Cinema

Muito além de Oppenheimer: Oscar traz alguns recordes e curiosidades

Com 13 indicações ao Oscar, Oppenheimer desponta como grande vencedor, mas a festa terá importante presença das mulheres e feitos como o de Scorsese e Spielberg

 Estatueta do Oscar.  -  (crédito:  Oscar/Divulgação)
Estatueta do Oscar. - (crédito: Oscar/Divulgação)

Na briga pela bilheteria, Barbie ficou na frente de Oppenheimer, ao arrecadar mais de US$ 1,4 bilhão; mas se viu barrada no baile central, tendo faturado oito indicações contra 13 candidaturas do longa sobre o pai da bomba atômica, a cargo de Christopher Nolan, na segunda corrida pelo prêmio de melhor diretor na 96ª cerimônia do Oscar, marcada para 10 de março. Os campeões da futura festa, que terá 23 categorias em disputa, encorparão o grupo de quase 3.400 estatuetas entregues desde 1927. Atualmente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas leva em conta 9.341 votantes para o prêmio que, mais uma vez, deixou produções brasileiras de fora.

Computando os prêmios, Oppenheimer terá 13 possibilidades de Oscar; Pobres criaturas (uma comédia lúgubre do grego Yorgos Lanthimos, que disputa novo Oscar, depois da derrota em A favorita) disputará em 11 categorias, enquanto o novo clássico de Martin Scorsese Assassinos da lua das flores competirá em 10 posições e Barbie ficou restrita a oito categorias. Sete Oscars poderiam colocar Maestro (da Netflix), seguido de Assassinos da lua das flores, da Apple Original, o que demonstra o poderio dos produtos voltados ao streaming. Num cenário em que até a Walt Disney se viu apagada, na futura festa no Dolby Theatre (com animação de Jimmy Kimmel) produções da Netflix concentraram 18 chances de estatueta, e a Apple, 13, enquanto os tradicionais estúdios se viram ladeira abaixo.

Oppenheimer foi a 11ª fita com 13 indicações, atrás apenas de Titanic, A malvada e La la land, inicialmente, alinhados para 14 prêmios Oscar. Numa arapuca, Leonardo DiCaprio viu sua esperada candidatura, na nova associação com Scorsese (aos 81 anos, o cineasta mais idoso da história, e, na décima indicação ao prêmio, atrás apenas de William Wyler), despencar: quem ficou com a vaga foi o irlandês Cillian Murphy, no papel central do filme de Nolan (novamente candidato à melhor direção, depois de Dunkirk).

Outro ator central candidato será Jeffrey Wright, pelo valorizado American fiction, presente entre a dezena de finalistas a melhor filme, e, ainda,  em categorias importantes como ator coadjuvante (Sterling K. Brown) e roteiro adaptado. American fiction explora a eterna ferida do racismo que, no Oscar, não se confirma, dadas as indicações, entre o grupo de atores, de Colman Domingo (protagonista em Rustin), e das coadjuvantes Danielle Brooks (no remake do musical A cor púrpura) e Da´Vine Joy Randolph (de Os rejeitados). Desde já, uma virtual vencedora do Oscar de melhor atriz, Lily Gladstone defende o sangue de povos originários, em Assassinos da lua das flores, enquanto a coadjuvante America Ferrera (a estrela de Ugly Betty cujos pais são de Honduras) foi destacada pelo reconhecido monólogo de tons feministas em Barbie. Esnobada na direção de Barbie, Greta Gerwig (depois de Lady Bird e Adoráveis mulheres) novamente foi lembrada ao menos pelo roteiro adaptado (ao lado do marido Noah Baumbach).

Com conforto para a atriz Margot Robbie (também ignorada), ela competirá pela produção do concorrente a melhor filme Barbie, valorizado no Oscar pelas músicas (uma de Billie Eillish e Finneas) e pelo ator coadjuvante (Ryan Gosling). Na condição de concorrente a melhor atriz e também produtora, Emma Stone, por Pobres criaturas, abre uma fila bem curta (só Frances McDormand esteve no posto, com Nomadland). Se por um lado as duas estrelas de Segredos de um escândalo (Julianne Moore e Natalie Portman) se viram ignoradas pelo Oscar, Jodie Foster e Annette Benning, que (juntas) totalizam 10 indicações no passado, foram consideradas pelo longa Nyad (respectivamente, como atriz coadjuvante e atriz central). Competindo, desde 1971, entre talentos femininos, a editora Thelma Schoonmaker (de Assassinos...) cravou recorde, pela nona vez, indicada. A lista do Oscar 2024 trouxe a quinta indicação para a artista dos efeitos visuais Kiyoko Shibura, agora concorrente por Godzilla Minus One.

