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Conheça o ator brasileiro que atua em novela de sucesso em Portugal

Paulo Guidelly, 38 anos, acaba de estrear na tevê portuguesa na novela Cacau, da TVI, emissora líder no país. Ator brasileiro é cria do Nós do Morro, projeto cultural de onde saíram Juan Paiva, Marcelo Mello Jr e Renan Monteiro, de Renascer

Ator brasileiro, cria do Nós do Morro, Paulo Guidelly acaba de estrear na televisão portuguesa na novela Cacau, da TVI, emissora líder de audiência no país. Dirigida pelo também brasileiro Edgar Miranda e escrita pela portuguesa Maria João Costa, a obra estreou há um mês e traz o paulistano de 38 anos como o baiano Tiradentes, um personagem de destaque na trama.

Na onda do remake de Renascer aqui no Brasil, a novela tem como pano de fundo as plantações de cacau de Itacaré, na Bahia, onde mora o brasileiro Tiradentes. A trama, entretanto, se divide entre os dois países. Tanto que as gravações são feitas em Lisboa, para onde Paulo se mudou em agosto do ano passado.

Além de ser dono do bar mais frequentado da cidade, o Chopp Real, Tiradentes é orgulhoso da sua ancestralidade preta que remonta ao tempo dos primeiros escravos do império. "Ele tem várias curvas, trata de questões raciais, de reparação histórica. A autora, que é branca e européia, me consultou sobre discursos do personagem, por reconhecer não ter lugar de fala. O Tiradentes abomina os portugueses por conta da herança nefasta que o colonialismo trouxe para o Brasil.Mas ele é do núcleo cômico da novela, para não ter tanto peso o embate e não gerar essa afronta com os cidadãos portugueses", explicou o ator ao Correio.

 

Comunicação TVI - Paulo Guidelly, ator brasileiro em novela de Portugal

 

É na choperia de Tiradentes que todos os personagens se reúnem em Itacaré. O personagem entra na conversa e não perde a oportunidade de contextualizar a História. "Ele tem um suposto canino do Dom João VI na choperia, que ele diz ter sido arrancado pelo tataravô. Isso expõe essa ancestralidade. O personagem também cita o caso recente ocorrido no aeroporto, em que 'a portuguesa de raça' agride brasileiros", adiantou Paulo, que ainda não sentiu o retorno dos telespectadores lusitanos. "A relação dos portugueses com a teledramaturgia é diferente, mas eu não nego o medo de ser cancelado no país pelo personagem", confessou.

Arte genuína e potente

Ator há 19 anos, Guidelly dividiu sua formação entre a Unirio no Rio de Janeiro, cidade onde se baseou, e a Escola de Arte Dramática da USP, em São Paulo, cidade onde nasceu. Ele esteve em grandes produções do teatro infantil que viajaram pela América Latina, mas foi em Oboró — Masculinidades negras, espetáculo de 2020 dirigido por Rodrigo França, onde se encontrou. “Foi um marco na minha carreira porque consegui me encontrar como artista preto, periférico e homossexual, entendendo que posso transformar essas narrativas em arte genuína e potente”, celebra Paulo, que não está distante dos debates levantados por seu personagem em Cacau.

Parte fundamental da formação de Guidelly também aconteceu com o grupo de teatro Nós do Morro, onde Guidelly ingressou como aluno em 2013 e atua, desde 2023, como multiplicador. São 10 anos da relação entre o ator e o projeto, localizado no Morro do Vidigal e fundado por Guti Fraga. “Tenho muito orgulho da minha trajetória no grupo, o Nós do Morro me trouxe de volta ao mundo das artes, estava em um momento que queria encontrar novos desafios na carreira e foi lá que encontrei. Tenho um agradecimento eterno por eles”, afirmou ele, que, para 2024, além da novela Cacau, poderá ser visto na série O jogo que mudou a História, do Globoplay, e no filme Bandida, que chega aos cinemas brasileiros em maio.

Algo sobrenatural

Os testes para Cacau foram realizados em 2023, no final de junho, e, na primeira semana de agosto, Paulo já embarcava para Portugal."Eu já tinha feito audiovisual, em papéis não muito relevantes na tevê e no streaming, mas meu sonho de vida era telenovela. Jamais imaginei que um dia viria para Europa gravar uma novela. Eu trabalhava no teleatendimento do Disque Cidadania no Rio quando me chamaram para esse teste, os meus colegas me ajudaram a gravar o material, mas eu não acreditava que daria certo.Após anos desejando um lugar ao sol, houve muitas questões que atravessaram. Chego a acreditar mesmo que é Deus, algo sobrenatural", celebrou ele.

Antes de Paulo e de Vitor Britto (com quem contracena em Cacau), somente Zezé Motta (em Ouro Verde) havia representado a negritude brasileira em uma produção de tevê na Europa. “Eles nos acolheram muito bem, todos têm uma ótima relação com os brasileiros”, concluiu o ator.

 

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