Cinema

Com popularidade e premiações, talento negro tem mais reconhecimento no cinema

Artistas do cinema têm obtido crescente aclamação, sejam pelas premiações, seja na popularidade em Hollywood

Num crescente, talentosos artistas negros têm obtido o sucesso, a exemplo do duplamente premiado com o Oscar Mahershala Ali (Green book: O guia e Moonlight: sob a luz do luar) e Viola Davis que, numa escalada de 15 anos, cravou interpretações fortes em A mulher rei (2022) e A voz suprema do blues (2020). Nesse último longa, Viola justamente personifica a potência da cantora Ma Rainey, presente no fundo da trama do recém-estreado musical A cor púrpura, baseado na obra da engajada Alice Walker, que, para além do protagonismo de Fantasia Barrino, acolhe talentos de outros dois artistas negros protagonistas do Oscar 2024: o versátil Colman Domingo, 54 anos, e a talentosa intérprete Danielle Brooks, 34.

Em A cor púrpura, até pela indicação ao Oscar central, por Rustin (elemento fundamental à diluição do racismo e da homofobia, nos anos de 1960) — dá vida a Mister, abusivo patrão e marido de Celie, sempre ameaçada por feminicídio. Já Sofia (Danielle, também candidata ao Oscar), que vai de presença luminosa à alma perturbada, encerra um recado de feminismo e de basta ao racismo.

Nessa linha de referência, empoderada, a vencedora do Globo de Ouro Da Vine Joy Randolph (de Os rejeitados), aos 37 anos, deixou o recado, no palco prévio à futura empreitada de conquista do Oscar (a ser apresentado em 10 de março): "A personagem me fez ser vista de modo que nunca imaginei". Negra e obesa, a personagem de Joy Randolph faz par com outra caracterização valorizada pelo Oscar: a de Sterling K. Brown (em Ficção americana). Na tela, o astro da série This is us e do filme Pantera Negra, é Cliff, o irmão do protagonista, que cai na esbórnia, depois de encerrar um casamento. Confira abaixo o reconhecimento de outros artistas negros.

Constante versatilidade

Nada menos do que a presidência do júri de um dos mais badalados eventos de cinema, o Festival de Berlim, está na pista de desafios da atriz Lupita Nyongo (há uma década, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante, por 12 anos de escravidão). "Reconhecer, e celebrar" o melhor do cinema do evento mundial é a meta da quarentona atriz de origens queniana e mexicana. Ex-estudante da Yale School of Drama, Lupita, que já integrou a franquia Star Wars, despontou por produzir, dirigir e escrever o curta In my genes (2009), documentário que acompanhava a discriminação a albinos em país africano. Sempre lembrada pelo papel da guerreira de Pantera Negra, Nakia, e pelos papeis em Nós (2019) e Rainha de Katwe (2016), em torno de uma enxadrista ugandense, Lupita ainda é conhecida como autora do livro infantil de êxito Sulwe, que trata dos temas do autoconhecimento e do reconhecimento da beleza. Com lugar assegurado no longa de alienígenas Um lugar silencioso: dia um, que estreia em junho, ela ainda produziu recentemente o drama sudanês Goodbye Julia, assinado pelo diretor Mohamed Kordofani.

Atento e forte

Pelo conteúdo da sátira social de Ficção americana, o filme que lhe rendeu, este ano, a primeira indicação ao Oscar de melhor ator, o ator Jeffrey Wright pode rir da desenvoltura com a experiência em enfrentar, ao longo da vida, situações de preconceito. Na pele do escritor Thelounious Monk Ellison (de Ficção americana), Wright, que no cinema viveu ainda o contestador Jean-Michel Basquiat — Traços de uma vida (1996), já revelou ter compactuado identidade, uma vez que, na vida real, é formado em ciência política. Monk é um intelectual que, pelas obras de peso, se vê fora do fora do radar mainstream, até ceder à escrita de personagens negros estereotipados. Ex-marido da também engajada artista inglesa Carmen Ejogo (Selma: Uma luta pela igualdade), nos palcos da Broadway, o ator, hoje com 58 anos, já fez história, tendo vencido um prêmio Tony, ao dar vida a uma enfermeira soropositiva, em Angels in America. No streaming da HBO, a popularidade veio com Westworld, em que interpretou um ciborgue, enquanto, no cinema, se popularizou como o comissário Gordon de The Batman e ainda na franquia Jogos vorazes.

