Acostumado a ser visto em diversos trabalhos com o humor como premissa, Vladimir Brichta tem agora a oportunidade de mostrar não somente uma vertente mais dramática, mas também de interpretar o grande vilão que faltava em sua carreira na televisão, iniciada há 23 anos na novela Porto dos milagres (2021). No remake de Renascer, que estreia nesta segunda-feira (22/1) na TV Globo, o ator dará vida ao coronel Egídio, o maior oponente do protagonista José Inocêncio (Marcos Palmeira).
"Ele é um cara terrível, absolutamente condenável, então não tem como defender ele, nem pretendo", afirma o mineiro criado na Bahia, que enaltece também a presença de artistas locais na trama ambientada em Ilhéus. "A gente precisa dessa representatividade. A novela só tem a ganhar com isso", acrescenta.
Para atuar na nova novela, Vladimir abriu mão do posto fixo no programa Papo de segunda, no GNT — uma experiência que ele levará com muito carinho. "É um lugar bacana, o fazer ao vivo e bater um papo, acrescentando o nosso ponto de vista, algo novo, a discussões que a gente tem recorrentes na nossa sociedade", comenta o marido de Adriana Esteves e pai de Agnes, 27, e Vicente, 18.
Em entrevista ao Correio, o ator de 47 anos — que também gravou recentemente a novela Pedaços de mim, que será exibida pela Netflix — fala sobre a carreira marcada por papeis cômicos, a experiência de atuar em duas novelas durante a pandemia e a importância de se posicionar contra o machismo estrutural.
Entrevista / Vladimir Brichta
Qual é a sua expectativa para interpretar o grande vilão de uma novela das 21h?
Sempre existe uma expectativa quando a gente vai fazer um trabalho novo e, especialmente em novelas, quando o personagem é dito como vilão. Eu não gosto muito, tento fugir sempre desse estereótipo do vilão, porque a gente acaba muitas vezes sendo um pouco maniqueísta nessa coisa do bem e do mal. Mas novela também trabalha muito com esses arquétipos, com personagens heroicos, em que se reconhece a virtude, e personagens falhos, ambiciosos, vaidosos, cruéis, que a gente reconhece como vilão. Então, por mais que eu refute, a princípio, esse personagem, não tem como não caracterizar dentro do folhetim como arquétipo do vilão, porque ele é um personagem cruel. Egídio é um marido tóxico, um cara assediador moral e sexualmente, ele explora a mão de obra dos funcionários de forma análoga à escravidão. Quer dizer, ele é um cara terrível, absolutamente condenável, então não tem como defender ele, nem pretendo.
Tendo origem na Bahia, considera importante que a representatividade se manifeste nessa escalação do elenco?
Em uma novela se passando na Bahia, é claro que a gente precisa dessa representatividade. Não dá para fazer uma produção só com um elenco baiano, assim como não se consegue fazer uma novela só com atores cariocas no Rio e em São Paulo com paulistas, mas é preciso que haja representatividade, em primeiro lugar, das próprias pessoas daquela região. Porque tem atores dali com qualidade, seja pessoas que hoje moram no Rio e que são reconhecidos do grande público, seja pessoas que, de repente, têm a oportunidade de você destacar e dar visibilidade. A gente também tem outras representatividades, como a indígena, a LGBTQIAPN , enfim, inúmeros recortes da nossa sociedade estão lá representados. Eu acho isso importantíssimo e a novela só tem a ganhar com isso.
Sua carreira foi marcada por muitos personagens cômicos. Foi uma escolha lá no início?
Não foi uma escolha o humor na minha carreira. Eu sempre gostei de humor, mas comecei no teatro em Salvador fazendo personagens mais dramáticos. Porém, eu assistia muito humor e gostava de fazer. A televisão realmente me deu mais oportunidade através do humor, e eu gostava daquilo. Gosto muito de fazer humor e gosto, inclusive, da presença do humor em dramas, essa mistura, para mim, eu acho que é muito feliz. Gosto de ver, gosto de fazer. Não foi propriamente uma escolha racional, mas, em alguma medida, talvez um desejo de que seguisse esse caminho.
