A história original se passa no século 17, mas o enredo tem algo de tragicamente atual. A ópera Suor Angélica, de Giacomo Puccini, conta a história de uma mulher obrigada pela família a se retirar do convívio social por ter tido um filho antes do casamento. A soprano Janette Dornellas e a diretora cênica Hyandra Ello trouxeram a narrativa para o século 20 em montagem que estreia amanhã no Teatro da Escola de Música de Brasília (EMB).
Responsável por dar vida à personagem principal da obra, Janette conta que a história se passa durante um dia de Suor Angélica no convento para o qual foi enviada pela família após ter o filho afastado de sua convivência. "Nós ambientamos a ópera no início do século 20, mas é um tema atemporal, que é o não direito da mulher sobre seu próprio corpo e sua própria vontade. Ela fica sete anos sem ter notícias nem do filho, nem da família. E ela não está lá por vocação e sim por imposição. Mas ela é acolhida", explica Janette. "O bonito dessa ópera é o acolhimento das outras irmãs para com ela."
Com figurinos muito simples — todas as personagens estão vestidas de freira — e elenco majoritariamente feminino, a montagem dá ênfase à atemporalidade da história e ao drama vivido pela mãe. A opressão faz de Angélica uma vítima de uma sociedade patriarcal na qual a mulher não tem direito sobre o próprio corpo. A situação encontra eco nas sociedades contemporâneas, ainda às voltas com temas que dizem respeito ao controle feminino sobre questões relativas a seus corpos. No total, 22 mulheres participam do elenco e Janette Dornellas divide o papel de Angélica com Érika Kallina.
Uma orquestra composta por 11 músicos sob a regência de Angelo Dias, professor da Universidade Federal de Goiânia, fica responsável pela música. "Acho que é das mais bonitas de Puccini. A dramaticidade, a força dramática da música dele é incrível, consegue levar ao êxtase musical, tem alívio cômico, momentos alegres, poesia, drama", avisa Janette.
Hyandra Ello lembra que Suor Angélica é uma das poucas óperas do repertório com elenco inteiramente feminino. Por isso ela se inspirou na sororidade para criar o ambiente cênico da montagem. "Minha ideia geral era criar um ambiente, na primeira parte da ópera, de irmandade, de amizade entre essas mulheres, que são freiras. As freiras têm muito isso, a família delas é aquele núcleo. E são mulheres. Então queria criar esse ambiente cotidiano e natural onde tivesse relações de amizade e de sororidade mesmo, inclusive com relação à Angélica."
O quadro Dia de lavar roupa no convento, pintado no século 19 pelo francês Armand Désiré Gautier, inspirou a cena de abertura idealizada por Hyandra. "Também sou cenógrafa, então a gente criou um espaço que parece um jardim interno, como se fosse um lugar aberto onde elas se encontram em um momento livre", diz. Suor Angélica ocorre em apenas um ato e foi composta por Puccini no início do século 20. É a penúltima ópera do compositor, mais conhecido por obras como La Bohème, Turandot e Madame Butterfly.
Serviço
Suor Angélica
De amanhã até domingo, às 20h, no Teatro da Levino de Alcântara, da Escola de Música de Brasília (EMB). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Não recomendado para
menores de 16 anos
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