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'Big Brother' foi inspirado em experimento científico; conheça história

Um dos criadores do programa revelou como chegaram a ideia do reality e que relação ele tem com o livro "1984", muito associado ao 'Big brother'

Sempre que uma nova edição de Big brother Brasil está na ar é comum discussões sobre qual foi a principal inspiração para o reality. O livro 1984 é normalmente o primeiro a ser citado, contudo, de acordo com os criadores do programa, a referência principal é outra: o experimento científico Biosfera 2.

Em entrevista à Veja em 2023, John de Mol um dos criadores da empresa Endemol, responsável pela primeira edição do Big Brother, na Holanda em 1999, revelou como surgiu a ideia do programa.

Foi após uma reunião criativa da empresa para conceber um novo programa, em 1998. Sem sucesso em encontrar uma ideia boa, os executivos foram para um bar até que, alguém na mesa, citou uma notícia sobre o projeto científico Biosfera 2 — em que um grupo de oito pesquisadores voluntários se fechou em uma espécie de estufa durante dois anos a fim de entender se, algum dia, seria possível que humanos vivessem em condições similares em outros planetas.

"Logo de cara, fiquei muito interessado em saber mais detalhes sobre o Biosfera 2 e o que acontecera na experiência. A ideia básica do Big Brother nasceu aí", revelou Mol na entrevista.

O executivo revelou ainda que muitos consideram que o programa está atrelado ao livro 1984, de George Orwell, mas a única inspiração utilizada foi no nome "Grande irmão", ponto central da trama literária.

"Engana-se quem imaginar que o livro 1984, de George Orwell, tenha sido uma influência. Não foi. Na obra de Orwell, é o governo que observa tudo o que as pessoas fazem através de câmeras – ele fala de autoritarismo, e não de voyeurismo, como é o nosso caso. Só peguei o nome Big Brother emprestado porque ele soava melhor do que o título inicial do programa, [que seria] A Gaiola Dourada", contou.

O que foi a Biosfera 2?

Em 1991, um grupo de oito pesquisadores voluntários dos Estados Unidos se fechou em uma espécie de estufa durante dois anos a fim de entender se, algum dia, seria possível que humanos vivessem em condições similares em outros países. O experimento chamado de Biosfera 2 reproduziu vários ecossistemas terrestres, como um bosque tropical, um deserto, uma savana, um manguezal e um oceano com arrecifes de coral, para avaliar a sobrevivência desses pesquisadores, além de colocar animais e vegetação no local.

A redoma virou atração turística e muito comentada pela mídia na época. Contudo, o experimento não foi como eles planejavam. Cada um dos membros da redoma tinha uma missão específica no local como cuidar da pecuária, preservar corais e afins. Mas, a escassez de alimentos, não ajudou a criar um ambiente saudável entre os pesquisadores.

Outro problema encontrado, foi que os membros da esfera perceberam um aumento nos níveis de dióxido de carbono e uma diminuição no oxigênio. Os pesquisadores que estavam dentro passaram então a perder peso e estiveram expostos a riscos de dano cerebral.

Para seguir com o experimento nos dois anos estipulados, os pesquisadores que coordenavam o projeto tiveram que levar extratores de dióxido de carbono, bombas de oxigênio e alimentos para dentro da esfera. Tudo foi considerado um fracasso pela imprensa.

Três anos após o início do experimento, outro grupo voltou para a Biosfera 2, mas o experimento não durou até o final. Hoje, a esfera pertence à Universidade do Arizona e serve como centro de pesquisas sobre ecossistemas da Terra.

Mesmo após o fracasso da Biosfera, ideia do Big brother foi para frente

Na entrevista em 2003, Mol também foi questionado sobre os motivos que os levaram a seguir em frente com o reality, mesmo com o fracasso da Biosfera. Para ele, a Biosfera era um projeto sério que acabou se revelando uma piada, enquanto o Big Brother era um programa de entretenimento que acabou se tornando objeto de uma porção de estudos. "A vida é curiosa, não?", brincou.

O especialista avaliou na data que os fatores que levaram ao fracasso do projeto científico foram exatamente os ingredientes que fazem o sucesso do programa. "Isso não ocorreu por acaso. Para conceber o Big Brother, entrevistamos várias pessoas que ficaram isoladas no projeto Biosfera 2 e tiramos lições que foram aproveitadas na TV", contou Mol.

Uma das principais lições que aproveitaram na TV, segundo Mol, foi o fato de que, quando as pessoas ficam isoladas por muito tempo, elas começam a seguir um padrão de comportamento padronizado. Ele ressaltou que mesmo as pessoas querendo interpretar personagens no formato ou se passar por bonzinhos, as máscaras acabam caindo após um tempo. Ele atrelou essa ideia ao sucesso do Big brother.

"Eu diria que o formato do programa é à prova de farsas. Naquela situação, pode-se representar um papel por duas semanas, mas não o tempo todo. Depois de acompanhar tantas edições do Big Brother ao redor do planeta, posso dizer que em nenhum lugar há pessoas 100% boas ou 100% más. Todo mundo tem seu lado de crápula, e irá exibi-lo em algum momento", frisou o executivo.

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