Música

Em entrevista, Rapper Filipe Ret fala sobre sucessos e influências

Ao Correio, rapper Filipe Ret fala sobre o sucesso recente, sobre cantar em vários ritmos, a influência para os cantores mais novos e a repercussão da música 'Amor livre'

Filipe Ret escreveu rimas e 15 anos de história -  (crédito: Steff Lima/Divulgação)
Filipe Ret escreveu rimas e 15 anos de história - (crédito: Steff Lima/Divulgação)

O rapper carioca Filipe Ret que rimou "Perco, ganho batalha, mas guardem meu rosto" na música Faça você mesmo, do disco Audaz, marcou ainda mais o nome no gênero e valorizou o estilo no cenário musical. Para comemorar os 15 anos de carreira, o rapper gravou o DVD FRXV, na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro. Em dois dias de show, mais de 25 mil pessoas puderam ver Ret lado a lado com o Coral da Escola de Música da Rocinha e  artistas renomados, como BK, Djonga, o amigo do início de estrada Mãolee, TZ da Coronel, além dos parceiros da sua gravadora Nadamal, Pj, Anezzi, Dallas, Maneirinho e Caio Luccas. Esta gravação, histórica para o músico e os fãs que o acompanham, está disponível nas principais plataformas de música, é sucesso e vai se tornar turnê.

O espetáculo foi inovador para o rap, o palco contou com chão feito por tela de LED, acompanhado de três telões verticais, mais de 900 equipamentos de luzes, máquinas de chamas, 22 metros de passarela e palco frontal de 15 metros. O rapper se apresentou por mais de duas horas e cantou 35 músicas de sucesso ao longo de sua trajetória. No fim da gravação do DVD, ele cantou o lançamento Amor Livre, que chegou aos ouvidos do público em 15 de dezembro do ano passado para homenagear à namorada do cantor, Ágatha Sá. O som recebeu single de platina, o que representa 16 milhões de reproduções nas plataformas de streaming. "As pessoas aderiram à filosofia que tem nessa faixa, que é achar um amor que você possa ser você mesmo. Isso foi o mais poderoso", avalia.

Ao Correio, o artista falou sobre ser influência para os cantores mais novos; a versatilidade para rimar em vários gêneros, do boombap, trap, acústico, afrobeat ao drill; como lida com as críticas; e comentou que a turnê deve iniciar em abril de 2024 com possível parada na capital federal. "Quero muito que a gente consiga ir também para Brasília, onde tenho muitos fãs", adianta.

Entrevista // Filipe Ret

Você pretende fazer uma estrutura diferente para cada estado durante a turnê FRXV pelo país? Deve levar os 11 integrantes da banda que tocaram no Jeunesse Arena, no RJ?

Foi a realização de um sonho mesmo fazer essa estrutura em dois dias. Foi um marco na cena e deu uma representatividade grande. Agora, a gente está trabalhando para soltar todas as datas do show FRXV a partir de abril até o fim do ano. A meta é conseguir levar o máximo de estrutura possível. A gente vai ter que adaptar e ver a melhor forma de levar o projeto para lugares bacanas.

 

Você lotou a Jeunesse Arena, num domingo de Flamengo x Vasco, no Maracanã. Tem algum momento especial que mais te marcou na gravação do DVD? 

O Gabigol chegou a ir para lá depois do jogo. Mas teve muitos momentos especiais, porque ali é o esforço de muita gente. Todo mundo da minha equipe cresceu participando daquilo. Um momento especial também foi ter Delacruz com o Djonga, BK, a galera da Nadamal toda reunida no palco. Todas essas participações abrilhantaram muito o show, com os músicos e o coral, além do meu filho participando. A gente ficou seis meses produzindo e ensaiando incessantemente. Ensaiamos tanto, que a primeira vez que passamos todo o show sem parar foi no primeiro dia do DVD ao vivo, porque sempre ensaiamos pedaços. Eu estava muito nervoso no primeiro dia, e chorei demais dentro do carro antes de sair de casa. Os fãs merecem uma entrega diferenciada, porque tem alguns que me divulgam desde o primeiro disco.

 

A turnê FRXV deve passar pelo DF? E como você define a sua relação com os fãs de Brasília?

Espero conseguir rodar e chegar em Brasília também. Quero ir em todas as grandes cidades, pelo menos nas capitais maiores para atingir o Brasil todo e os fãs terem essa experiência de perto. O lance é conseguir levar a magia e os truques que a gente sabe como "espetaculariza". Quando as luzes são automatizadas, tudo isso gera um impacto e uma experiência, porque o chão é de LED, por exemplo, o que vai gerando uma experiência. Quero muito que a gente consiga ir também para Brasília, onde tenho muitos fãs.

 

Em 15 de dezembro do ano passado, você lançou a música Amor Livre, que ganhou single de platina. Como foi o processo de composição do som, que conta com mais de 26 milhões de visualizações no YouTube? Você dedicou a canção à Ágatha Sá, sua namorada?