Reconhecimento à carreira

"Lembrem-se de quem vocês são e de quem nossos ancestrais pretendiam que vocês fossem", sublinhou a atriz Angela Bassett, quando da recente homenagem com o Oscar honorário pela carreira. Associando a profissão de atriz a um chamamento, para "fazer a diferença e criar impacto", aos 65 anos, Basset celebrou o percurso de Hattie McDaniel (a atriz negra vencedora do Oscar por ...E o vento levou) e ainda a colega Cicely Tyson, que quebrou barreiras, no reconhecimento pela participação em Sounder — Lágrimas de esperança. Nunca recuar e imprimir determinação favoreceram a inspiração da luta de Bassett, no retrato de personagens como a costureira e atuante membro da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor Rosa Parks, o ícone da música Tina Turner e a escritora e ativista Coretta Scott King, viúva de Martin Luther King, sem esquecer a rainha Ramonda (à frente da primeira personagem de um filme da Marvel a render indicação ao Oscar).

Desafio estelar

Ainda sem saber dançar, cantar ou tocar violão, o ator central de Bob Marley — One love, Kingsley Ben-Adir, 37 anos, aceitou, com medo, assumir a versão em cinema para a lenda, no filme com produção-executiva de Brad Pitt. "Marley era muito gentil e amoroso e, um tipo tão popular e engraçado", comentou o Kingsley, o Malcolm X do filme Uma noite em Miami (2020), para a rede de tevê CBS, ao contar do propósito de não ter copiado o cantor e compositor jamaicano do qual buscou captar a essência e o espírito. Com 20 quilos a menos do habitual, para realizar o teste para o personagem, o ator derrubou ressalvas sobre a futura personificação, aos olhos de Ziggy Marley, um dos produtores do longa, que sempre teve o pai "como um gigante".

Retorno triunfal

Foram quase seis anos sem atuar, até que — hoje, aos 62 anos — Eddie Murphy retornasse à profissão. "Eu fazia porcarias de filmes", confirmou aquele que, em 2010, foi considerado o pior ator da década, vencendo um Framboesa de Ouro. O trampolim para o regresso veio via streaming: ao interpretar Rudy Ray Moore, no cômico Meu nome é Dolemite (2019), alcançou a redenção, destacado para competição ao Globo de Ouro. Hoje, depois de estrelar o primeiro filme centrado no Natal de toda a carreira (Candy Cane Lane, da Prime video), Murphy verá pela Netflix, em 3 de julho, a ressurreição de seu sucesso à frente do detetive Axel Foley, que retorna a Beverly Hills, em Um tira da pesada 4 para ajudar a ameaçada filha vivida por Taylour Paige.

No cenário de bonança, com Coming 2 America (criado a partir de Um príncipe em Nova York, de 1988), Murphy estabeleceu recordes de visualizações no Amazon Prime. Possivelmente, 30 anos depois do terceiro Um Tira da Pesada, na parceria com talentos como Joseph Gordon-Levitt, Paul Reiser e Judge Reinhold, além de um quinto filme para a franquia, o eterno comediante viverá ícone e precursor do funk George Clinton. Com direito à estrela na Calçada da Fama, e vencedor de Grammy, o membro do Parliament-Funkadelic serviu de inspiração para criadores como Tupac Shakur, Snoop Dogg e Ice Cube.

 


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