A pluralidade do cinema nacional é reflexo de uma cultura brasileira diversa, e os seus sucessos de bilheteria comprovam essa relação. Recém-lançado, Nosso Lar 2 — Os mensageiros, de Wagner de Assis, segue os passos do filme original capaz de preencher um espaço que, para vários espectadores, fazia falta. A relação dos brasileiros com a religião faz parte também da diversidade cultural do país, que é a nação com maior quantidade de praticantes do espiritismo no mundo. O médium brasileiro Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, por meio das obras psicografadas, popularizou o espiritismo no país. Treze anos depois do sucesso de Nosso Lar, que levou 4 milhões de espectadores para o cinema, a corrente de público continua forte, como mostram as enormes filas nos cinemas do país.
Nosso Lar 2 — Os mensageiros é um filme que impressiona pela capacidade de encantar o público com o roteiro, construído de maneira cuidadosa e com o compromisso de se manter fiel à obra de Chico Xavier. O Correio foi a alguns cinemas de Brasília para ouvir espectadores do filme e tentar entender esse fenômeno de bilheteria. Entre espíritas e católicos, ateus e sincretistas, o filme, em linhas gerais, foi bem recebido. Eles descrevem a fita como comovente e próxima ao conteúdo dos livros de Chico Xavier. Em coprodução com Star Original Productions e apoio da Globo Filmes, Os mensageiros é a sexta maior abertura, em renda, de obras nacionais desde 2002 e o primeiro a estrear no topo das bilheterias desde o fim da pandemia. Com produção de Wagner de Assis e Iafa Britz, o filme vendeu 550 mil ingressos, só no primeiro fim de semana.
Jorge Bruno, 36, é músico e estava acompanhado da família para assistir ao filme. Ele, que é espírita, observa que o filme é mais um sinal de como produções voltadas para a doutrina kardecista têm ganhado cada vez mais espaço e investimento por parte das grandes produtoras. "O filme ficou muito bem elaborado. O roteiro, a direção e a imagem também melhoraram bastante. Mostra um progresso na qualidade das produções de filmes espíritas", afirma. Jorge acrescenta que mais do que um filme bem feito, Nosso Lar 2 detém no roteiro uma boa mensagem. "Acho que dá para assistir e perceber muitas questões que falam de sentimento, de responsabilidade, de afeto e do cuidado que você precisa ter dentro das próprias relações familiares", completa.
Conhecimento espírita
O longa surpreende também pelo conteúdo ao abordar alguns termos e especificidades da tradição espírita, como algumas pessoas destacam. Vilma Del Lama, 60, é farmacêutica e estava na fila de uma das salas do Espaço Itaú de Cinema do CasaPark para assistir ao filme. Antes da sessão, Vilma guardava a expectativa de que o filme surgisse como possibilidade agregadora de conhecimentos sobre o espiritismo. "Cada vez que a gente vê ou assiste uma coisa, é uma nova oportunidade para um novo aprendizado. E é isso que eu espero desse filme: pegar alguma coisa que ainda não veio ao meu entendimento", explica Del Lama, que também é espírita. O sentimento de uma boa experiência na sala, foi confirmado, após a sessão. "A expectativa de um filme instrutivo sobre o espiritismo realmente foi suprida", avaliou.
Há espaço também para quem não é espírita assistir ao filme e compartilhar do interesse pelo assunto. Júnia Melo, 53, é aposentada e estava acompanhada do marido e da mãe para ver Os mensageiros no cinema do ParkShopping. Católica praticante, ela conta que, por mais que a religião dela não aceite algumas características da doutrina espírita — a crença na reencarnação, por exemplo —, se identifica com o enredo que, para ela, traz uma enorme sensação de leveza e tranquilidade. "Os filmes espíritas falam muito de humildade, de humanidade. Eles mostram muito sobre o aprendizado, de sempre estar melhorando. É por isso que eu gosto de assistir", ressalta.
Vocação
O ator Renato Prieto, que interpreta o espírito André Luiz tanto em Nosso Lar 2 — Os mensageiros quanto Nosso Lar, afirma que o sucesso de filmes com temáticas espirituais vêm da continuidade de produções que são bem recebidas pelo público. "Acho que isso é resultado de um trabalho que começou lá atrás, há muitos anos atrás. Quando nós começamos com o espetáculo Além da vida, capitaneado naquele momento pelo premiadíssimo diretor Augusto César Vanucci. Como também existia um quadro na Rádio Tupi chamado Incrível, fantástico e extraordinário. Depois vieram aquelas mini-novelas que eram temáticas também, e, nesse mesmo período, veio o sucesso dos filmes Ghost, como também Além da eternidade (de Steven Spielberg), entre outros espetáculos. E aí as pessoas começaram a ver que aquilo tinha qualificação, cuidado, arte, profissionais comprometidos com o assunto e ao mesmo tempo preparados para retratar arte com conteúdos temáticos espírita", detalha o ator, ao Correio.
Renato, além de intérprete, é diretor teatral, estudioso e devoto do espiritismo. Ele acredita que a população brasileira mantém essa forte relação com a filosofia espírita pela busca por explicações. "Essa é uma doutrina consoladora, ela traz resposta muito a essas indagações que nós temos no cotidiano: 'De onde eu vim?', 'Estou fazendo o que aqui?', 'Vou para onde?' e 'Por que tem que ser assim?'. O Brasil é muito plural e se vê nas diferentes representações espiritualistas, por exemplo, o budismo, o candomblé, e a umbanda", acrescenta Renato. Inclusive, a experiência não é exclusiva para somente pessoas que acreditam na filosofia espírita, muitas pessoas que simpatizam, se interessam pelo assunto, vão aos cinemas para ver de perto o novo lançamento. "O ato de ir ao cinema é um programa e você escolhe um filme que te agrade. Há pessoas que gostam do assunto, têm simpatia pela temática. O filme pode transmitir muitas lições, mesmo para pessoas de crenças diferentes. Quantas vezes em nossas vidas vimos algo que nos impactou e nos deu resposta a questões do nosso cotidiano? Seja um livro que você está lendo, um panfleto, um programa de televisão, um streaming. Eu acho que o filme pode ser assistido por qualquer pessoa que tenha o prazer e gosta de ir", conclui.
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