MÚSICA

Rapper indígena critica 'ostentação' de ouro por artistas; entenda

A produção audiovisual é uma crítica ao sistema de exploração do minério, que em muitos casos ocorre de maneira ilegal e impacta o meio ambiente e modo de vida de comunidades indígenas

A rapper indígena Katú Mirim levantou um debate sobre o uso de peças de ouro por artistas após o lançamento da música Bling Bling. No clipe da obra, a cantora aparece mastigando cordões de ouro e cuspindo sangue. A produção audiovisual é uma crítica ao sistema de exploração do minério, que em muitos casos ocorre de maneira ilegal e impacta o meio ambiente e modo de vida de comunidades indígenas, a exemplo da tragédia que ocorre com o povo da Terra Yanomami.

Para separar o ouro de outros minérios, os garimpeiros utilizam o mercúrio, um metal líquido de alta toxicidade que contamina o solo e a água. "Quando despejado em rios e lagos, o mercúrio passa por um processo de metilação [que é um processo de alteração da estrutura química de uma substância] e se converte em sua forma mais tóxica, o metilmercúrio, sendo incorporado, depois, pela ictiofauna e outros animais aquáticos. Nesse cenário, os indígenas e ribeirinhos constituem um grupo de risco, visto que o peixe é a principal fonte de proteína dessas populações, ficando sujeitas a comprometimentos sérios de saúde", explica o relatório do Instituto Socioambiental (ISA) e da Rede Xingu+.

"Corrente de ouro, tu tá pagando com as nossas vidas", diz a rapper em um trecha da música lançada há duas semanas. A rapper lembra que os povos originários praticavam a extração de metais e pedras preciosas de maneira sustentável, utilizando métodos tradicionais e respeitando o equilíbrio ambiental. "Isso pode incluir práticas como a coleta manual de pedras e minerais, evitando o uso de métodos invasivos. Além disso, o respeito às tradições e o conhecimento passado de geração em geração desempenham um papel crucial na garantia de que a extração seja feita de forma consciente e sustentável", diz Katú.

Veja a letra e o clipe da música:

Mano acorde, tá se achando, agora tu é midas?
Corrente de ouro, tu tá pagando com as nossas vidas!
Afirmação não esta mais no ouro não, então recorde
O que brilha no teu corpo no meu ele só faz cortes
72 hours, ostentação para nóis agora isso é morte
72 hours, pra viver tem que ser forte e ter sorte
Tem que ser forte e ter sorte
Sua riqueza causa pobreza, estupro e destruição
Quem patrocina o garimpo não é a minha religião
No teu peito tem pingente de ouro em formato de balas
Yanomami é o alvo, aqui o tiroteio não para

Barras e balas
Barras e balas
Tum ratata, na nossa cara
Sua ganancia gera matança
Corpos gelados sem esperança

(Então pare de nos matar)

Esse seu bling bling
Para nós, traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang
Esse seu bling bling
Para nós, traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang

Do brooklin pro Brasil
Revolução fechamos junto
A verdade esta estampada então não muda de assunto
Diamante de sangue escondendo os defunto
O ouro pesa muito na cabeça de quem tem ferida
O seu cofre é lotado e nosso prato sem comida
Ouve a alerta então desperta
Fechando do mesmo lado
Não sou seu alvo, então não acerta
Viver virou um combinado
Sequestro pega no laco, se escondendo no mato
Meu Deus o que que eu faço?
Querem aço nas minhas pernas
Essa luta é tão interna, tudo off se não tá ligado

Esse seu bling bling
Para nós, traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang
Esse seu bling bling
Para nós, traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang
Esse seu bling bling
Para nós, traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang
Esse seu bling bling
Para nós traz bang bang
Tu é o king king
Do ouro o king gang

Com humildade e com verdade, eu te passo a visão
A raiz do nosso rap sempre foi revolução
Ouro no seu pescoço, aço no nosso braco
E tá tudo igual: Sequestro, pegada no laço
Então chega então pare, pare de nos matar
Então chega, então pare, pare de garimpar

 

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