Dada a largada para o Oscar, que terá os indicados apresentados em 23 de janeiro, para uma festa do cinema prevista para 10 de março, o longa Oppenheimer, virtualmente, tem carga de campeão, se valer o fato de ter conquistado cinco prêmios do agora reformulado corpo de votantes do Globo de Ouro, num passado recente apontado como racista e sexista. Quem recebeu o título de melhor drama, dado a Oppenheimer foi a produtora da fita Emma Thomas (também esposa do premiado diretor Christopher Nolan), que destacou: "Acho que não (o projeto) foi algo óbvio, nos esforços de imaginação, fazer um filme de três horas sobre um dos desenvolvimentos mais sombrios da nossa história". Ela se referia à trajetória de Robert Oppenheimer (cujo retrato rendeu prêmio para o ator Cillian Murphy), pai da bomba atômica, e retratado no longa.
Com apenas duas vitórias — a crítica comédia Barbie destacada, com quase US$ 1,5 bilhão, como melhor arrasa-quarteirão, deve ter repescagem de chances no futuro Oscar. A presença feminina, na cerimônia em que competiu a mulher recriada como boneca, e ainda a personagem renascida de Emma Stone (considerada a melhor atriz cômica pelo Globo de Ouro), deve ter repeteco no Oscar, com extensão ainda para a melhor atriz de drama (Lily Gladstone), saída do longa que examina os saques (de brancos) a nativos da comunidade osage, representado em Assassinos da lua das flores, outro filme previsto para figurar no Oscar.
No discurso mais arrebatador da noite, Lily lembrou, como primeira indígena vencedora, da luta materna pelo ensino de línguas nativas nos colégios. "Seguro este troféu com todas as minhas lindas irmãs do filme aqui na mesa (da festa), e minha mãe, apoiada, com força, nos meus ombros", pontuou a atriz. Desde já forte candidato ao Oscar, o melhor ator de comédia (a ácida Os rejeitados) Paul Giamatti, também destacou a importância dos docentes de todas as épocas. "Professores são pessoas boas, e temos que respeitá-los", disse, ao dedicar o prêmio a todos os professores. Obesa e negra, a colega de elenco de Giamatti, Da Vine Joy Randolph (uma gerente de cantina escolar, na fita), estendeu outro aprendizado, no discurso que proferiu, como melhor atriz coadjuvante: "A personagem me fez ser vista de modo que nunca imaginei... Existe um pouco dela em todos nós".
Da gama de prováveis futuros competidores ao Oscar, o melhor ator coadjuvante Robert Downey Jr. (Lewis Strauss, na tela) — cercado por nomes como Martin Scorsese, Greta Gerwig, Robert De Niro e Celine Song — atentou para a mudança de nome e do jogo do Globo de Ouro. E emendou: "Uma história abrangente sobre o dilema ético das armas nucleares arrecada US$ 1 bilhão (nas bilheterias), isso faz sentido?". Ainda assim, com duas grandes em curso, o Globo de Ouro não abraçou discurso crítico por parte de nenhum premiado.
Uma das surpresas na premiação foi a vitória do longa de Hayao Miyazaki (que há uma década estava ausente) O menino e a garça, capaz de desbancar filmes como Wish, Elementos e Homem-Aranha: através do aranhaverso. Na festa, discursos afiados vieram de Ben Affleck, que defendeu o quinhão autoral de diretores "afastados dos potenciais de algoritmos" e ainda da mente criativa por trás do vencedor de melhor longa cômico (Pobres criaturas), o diretor Yorgos Lanthimos, que saudou o antibelicista Bruce Springsteen, por "formar o (seu) caráter".
Também apontado como impactante no vindouro Oscar, o vencedor da Palma de Ouro (em Cannes) Anatomia de uma queda surpreendeu como longa francês a desbancar estabelecidos roteiristas, levando, ao destacar nas palavras de Justine Triet, a verdade como uma construção e a obra como algo "radical". Do mesmo filme, Sandra Hüller tem potencial, como futura candidata a melhor atriz no Oscar. Entre as séries e os produtos televisivos, destaques foram Treta, O urso e Succsession.
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