Você esteve em duas produções que foram diretamente afetadas pela pandemia. Como foi para você?
Eu fazia Amor de mãe (2020) e veio a pandemia. Foram seis meses dentro de casa. Em primeiro lugar, um privilégio poder ficar dentro de casa, de se preservar e preservar o próximo, porque fazia parte desse recolhimento também, expor menos as outras pessoas mais vulneráveis, pessoas que não podiam parar. Muito privilégio também não ter adoecido no momento que a gente não tinha vacinas e ter sobrevivido a essa tristeza profunda que foi essa quantidade enorme de mortes, inclusive que poderiam ter sido evitadas, em grande parte, se a gente tivesse uma campanha de esclarecimento, uma campanha mais humanista, coisa que obviamente faltou por parte do governo. Essa parada de seis meses, para o trabalho que estávamos fazendo, foi terrível, porque a gente nunca passou por nada parecido. Quando voltou, em vez de fazer os três últimos meses, acabamos fazendo um último mês. Então tudo teve que ser encurtado, teve que ser ajustado, e gravamos ainda durante a pandemia, o que foi muito difícil. Ao mesmo tempo, voltar a trabalhar era muito feliz por poder fazer o que a gente gosta, o que a gente escolheu. Depois, a gente começou a novela Quanto mais vida melhor (2021) e fizemos a novela inteira durante ainda a pandemia, com todos os cuidados. Foi muito difícil, principalmente, a experiência de ter uma novela inteira feita sem ter sido posta ao ar, sem que a gente pudesse ouvir o público e pudesse, inclusive, ser afetado pela opinião pública. Foi uma experiência muito diferente e que eu não gostaria de repetir.
O que você pode adiantar sobre a novela Pedaços de mim, da Netflix?
Eu não posso adiantar muita coisa, mas eu sei que vai ser lançada este ano ainda, com certeza. Meu personagem é o Tomás, casado com a Liana, personagem da Juliana Paes. Eles têm uma uma família, dois filhos e tramas muito comuns às novelas. São questões familiares humanas, de amor, desses afetos que compõem uma família e são bem explorados com ganchos muito fortes. Eu acho que vai surpreender e vai agradar muito ao público.
Como foi a experiência de apresentar o Papo de segunda, na GNT? Vai sentir falta?
Eu gostei muito de participar do Papo de segunda, um programa que eu assistia e já havia ido lá duas vezes e sempre gostei também de participar como convidado. É um lugar bacana, o fazer ao vivo e bater um papo, dando um recado sobre tudo, mas sem obrigatoriedade de mudar, de botar nenhuma pedra derradeira central em qualquer discussão, mas só acrescentar o nosso ponto de vista, algo novo, a discussões que a gente tem recorrentes na nossa sociedade. E isso pode ser feito de um jeito leve, divertido. Então foi com esse propósito que eu entrei. Vai fazer falta, sim.
Como é para você lidar com o machismo estrutural ainda tão presente na sociedade e como você se posiciona em relação à luta feminina?
O machismo estrutural, assim como outras mazelas, está na nossa sociedade o tempo inteiro reverberando na gente e, então, é preciso estar atento e participar do debate. Eu fico sempre atento à questão do feminismo, obviamente a gente é parte disso. O fato de ser homem, na verdade, nos obriga a fazer parte dessa discussão, a ser não só um ouvinte, mas também um agente de transformação e fico feliz que nessa novela, por exemplo, esse assunto também será abordado. O meu personagem, Egídio, é um marido tóxico, um homem em uma relação abusiva, o retrato de um filho desse patriarcado, com o direito à misoginia, à objetificação da mulher, às relações de abusos, ao assédio moral e sexual. É muito bom que isso possa aparecer para que também seja tema da discussão, para que a gente engaje mais gente nessa discussão e ela tenha mais alcance.
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