Um dos maiores eventos da música no calendário brasileiro foi o principal assunto do último final de semana. O Lollapalooza Brasil tomou o autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, entregou shows memoráveis e momentos inesquecíveis para o público. Porém, como nem tudo são flores, o festival de música que chega a 11ª edição em 2024 teve seus altos e baixos como qualquer outro.
Criado por Perry Farrel, vocalista da banda Jane's Addiction, em Chicago no ano de 1991, o Lollapalooza chegou ao Brasil em 2012 e se consolidou como o maior festival de música anual do país. Com média de mais de 100 mil espectadores por dia, o festival traz alguns dos artistas mais pedidos pelo público brasileiro. Com 12 anos de existência no Brasil, sendo dois sem edições devido a pandemia, o evento já foi capitaneado por nomes como Billie Eilish, Miley Cyrus, The Strokes, Arctic Monkeys, Eminem, Kendrick Lamar e Metallica.
Este ano, Blink-182, SZA, Kings of Leon, Titãs, Limp Bizkit e Sam Smith foram os principais nomes da festa. O Correio acompanhou in loco os três dias de evento e levanta o que houve de melhor e pior no festival que ocorre em São Paulo, mas une o Brasil inteiro.
Cancelamentos
Um problema de antes da abertura dos portões na última sexta (22/3), os cancelamentos atormentam o Lollapalooza nos últimos tempos. De nomes grandes como Foo Fighters em 2022, Drake em 2023, e agora o Paramore em 2024; a artistas menos populares como Rina Sawayama, Dove Cameron e Jaden, que foram anunciados, mas, por motivos diversos, tiveram que ser substituídos pouco antes do festival.
O evento até conseguiu trazer artistas renomados para ocupar os espaços vagos pelos imprevistos. Kings of Leon assumiu um dos postos mais altos da line-up com toda pompa e relevância que tem como uma das bandas mais importantes da geração do rock indie dos anos 2000, Greta Van Fleet encerrou o último dia de evento. No entanto, ambos já haviam tocado em 2019 no Lolla e não tinham o caráter de novidade e a base de fãs de um Paramore, ou o elemento supresa que teria a estreia da Dove Cameron, respectivamente.
Atestado de potência
Se não foi possível evitar as mudanças na grade de atrações, o Lollapalooza acertou na imponência dos maiores nomes. A começar pelo aguardado show da banda de punk rock Blink-182. Com 30 anos de estrada, o grupo formado por Mark Hoppus, Tom DeLonge e Travis Barker nunca havia se apresentado no Brasil. Com show emocionante e lotado, os artistas fizeram história e podem tranquilamente ser considerados um dos maiores headliners que já passaram pelo festival. Não era difícil, por exemplo, ver pessoas chorando de emoção por realizar o sonho de vê-los ao vivo.
Menos experiente, mas da mesma magnitude, outra estreante marcou o nome na história do Lollapalooza. SZA era o principal nome do pop e a única das atrações principais, além do Blink, que não tinha vindo ao Brasil. Com 10 anos de carreira, a cantora do R&B fez uma apresentação grandiosa. A cenografia complexa, o palco cheio de dançarinos e o carinho com o público se somaram à voz sobrenatural de SZA no que facilmente será um dos cinco melhores shows do ano em território nacional.
Experiência e redenção
Se a jovem SZA foi o grande destaque, chama atenção o fato dela ser uma das raras “novidades” do festival. A maioria dos grandes nomes presentes entre as atrações já haviam se apresentado no Brasil, muitos no próprio Lolla. No entanto, isso não tira o valor dos grandes shows. Jungle, que já havia feito um show no mesmo evento em 2016, foi um dos destaques da sexta; Arcade Fire, headliner de 2014, entregou uma apresentação do mesmo valor 10 anos depois; assim como Phoenix, que lotou o palco principal com um dos melhores shows do evento pela segunda vez, sendo a primeira também em 2014.
Outros nomes estreavam no Lolla, mas queriam reconquistar os brasileiros após passagens de menos brilho no país. Thirty Seconds to Mars havia sido muito criticado em apresentação no Rock in Rio 2017 e o The Offspring não entregou tudo que podia na edição de 2022 do mesmo festival carioca. Já em 2024, ambas as bandas deram o melhor no palco e saíram deixando uma boa impressão. Mesmo caso do Limp Bizkit, que não fez bom show no Brasil em 2016, mas fez um espetáculo no segundo dia do evento paulista.
Brasil nos palcos
Nunca o Lolla foi tão brasileiro. Com 46 atrações representando os mais diversos territórios, incluindo o DF com Hungria Hip-Hop, o festival bateu o recorde de atrações locais na line-up. Shows de Marcelo D2, Manu Gavassi, Braza e Xamã chamaram muita atenção, mas o tempo de estrada de Gilberto Gil e a despedida dos Titãs foram toque grandioso de brasilidade que faltava ao Lollapalooza. Gil se curvou ao poder da juventude e cantou para um público imenso ao cair da noite de domingo. Os Titãs fizeram a última apresentação do Encontro, com os integrantes originais, e fecharam o sábado com uma mistura de emoção e saudade. As atrações internacionais ainda são o maior chamariz de público, mas há potência no Brasil e estes nomes cravaram que alguns dos melhores shows de cada edição podem ser cantados em português.
“Lamapalooza”
Há 10 anos na mesma época e no mesmo autódromo de Interlagos, o Lollapalooza parece todo ano ser pego de surpresa pela chuva. Março é um mês chuvoso em São Paulo, isso é de conhecimento geral. Porém, a chuva sempre causa problemas ao evento. De cancelamento de shows por risco de raios até danos a estruturas e instrumentos de artistas, parecia que o Lolla já tinha passado por tudo, mas uma nova questão foi encontrada: a lama.
Com uma garoa constante, o festival viu praticamente todo o gramado ganhar uma lama escorregadia. O problema afetou a locomoção do público que se aglomerava em “terra firme” e, muitas vezes, optava por não se aproximar muito dos shows. Tombos e escorregões eram recorrentes e o cheiro também incomodava. A lama já havia dado as caras em outros anos, mas nunca a ponto de dificultar a experiência.
Herança do The Town
Alguns problemas logísticos, no entanto, foram sanados. Os banheiros foram os que mais tiveram avanços, uma vez que após o The Town o autódromo tem a possibilidade de água encanada e pôde abrir mão das cabines químicas. Este foi o primeiro ano sob a tutela da Rock World, mesma produtora do Rock in Rio, no comando do evento. O Lollapalooza era organizado pela Times For Fun anteriormente e as melhorias da mudança foram visíveis também na redução de filas para comida e na facilitação dos trajetos com aterramentos feitos para o The Town no ano passado.
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