Que Brasília possui uma veia artística pulsante todos sabem. Mas para além de bandas de rock e do traço arquitetônico de Oscar Niemeyer, a cidade é fonte de artistas e coletivos dedicados a fazer do quadradinho um espaço para divulgar a cultura de periferia genuinamente brasiliense. E, quando se trata das Regiões Administrativas da Saída Norte do Distrito Federal — Fercal, Sobradinho I e II e Planaltina são alguns exemplos — não poderia ser diferente.
Com essa vontade de dar destaque e divulgar a cultura hip-hop feita por moradores das RAs, surge o Letra por Letra, projeto inédito do coletivo sobradinhense SDN, que ocorrerá nesta sexta-feira (26/1) na sede do No Setor (Setor Comercial Sul), a partir das 17h. O evento será espaço para troca de experiência entre os artistas familiarizados com a arte do grafite e do pixo, ao incluir momentos para compartilhar técnicas e trabalhos relacionados ao hip-hop. Além disso, haverá batalha de rimas, exibição de material audiovisual e set do DJ Kayaman, que também é pesquisador musical.
Atuante desde 2022 no cenário cultural da Saída Norte, o coletivo artístico SDN possui íntima relação com as manifestações típicas da cultura hip-hop. E isso não se dá por acaso. Para além da fama de capital do rock, Brasília tem se movimentado desde a década de 1990 para abraçar de vez artistas e grupos musicais voltados exclusivamente para o rap. De Câmbio Negro a Flora Matos, novas potências da cultura de periferia – especialmente das RAs – recebem visibilidade a partir de iniciativas como a do coletivo SDN.
Nicole Torres, 21, é moradora de Sobradinho II e uma das responsáveis pelo SDN. Estudante de eventos, ela conta que para projetos como o Letra por Letra acontecerem, é de suma importância contar com o apoio de parceiros e pessoas que estejam envolvidas diretamente com a cultura hip hop, sobretudo com a que é feita na região da Saída Norte, que carece de investimentos na parte de cultura quando comparada com RAs localizadas na Saída Sul. "Nosso objetivo sempre foi fomentar e dar visibilidade para a cena cultural e para os artistas da Saída Norte do DF", completa.
A organização do Letra por Letra deu início a um financiamento coletivo para cobrir os gastos do evento, bem como garantir que apoiadores dispostos a investir na iniciativa consigam realizar sua doação e contribuir para que a cultura periférica atinja cada vez mais pessoas. "Dar ênfase à importância de um movimento hip-hop que aconteça no centro da cidade e que impacte as pessoas que passam ali diariamente", reforça Nicole, ao Correio. Aliás, o nome do projeto (Letra por Letra) deriva dessa troca de experiências e técnicas circundantes à arte de rua, ao passo em que representa o objetivo do encontro de artistas para compartilharem seus trabalhos e assinaturas.
Em parceria com o instituto No Setor, o SDN aparece como possibilidade de evento positivo para o Setor Comercial Sul (SCS), tendo em vista a recente leva de festas e demais manifestações culturais sediadas no espaço urbano que outrora era visto como antro de criminalidade e violência. Isso exemplifica a escolha do No Setor como principal parceiro, por ser uma instituição dedicada a ressignificar o SCS no imaginário do brasiliense. "A ideia é que durante este ano a gente receba e abra as portas da nossa instituição para esse tipo de parceria ", explica Rafael Reis, coordenador-geral do projeto No Setor e principal viabilizador para o acontecimento do Letra por Letra na sede do instituto.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Saiba Mais
Letra por letra
Amanhã, na sede do instituto No Setor (Setor Comercial Sul), a partir das 17h. Entrada gratuita.