: a celebração terá presenças de Forest Whitaker, Sally Field, Charlize Theron, Ariana Grande, Tim Robbins, Jessica Lange, Nicolas Cage e Al Pacino.

96º Oscar 

No Teatro Dolby (Los Angeles), hoje, a partir das 20h, mais cedo do que o tradicional, com transmissões no TNT e na plataforma Max.


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