Uma das grandes novidades do remake de Renascer é o elenco majoritariamente negro. Após décadas de desalinhamento, ao manter em suas produções atores e atrizes brancos e com origem no Sudeste, a Globo entrou em um ciclo positivo de reparação histórica. Dessa forma, a atualização da obra exibida originalmente em 1992 envolve a escalação de intérpretes que condizem mais com a realidade brasileira.
Passada em Ilhéus, na Bahia, a trama criada por Benedito Ruy Barbosa, adaptada pelo neto Bruno Luperi, apresenta, agora, um núcleo central que valoriza a negritude nos filhos do protagonista José Inocêncio (Marcos Palmeira).
Um desses atores que surgem nessa nova realidade que é "a cara do Brasil' é Renan Monteiro, que dá vida ao primogênito do patriarca com Maria Santa (Duda Oliveira), José Augusto, criado na capital. Embora possa aparecer para o grande público como um novato, o carioca de 37 anos, na realidade, é um filho que à casa torna — não somente na ficção.
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Cria do Nós do Morro — movimento artístico da comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro —, o artista esteve no elenco de outras duas produções recentes da emissora: Novo mundo (2017) e Nos tempos do imperador (2021). Nessa última, o ator teve a oportunidade de dar vida a ninguém menos que Machado de Assis (1839-1908). "Foi um privilégio. Um homem preto, acadêmico e simplesmente um dos maiores romancistas do mundo", afirmou Monteiro, que, quando recebeu o convite para o novo trabalho, estava na Record, na última temporada da série Reis.
Privilégio
Renan admite que não assistiu a versão original de Renascer, mas tem o maior respeito pela obra. Em relação ao personagem, defendido em 1993 pelo então estreante Marco Ricca, o ator conta que chama atenção pelas diversas camadas que apresenta. "O Zé Augusto é muito sensível e com um arco dramático delicioso. Um presente. A preparação tem sido constantemente, com muitas aulas de prosódia e também tenho pesquisado sobre medicina e infertilidade, um tema que será abordado através do personagem", adiantou.
Na trama, o filho mais velho de "painho" vive um médico que teve o diploma cassado e sofre com a impossibilidade de dar um herdeiro ao patriarca do cacau. Em determinado momento, ele viverá um romance com a mulher trans Buba (Gabriela Medeiros). "Acredito que esse amor será arrebatador e vai cativar os corações. Poder ser instrumento disso é um privilégio", celebra.
Outro motivo de celebração para Renan Monteiro é o fato de ser irmão, na ficção, de Marcello Melo Jr (José Bento) e Juan Paiva (João Pedro), com quem compartilha uma história de vida. Os três são egressos do mesmo movimento, o Nós do Morro. "Somos amigos de longa data e tem sido um encontro feliz e prazeroso", resume ele.
O bom filho à casa torna
Em 2019, Renan chegou a ser anunciado como o intérprete de Carlos Gomes, o mais importante compositor de ópera brasileiro, na produção batizada de O selvagem da ópera, que a escritora Maria Adelaide Amaral estava desenvolvendo para a Globo, mas foi engavetada durante a pandemia. "Graças a Deus, estou vivo. Trabalhos vão e vêm. Eu sou um sobrevivente", comemora o resignado artista.
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