O objetivo da segunda mostra Mulheres Mágicas — Reinvenções da bruxa no cinema, que contempla 27 filmes de diferenciados contextos e geografias, pelo que comenta uma das curadoras, Juliana Gusman, está em instigar uma reflexão sobre novos ares para o injurioso termo "bruxa". "Sem esconder os rastros de sua história, o termo pode ser revisto, provocativa e transformativamente, junto ao conceito de mulheridade", observa. O evento será aberto, às 19h, no CCBB, com exibição do novo clássico A bruxa, de Robert Eggers.
"A figura da bruxa, manuseada com propósitos de coerção e perseguição, pode apontar caminhos de emancipação e liberdade, já que ela, na verdade, representa todas as mulheres e corpos que desafiam uma ordem masculina, capitalista, racista, colonial e patriarcal. A partir da bruxa, podemos expandir nosso conhecimento sobre suas vidas insubmissas e esboçar, nas palavras da professora e filósofa Silvia Federici, um reencantamento do mundo: é somente humanizando as pessoas consideradas 'fora da norma' que poderemos recuperar, coletivamente, o poder de decidir o nosso destino", pontua Gusman.
Até 21 de abril, a programação — que abrange filmes como A fada do repolho (de Alice Guy) e o nacional Simpósio preto — privilegia aspectos de plena emancipação das mulheres. Exemplo disso está no importante exemplar setentista. "É um filme militante feito pelo coletivo mexicano Cine Mujer, um dos grupos pioneiros do setor. O média-metragem, que alinhava documentário e ficção, trata da importância da descriminalização do aborto. Isso, a partir da perspectiva do debate, e na defesa da autonomia feminina sobre seus próprios corpos", observa a também curadora (ao lado de Tatiana Mitre) Carla Italiano. Ela ressalta a procura por intervenção política direta, num contexto social desigual. "Por estar inserido num contexto latino-americano, o filme apresenta ressonâncias com pautas relevantes para os brasileiros", destaca Carla Italiano.
Recapitular a densidade de alguns filmes traz à memória o fato de Jean-Paul Sartre haver assinado o roteiro de As feiticeiras de Salém, feito em 1957, e presente na mostra. "Esse longa de Raymond Rouleau é de difícil acesso. Entre as adaptações da peça de Arthur Miller, uma das mais populares é a estrelada por Winona Ryder (1996). Em relação a esse trabalho clássico, a curadora Juliana Gusman vibra com as atuações primorosas de Simone Signoret e Mylêne Demongeot. "No filme, pesam questões de classe — que interferiam diretamente nas dinâmicas de acusações contra a bruxaria — numa trama que se revela política. É um filme sobre um passado de perseguição contra mulheres e homens proletários, mas extremamente flexionado pelas discussões de seu tempo", opina.
Reinvenções da
bruxa no cinema
De hoje a 21 de abril, no CCBB (SCES, tr. 2). Entrada: R$ 10.
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