Isso é muito relevante, porque olha que curioso. Essa é a graça, eu poder lançar um feat. Lenda, com o Borges, de uma face, e lançar Amor Livre, falando de outra face, e as duas músicas terem sucesso. Isso, para mim, tem um valor artístico imensurável ter dois lados quase que um para um lado e um para outro, e ambos, na mesma época, tendo sucesso. Isso é um reconhecimento de verdade, porque as pessoas estão compreendendo aonde a visão artística do Ret pode chegar. A música foi 100% em homenagem à ela (namorada Ágatha Sá). Escrevi aqui em casa, relativamente rápido, em 15 minutos. Foi uma ideia que tive de colocar uma música inédita no DVD. Acabou que ela "bateu" e as pessoas aderiram à filosofia que tem nessa faixa, que é achar um amor que você possa ser você mesmo. Isso foi o mais poderoso.

 

Você que é conhecido por letras que falam de amor, acredita que esse romantismo está em destaque na música?

Tim Maia já falava isso, porque é uma forma de alcançar todo mundo. Eu me surpreendo em ser reconhecido pelas músicas românticas. Tento sempre colocar no refrão, como estratégia minha, falar como se estivesse falando para uma mina, e funciona muito bem. Eu me sinto até com muita dificuldade de fazer músicas românticas. Se colocar amor na frase, traz outra coisa, porque as palavras têm poder.

 

Como você recebe as críticas de quem diz para você voltar a fazer boombap?

Você tem que amar muito o rap, que é muito vasto. Não quero ficar fazendo a mesma coisa sempre. Acho chato. Quero que o meu show seja atualizado, com músicas atuais. Tem uma coisa que é um pouco do ego, porque quando você faz a primeira música e o primeiro disco, todo mundo fala que você é f..., você acredita que só é f... se fizer aquela estética. Mas o ego não pode te prender nisso e tem que falar "faço isso também" e seguir em frente. Nesse mercado, não tem como se atualizar, senão vai ficar dentro de um tempo e aconteceu isso com muitos que começaram como eu comecei. Tiveram um aspecto de que ficaram para trás. Se o artista não fizer questão de ouvir a nova geração, o que está chegando, as músicas de sucesso dessa pessoa serão só as antigas. Tenho muito orgulho da minha inquietude em não me paralisar com as pessoas falando "você é f... só quando fazia isso", porque, no final, as pessoas têm a opinião dela e o artista tem a dele. Nenhuma crítica pode tirar a sua essência, e a minha é de progresso. Você não pode querer reduzir uma pessoa a uma face artística.

 

Você, que virou referência e foi citado em músicas do Sain e Borges, acha que estabeleceu um pioneirismo ao se renovar ao longo do tempo, cantando em vários ritmos, desde o boombap, trap ao drill?

Analisando friamente, o Ret é, sim, o artista dessa geração que mais soube se manter mais tempo no hype (expressão em inglês usada para se referir a uma pessoa em alto nível). Isso quer dizer que eu seja melhor? Não, necessariamente. Mas acredito que seja uma qualidade admirável. Os moleques novos percebem o quanto me atualizo e consigo imprimir uma estética que soa atual. Ao mesmo tempo, tenho versatilidade de criar faixas que podem ser radiofônicas. Esse é o meu trunfo.

 

Quais são os seus próximos passos na carreira? Pretende lançar mais singles, discos ou feats?

O lance é lançar disco. Fico amarradão em lançar disco. Quero muito terminar um que eu admire e lançar este ano. Não sei se no primeiro semestre ou no segundo. Tenho umas 30 faixas já. Vai ser um disco do Ret, com as ideias e com as batidas que eu gosto. Claro que vai ter trap.

 

Em 2020, viralizou na internet uma foto sua com o Ice Blue, integrante dos Racionais MC's, junto do DJ Cia, em um prédio do Rio de Janeiro. Você gravou uma faixa para o disco dele? Qual foi a sua participação na produção musical?

Fiz uma participação e botei a voz em um som que era do Ice Blue, mas não sei para onde essa faixa vai ainda.

 

Como você avalia os seus 15 anos de carreira, desde o disco Uma margem distante, Vivaz, Revel, Audaz, Imaterial, lançado durante a pandemia de covid-19, e até o álbum Lume?

É uma trajetória muito digna, de pés no chão, de crescente estável, sólida, honesta e admirável. Sou muito grato pela minha caminhada até aqui. Sinto que para alcançar outros patamares, não falta muito para a cena crescer. Estamos tendo ótimos exemplos de artistas investindo nas suas produções. Vejo o Cabelinho fazendo um clipe da música Carta Aberta com muito valor de produção, e a canção explodindo. Tudo isso incentiva os artistas a evoluírem as suas visões artísticas. Isso vai acontecer, é inevitável. Só vejo isso evoluindo e criando um ciclo positivo e virtuoso. Alguns são muito bons e têm a cabeça bacana de visão. Estamos começando uma coisa que vai ser gigantesca daqui a 10 anos. Já cresceu muito e vai crescer ainda mais.

 

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postado em 26/02/2024 10:18 / atualizado em 26/02/2024 10:39
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