O podcast popularizou um fenômeno já antigo: escutar conteúdos. Desde o século passado, o rádio trouxe para a população o hábito de consumir informações em áudio, o que voltou para o mundo da internet como tendência. Neste contexto, os audiolivros também ganharam destaque nos últimos anos.
O formato aproxima novos públicos da literatura, apesar de não ser a mesma experiência de ler um livro. "Quando as pessoas leem, normalmente ficam em um ambiente mais tranquilo e se concentram só naquela atividade. Algumas pessoas preferem realizar outras atividades enquanto ouvem as histórias, o que cria uma experiência diferente", explica Carlos Uribe, neurologista do Hospital Brasília, ao Correio.
A visão é o principal sentido humano, aponta o especialista, e por isso o ser humano capta com mais facilidade o que pode ver, mas isso depende da situação e dos demais estímulos enquanto se lê. Além disso, depende da motivação na hora de realizar a atividade, complementa Uribe.
Praticidade
Maria Cecilia Ribeiro, de 22 anos, é leitora desde criança. Ela prefere o livro físico, mas gosta de audiolivros pela praticidade. "Escuto para fazer outras coisas, quando eu preciso arrumar meu quarto, montar quebra-cabeça ou ir a algum lugar em viagem, já que não consigo ler muito bem dentro do carro", conta.
Outra vantagem dos livros em áudio é a acessibilidade, uma vez que possibilitam que pessoas cegas ou com visão reduzida possam acompanhar as narrativas e também se conectar com a literatura.
Concentração
No entanto, escutar um audiolivro e realizar outras atividades ao mesmo tempo diminui a concentração em cada uma das tarefas, explica ao Correio Fábio Aurélio Leite, psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília. "O cérebro executa uma tarefa por vez. Se você tiver um estímulo auditivo e outro visual, a atenção em um dos dois será menor do que no outro. Se é uma música é uma coisa é um pouco diferente, porque tem algo mais lúdico, mas o livro exige do intelectual para você entender e prestar atenção na história".
De acordo com o especialista, realizar duas tarefas que exigem muita atenção ao mesmo tempo pode sobrecarregar o cérebro e até causar ansiedade. "O cérebro vai fazer um esforço muito grande para conseguir ouvir o que você está ouvindo e prestar atenção no que você está fazendo", afirma.
A estudante de medicina Bianca Gbur Martins, 22 anos, também é leitora e diz que não gosta muito de audiolivros por se distrair facilmente. "Começo a fazer outra coisa ou minha cabeça começa a pensar em outras coisas e tenho que ficar voltando porque não absorvi nada", conta.
Novos públicos
Para quem não consegue dedicar tempo somente à leitura, o audiolivro é uma oportunidade para se aproximar da literatura, que consegue alcançar novos públicos.
Segundo o neurologista Uribe, não existe método melhor ou pior. "Quem não consegue parar para ler pode aproveitar e consumir o conteúdo enquanto faz outras tarefas. Essa é uma vantagem a se explorar", finaliza.
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