Há algum tempo a artista Samantha Canovas se dedica a pesquisar a utilização de têxteis na arte contemporânea. A presença desse material é uma constante na história da arte de forma geral, mas acabou desvalorizado por ser associado, muitas vezes, a um material de manuseio feminino. Em Umbigo — Arte têxtil no DF, exposição em cartaz na deCurators, Samantha reuniu nove artistas com a intenção de realizar um panorama da utilização de tecidos na produção artística. "Juntei apenas artistas que trabalham e pesquisam arte têxtil, mesmo que não se classifiquem primeiramente como artistas só dessa técnica", avisa a curadora.
O título Umbigo vem de uma noção corporal associada à ancestralidade. Para Samantha, o fazer têxtil tem uma ligação profunda com o passado e é, também, muito feminino. "É um gesto passado pelas mãos. E umbigo é essa lembrança do corpo, um elemento que remete à ancestralidade e à simbiose com algo que vem antes da gente, essa primeira linha que é cortada e traz a individualidade", explica.
Ela começou a refletir sobre o tema ao associar a própria pintura à arte têxtil. "Falo que é subvalorizado porque temos uma definição de que a grande arte são a pintura e a escultura, e o resto sofre um tipo de preconceito. Pesquisando, fui entender que era por conta de um recorte de gênero. Agora, na contemporaneidade, estamos tendo essa retomada e isso surge associado a questões identitárias. Estamos vivendo um momento de identitarismo na arte contemporânea e o têxtil vai surgindo dentro disso."
Algumas das artistas de Umbigo trabalham explicitamente com linhas e tecidos, outras não têm como foco esse material, mas entraram para a exposição porque a curadora enxerga na produção um diálogo potente com a arte têxtil. É o caso das tramas realizadas com lacre por Cecília Mori ou do concreto misturado ao feltro nas esculturas de Lis Marina Oliveira. Mas há também aquelas que fazem do tecido o suporte principal, como Debora Passos, que borda os cabelos da mãe, ou Desirée Feldmann, que vem da moda e trabalha com elementos abstratos a partir de enchimentos para criar uma relação com o corpo feminino
No trabalho de Elisa Mariana, um tapetinho esconde uma pintura e remete às camadas geradas pela sobreposição de tecidos e Isadora Jochims, que é médica reumatologista, fala sobre maternidade em bordados realizados em atividade com um grupo de pacientes. Na obra de Suyan de Mattos, o bordado faz uma releitura da obra O jardim as delícias, de Hieronymus Bosch e na de Paula Catu, a mesma técnica é utilizada de forma narrativa.
Serviço
Umbigo — Arte têxtil no DF
Com Cecília Mori, Débora Passos, Desirée Feldmann, Elisa Mariana, Isadora Jochims, Lis Marina, Paula Catu, Samantha Canovas e Suyan de Mattos. Curadoria: Samantha Canovas. Visitação até 3 de março na galeria deCurators (SCLN 412, Bloco C, Loja 12, térreo, virada para a quadra residencial)
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