Várias frentes de filmes com conteúdos vitais se espalham nas sessões do 74º Festival de Cinema de Berlim que, aberto amanhã na Alemanha, prossegue até 25 de fevereiro. No segmento competitivo do evento, que terá entre o júri a atriz Lupita Nyong´o, os diretores Christian Petzold e Ira Sachs, além do realizador argentino Lisandro Alonso — o filme a ser destacado é Small things like this, baseado em romance de Claire Keegan, e que coloca a Igreja Católica na berlinda. A partir do personagem de Cillian Murphy (o Oppenheimer do cinema), pai de cinco filhas a coprodução Irlanda e Bélgica apresenta dilemas éticos depois de uma visita em um convento.
Estrelas não faltarão no tapete vermelho, ainda mais depois que o festival soube acolher críticas, desconvidando representantes da ala de extrema-direita, dois deputados do partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Em filmes expressivos, personalidades como Chiara Mastroianni, Isabelle Huppert, Gael García Bernal, Sebastian Stan, Adam Sandler, Carey Mulligan e Kristen Stewart comparecerão ao evento. Com a vitória de um Urso de Ouro honorário, o diretor Martin Scorsese deve ter concorrida conferência.
Brasileiros
Haverá presenças de talentos nacionais, na mostra Panorama, sempre celebrada pela atribuição de um prêmio de público: o longa Betânia, do estreante Marcelo Botta, conta a vida de uma viúva, que tenta defender a identidade, depois de sair de área agrária do Maranhão. O deslocamento é o tema convergente com o longa de Juliana Rojas Cidade; campo (que integra o segmento Encontros) e abraça uma migração recheada de dramas familiares. Filme ambientado em Belo Horizonte, e assinado por Carolina Cavalcanti, o curta Lapso estará na categoria Geração 14Plus. Coprodução que conta com cota brasileira, o longa Dormir de olhos abertos, da alemã Nele Wohlatz, é uma comédia também integrada à programação, tratando de emigrantes e de relações de trabalho e encontros fortuitos. Para a mostra Forum Extended, foi separado o curta nacional Quebrante, sobre o pretenso desenvolvimento trazido pela Rodovia Transamazônica.
Em contraponto à sessão especial do italiano Supersex, levemente inspirado na vida do ator de fitas pornô Rocco Siffredi (vivido, na tela, por Alessandro Borghi), o universo feminino promete marcar o evento em Berlim. De cara, no primeiro dia, haverá apresentação do longa (na mostra Panorama) Crossing (de Levan Akin) que revela o cotidiano da aposentada Lia, em busca da perdida parente Tekla. Na trajetória, ela esbarrará na defesa de direitos para transgêneros em Istambul (Turquia). Da Índia vem o filme The adamant girl (de Vinothraj PS), revelador da vida de Meena, apaixonada por homem de casta mais baixa, e que enfrentará misoginia e desconfiança de estar possuída. Já Shambhala traz a exuberante paisagem himalaia como barreira para que uma mulher de relação poliândrica, que busca dar legitimidade ao nascimento do filho, consiga encontrar o marido perdido. Criado no Mali, Abderrahmane Sissako contará a vida de Aya, que renega casamento, na Costa do Marfim, no longa selecionado Black tea.
Filmes de autores consagrados como Hong Sangsoo, Tsai Ming-liang, André Techiné, Atom Egoyan, Bruno Dumont e Olivier Assayas estarão ainda em Berlim. Vencedor do Urso de Ouro de melhor filme, em 2023, o francês Nicolas Philibert, em Averroès & Rosa Parks (com sessão especial), volta a contar do destino dos ocupantes de unidade psiquiátrica móvel (ao longo do rio Sena) que buscam reabilitação. Tratando de temas surreais, Shikun, de Amos Gitai, mergulha no universo Eugène Ionesco, enquanto Pepe (da República Dominicana) se apoia no "discurso" consciente do primeiro hipopótamo morto nas Américas.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br