O Oscar 2024 traz ao menos duas personalidades já premiadas, com troféu honorário: Angela Bassett e Mel Brooks (aos 97 anos). Eterno coadjuvante, no parâmetro do Oscar, Mark Ruffalo cravou a quarta indicação (por Pobres criaturas), numa disputa que inclui Robert De Niro na oitava candidatura e, pela terceira vez no páreo, Robert Downey Jr. Com grandes chances de vitória, Paul Giamatti pode ser o melhor ator, pelo papel do professor com quê desiludido de Os rejeitados. Desde já, a grande vitória é do produtor Steven Spielberg, com o recorde de 13 indicações como produtor (no caso de Maestro, concorrente, entre outros, a melhor atriz para a excepcional Carey Mulligan). Depois da produção em filmes como Coringa e American sniper, Bradley Cooper, astro de Maestro (numa cinebiografia de Leonard Bernstein) ainda competirá pelo roteiro (tal qual feito com Nasce uma estrela) e pelo protagonismo, se juntando a seleto grupo de atores que dirigiram a si, tendo por resultado uma indicação (casos de Laurence Olivier, Warren Beatty, Kenneth Branagh e Clint Eastwood).

Alinhando 88 filmes para disputa por cinco vagas entre os filmes internacionais, o Oscar promoverá uma torre de babel confirmando a vocação cada vez mais global do prêmio. Enquanto prestigiosos diretores como o italiano Matteo Garrone e o espanhol J.A. Bayona (de O impossível e O orfanato) foram contemplados,  o alemão Wim Wenders, candidato por fita japonesa Perfect days abriu o flanco da salada total apresentada no Oscar. Há seis anos, o Oscar não deixa de colocar filmes que não são falados em inglês na lista dos 10 finalistas a melhor filme. Este ano, com a nona mulher candidata a melhor diretora (Justine Triet, de Anatomia de uma queda), Oscar, o Festival de Cannes (que consagrou Anatomia) se viu valorizado, diante ainda da candidatura de melhor filme e diretor (Jonathan Glazer) para o longa Zona de interesse (grande prêmio do júri, em Cannes). A internacionalização do Oscar criou espaço para filmes que empregam coreano, mandarim, inglês e francês (Vidas passadas, candidato a filme e melhor roteiro, com Celine Song); francês, inglês e alemão (em Anatomia de uma queda) e diálogos em alemão, polonês e ídiche (caso de Zona de interesse). Curiosamente, o celebrado longa de Scorsese traz falas em sioux, inglês, latim e francês.

O Oscar vai expor estrategistas como Napoleão (o filme de Ridley Scott disputa em três categorias técnicas) e ditadores como Pinochet, jocosamente vivo no longa El conde (de Pablo Larraín), filme com indicação à direção de fotografia (a cargo de Edward Lachman). Sem a visibilidade no criativo musical Wonka (desprezado pela Academia), o escritor Roald Dahl desponta como inspiração no curta A incrível história de Henry Sugar, que colocou Wes Anderson como a terceira pessoa a concorrer em cinco ou mais categorias (junto com Alfonso Cuarón e Kenneth Branagh). Outro curta (de animação) a chamar a atenção é War is over! Inspired by the music of John and Yoko, com roteiro pacifista de Sean Lennon, altera o cenário da Primeira Guerra, com importante jogo de xadrez em curso. Junto com Pete Docter (da Pixar), o japonês Hayao Miyazaki (vencedor de prêmio honorário em 2014) empata quatro indicações, à frente do longa de animação O menino e a garça. Sem Wish: O poder dos desejos (da Disney) no páreo, Nimona (Netflix) e Meu amigo robô (filme do espanhol Pablo Berger, em cartaz na cidade) entram na disputa pelo Oscar.

 

  • Ficção americana: os indicados ao Oscar Jeffrey Wright e Sterling K. Brown
    American fiction expõe o racismo Foto: Amazon MGM Studios/Divulgação
  • Pobres criaturas
    Com Pobres criaturas, Emma Stone pode vencer como atriz e produtora Foto: Fotos: Searchlight Pictures/Divulgação; Divulgação/Warner Bros; Paramount/Divulgação; Universal Pictures/Divulgação; Divulgação e Diamond Filmes
  • Vidas passadas: presença feminina na criação
    Vidas passadas: presença feminina na criação Foto: California filmes
  • Christopher Nolan 
venceu o Globo de 
Ouro de melhor 
diretor, por Oppenheimer
    Christopher Nolan venceu o Globo de Ouro de melhor diretor, por Oppenheimer Foto: Robyn BECK/AFP
  • Justine Triet (de Anatomia de uma queda): depois da Palma de Ouro, o Oscar?
    Justine Triet (de Anatomia de uma queda): depois da Palma de Ouro, o Oscar? Foto: Fotos: AFP; Robyn BECK/AFP; Universal Pictures/Divulgação; Universal; California filmes; Amazon MGM Studios/Divulgação e Warner Bros. Pictures/Divulgação
  • Os rejeitados
    Os rejeitados Foto: Universal Pictures/Divulgação
  •  2023. Divirta se Mais. OPPENHEIMER
    Oppenheimer Foto: Universal
  • Barbie
    Barbie Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
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postado em 24/01/2024 10:44 / atualizado em 24/01/2024 10:48
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