TELEVISÃO

Protagonista na TV, no cinema e no streaming, Juan Paiva só tem a celebrar

Intérprete de Buchecha no filme Nosso sonho e de João Pedro em Renascer, o carioca Juan Paiva, 25 anos, celebra oportunidades para artistas negros e periféricos e comemora sucesso no cinema, na tevê e no streaming. Ele estará ainda em Justiça 2

O ano começou literalmente com o pé direito para Juan Paiva. Após brilhar nos cinemas no filme Nosso sonho, que conta a história da dupla Claudinho & Buchecha, o ator de 25 anos protagoniza o remake de Renascer, que está no ar desde janeiro na TV Globo, e a série Justiça 2, que tem estreia prevista para este semestre no Globoplay.

Jovem preto e periférico, o intérprete de João Pedro na novela das 21h — que teve seu primeiro papel principal em Um lugar ao sol (2021) — celebra essa mudança de paradigma no audiovisual. "A gente está avançando por um lugar interessante, e que seja numa velocidade mais rápida. Eu fico muito feliz com tudo o que vem acontecendo. Que eu possa estar inspirando outras pessoas que vêm de comunidade, assim como eu", afirmou ao Correio.

Na novela criada por Benedito Ruy Barbosa, adaptada pelo neto Bruno Luperi, com direção artística de Gustavo Fernandez, João Pedro é o filho caçula do fazendeiro José Inocêncio (Marcos Palmeira), que o rejeita desde bebê pelo fato de a mãe, Maria Santa (Duda Santos), ter morrido no parto.  Contraditoriamente, dos quatro herdeiros, ele é o mais parecido com o pai e o único que ficou com ele na fazenda, lidando com o cacau. "João Pedro é um cara de muita força, herdada pela mãe. É pé no chão, pé na terra. Ele está sempre buscando um carinho do pai, mas é rejeitado. Essa relação é de embate, mas que não atrapalha a relação com o respeito. É um cara muito especial e deveria ser olhado por esse pai, de quem ele é espelho, com mais cautela", defendeu, à época do lançamento da novela.

Marcio Frias -
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De repente, pai

Embora na ficção ocupe o lugar de filho, Juan entende de paternidade. Ele foi pai, aos 16 anos, de Analice, hoje com 9, fruto do relacionamento com a companheira, Luana Souza, que conheceu no colégio. O ator lembra que a notícia da gravidez foi "preocupante", porque o casal não sabia como planejar a vida sendo tão jovem ainda. "Foi mais susto, com certeza, uma mistura de tudo… Mas depois virou empolgação. Quando descobrimos o sexo do bebê, fomos acompanhando a barriga crescendo, as coisas foram se ajeitando e a empolgação aumentou. Mas, ter que lidar com a notícia de cara, com tudo que vem junto disso, é bem desesperador, mesmo", relatou.

Juan ressalta que uma das maiores dificuldades dessa fase foi financeira. "Ainda tinha o desejo de concluir meus estudos, e ainda fazendo teatro, tudo isso junto…. Mas, graças a Deus, tive a minha família, que nos ajudou muito e com quem tenho uma relação de muita reciprocidade. A gente se ajuda muito! E hoje é bem tranquilo, estamos buscando nosso caminho, tocando a vida e crescendo junto com a minha filha, de certa forma", explicou o rapaz, destacando o fato de encarar a nova e precoce realidade com leveza. "Como somos jovens, o clima é bem de boa. Às vezes, parece que ela é nossa irmã. Estamos vivendo!", salientou, aos risos.

Racismo na pele

Em Justiça 2, Balthazar será um dos protagonistas da trama, um motoboy que foi preso injustamente, passou sete anos na cadeia e sai disposto a reconstruir a vida, voltando a trabalhar e a cuidar da avó diabética (vivida por Zezé Motta), mas é enredado em uma trama de vingança. A série do Globoplay foi gravada em Brasília, mais especificamente em Ceilândia, e, por meio do personagem de Juan Paiva, retratará a vulnerabilidade do processo de reconhecimento facial, que prejudica, especialmente, a população preta. Sobre esse trabalho, o ator ainda não adiantou muito, mas já se sabe que, honesto e inocente, Balthazar sentirá literalmente na pele a injustiça social ao ser apontado como criminoso pelo ex-patrão (interpretado por Marco Ricca) — e isso afetará seu comportamento pacífico, tornando-se um homem vingativo. 

A narrativa é muito parecida com a de Ravi, o personagem que Juan interpretou em Um lugar ao sol, de Lícia Manzo, primeira novela original exibida pela Globo após a pandemia e estreia do ator no início dos créditos de abertura. Preso injustamente após um reconhecimento equivocado, essa trama desencadeou a história do mocinho Christian (Cauã Reymond), que adquire uma dívida alta com traficantes para salvar o melhor amigo e vê-se obrigado a assumir a identidade do irmão gêmeo, Renato, quando ele morre em seu lugar, baleado pelos bandidos.

Criado no Vidigal, onde ainda mora, o ator carioca conhece bem a realidade de quem vive na favela e teve a oportunidade de encontrar o caminho da arte no grupo Nós do Morro — de onde saíram também os atores Marcelo Mello Jr e Renan Monteiro, que fazem seus irmãos em Renascer. O intérprete de Buchecha nos cinemas e, agora, também o mocinho da novela das 21h conta que já passou por episódios de racismo e "isso causa indignação e revolta", mas aprendeu que sua arma será o conhecimento e o estudo.

"Preciso ter voz ativa, mas também ser sábio e inteligente, debater e falar sobre isso. Como ator, é de muita importância ter um público me assistindo e poder dizer a eles que eu sou um homem negro, favelado, que essa é a minha essência. E é preciso agir no respeito. Precisamos nos amar de verdade, acima desses estigmas, então eu luto mesmo contra o racismo e o preconceito. Estamos no século 21, e isso já deveria estar enterrado, mas ainda precisamos continuar lutando para mudar", concluiu. E Juan Paiva deixa o aviso: "Eu sou muito tranquilo, mas existem situações em que a minha reação é diferente. Casos de racismo e preconceito não passam batidos por aqui, não!"

 

 

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